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Esforços de empresas para humanizar o ambiente de trabalho ainda falham no aspecto psicológico

07 out 2022, 10:00 - atualizado em 06 out 2022, 15:50
Demissões nas startups
O colunista Ronald Bozza fala sobre saúde mental e os desafios das empresas nesse sentido (Imagem: Elisa Ventur/Unsplash)

A saúde mental no ambiente de trabalho é uma das maiores preocupações nos dias atuais.

Não por acaso, universidades, sindicatos patronais e de trabalhadores e órgãos governamentais realizam diversos eventos para debater o tema e encontrar soluções para reduzir os casos de afastamento por depressão e até mesmo suicídio.

Um exemplo foi o seminário realizado em maio deste ano pela Universidade de Campinas (Unicamp) em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT) intitulado “Sofrimento Mental e Morte entre Trabalhadores – Transtornos Mentais e Suicídios Relacionados ao Trabalho”.

Na ocasião, foram apresentados dados a respeito da gravidade da situação. Eles mostram que, em 2020, a saúde mental foi a responsável pelo afastamento de 576 mil pessoas de suas funções produtivas. O número é 26% maior do que o registrado em 2019.

Os afastamentos por depressão, por exemplo, saltaram de 213 mil para 285 mil no mesmo período de comparação. E o problema pode ser bem maior, pois acredita-se que haja um alto percentual de subnotificação, além do que, muitos trabalham informalmente e não são devidamente monitorados pelo sistema.

É um tema antigo, mas cujo debate costuma vir à tona somente quando algo muito grave acontece. Em agosto deste ano, o estagiário de um grande escritório de advocacia de São Paulo tentou suicídio ao pular do sétimo andar do edifício onde fica sediada a empresa. Apesar da altura, ele sobreviveu porque um toldo amaciou o impacto da queda.

Depois da ocorrência começa o embate. Empregados falam que a atitude está relacionada à forte pressão no ambiente de trabalho, e a empresa se defende, explicando que existe em sua política toda uma preocupação com o bem-estar dos funcionários.

O fato é que não são todas as empresas que estão preparadas para fazer do próprio ambiente de trabalho um exemplo de boa convivência e cooperação.

Por mais que o ESG (Ambiental, Social e Governança) tenha sido bastante noticiado nos últimos anos, a verdade é que o conceito ainda é mal compreendido pelas corporações. E nessa falta de compreensão, quem mais fica para trás é o “S” de social, que compõem a sigla.

Ao implantar o ESG, algumas companhias deixam seus RHs um tanto à margem do processo.

As equipes montadas para a tarefa focam muito em governança corporativa e em meio-ambiente, sobrando para o departamento de recursos humanos a preocupação com planos de benefícios (vale-alimentação, convênio médico, etc.), como se apenas isso se configurasse em uma política de relações e bem-estar no trabalho.

Claro que benefícios representam uma parte do que pode ser feito dentro de uma política de sustentabilidade, mas por si só estão longe do que realmente se trata o conceito.

Vamos pensar: o colaborador tem um bom convênio médico, vale-refeição, um bom salário, mas é constantemente humilhado pelo chefe. Ele tenderá a ter problemas como ansiedade, depressão e vai começar a usar um de seus benefícios, o convênio médico, mais vezes do que deveria, aumentando o custo do plano de saúde.

Pior, um ambiente de trabalho psicologicamente insalubre gera turnover, absenteísmo, presenteísmo, queda da produtividade, ações trabalhistas na Justiça e tantos outros problemas para a empresa, inclusive de imagem, que só uma verdadeira política ESG consegue evitar.

O problema envolvendo a saúde mental no ambiente de trabalho é grave e exige ações urgentes.

Os dados estatísticos e os acontecimentos noticiados na grande mídia tornam notória a necessidade de mudança na cultura organizacional das empresas.

Não que elas devam parar de buscar melhores resultados, mas sim criar formas de fazer essa busca sem o uso de métodos que transformem o colaborador em um simples objeto, uma máquina cuja única tarefa é gerar lucro.

É preciso que cada empresa faça um diagnóstico de suas necessidades e implante uma política ESG verdadeira, que atenda aos três pilares que compõem a sigla.

Ronald Bozza é sócio da BR Rating e da Bozza Soluções Estratégicas em Recursos Humanos, membro independente do Comitê de Pessoas e ESG e da Comissão de Pessoas do IBGC.

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