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Estados Unidos: Problema do teto da dívida ficou para trás; mas isso significa que está tudo resolvido?

02 jun 2023, 18:00 - atualizado em 02 jun 2023, 16:13
EUA, Estados Unidos
A perspectiva de um possível calote por parte dos Estados Unidos tirava o sono de muitos investidores mundo afora. (Imagem: Shutterstock)

A princípio, a questão da elevação do teto da dívida dos Estados Unidos está resolvida. O projeto, que já foi aprovado pela Câmara, seguiu para votação no Senado — e, segundo o líder da maioria, o senador democrata Chuck Schumer, os congressistas não arredariam pé da casa para resolver logo essa situação.

Com essa solução, um risco importante dos mercados seria retirado da pauta. A perspectiva de um possível calote por parte da maior economia do mundo tirava o sono de muitos investidores mundo afora.
Tanto que o Índice VIX, considerado o “índice do medo”, atingiu o seu menor nível nos últimos doze meses.

índice VIX
Gráfico 1. Índice VIX (em pontos) nos últimos doze meses | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Contudo, é importante ter em mente que mesmo nos 15 pontos estamos falando de um nível 50% maior do que a média histórica para esse indicador — que tende a ficar mais próximo dos 10 pontos em momentos de calmaria dos mercados. Ainda que a retração da casa dos 20 pontos em que insistia ficar no último ano, ainda estaríamos longe de uma normalidade propriamente dita.

Wall Street pessimista

Tanto que, mesmo com esse desenvolvimento positivo a respeito do endividamento do governo americano, os principais índices americanos seguem distantes das suas máximas alcançadas no passado recente.

O S&P 500, por exemplo, segue estacionado nos 4.200 pontos. Um belo avanço desde as mínimas atingidas em outubro do ano passado (+17%), só que 12% abaixo do seu topo histórico.

S&P 500
Gráfico 2. Índice S&P 500 (em pontos) nos últimos cinco anos | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Como já havia comentado na coluna passada, em que vejo riscos significativos para se apostar nas ações da Nvidia neste momento, o avanço recente dos mercados está intrinsecamente ligado às discussões sobre Inteligência Artificial e que impacto (principalmente positivo) isso teria nas ações das empresas.

Mas também conforme pontuado anteriormente, a totalidade desse movimento nos índices está baseado na forte performance das ações das grandes empresas de tecnologia, as já famosas Big Techs: Apple, Microsoft, Alphabet e Meta.

E quando os investidores deixam os papéis das outras empresas de lado — com o índice subindo quase 10% no ano e o S&P 500 “mesmos pesos” ainda no zero a zero —, ainda não consigo enxergar a devida atratividade para assumir uma posição mais voltada ao risco.

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Além da tecnologia nos Estados Unidos

Isso porque fora desse mundo da tecnologia, algumas empresas da “velha economia” seguem mostrando que as perspectivas para seus negócios não estão tão positivas assim.

Veja o caso da Dollar General (NYSE: DG). A varejista voltada para consumidores de menor renda reportou seus resultados do primeiro trimestre do ano (encerrado no começo de maio) e, apesar de ter visto suas vendas aumentarem 6,8% na comparação anual, as lojas existentes há pelo menos um ano tiveram crescimento de meros 1,6%.

Além disso, viu seu lucro operacional ficar estável e seu lucro por ação cair quase 3% em relação ao 1T22.

Só que mais importante: a revisão da direção a respeito dos resultados esperados para o ano de 2023 foram ajustados para baixo. Agora, a empresa espera crescimento das vendas da ordem de 3,5% a 5% (ante 5,5% a 6% anteriormente). Já as vendas em mesmas lojas subiram de 1% a 2% (vs. 3% a 3,5%) e que os lucros por ação podem cair até 8% (comparado com crescimento de 4% a 6% na projeção anterior), com uma boa parte desse impacto relacionado aos maiores despesas financeiras para o período.

Foi o suficiente para que as ações se desvalorizassem quase 20% no dia, levando outras varejistas similares como DollarTree e Five Below junto com ela. Aos US$165, a ação retornou para patamares próximos aos observados no começo da pandemia da Covid-19.

cotação
Gráfico 3. Cotação das ações de Dollar General (amarelo), Dollar Tree (verde) e Five Below (azul) nos últimos cinco anos | Fontes: Bloomberg e Empiricus

E quando olhamos mais a fundo alguns pontos do consumidor americano, temos indicações que as dificuldades financeiras ainda não se esvaziaram. A taxa de inadimplência dos empréstimos bancários para pessoas físicas, apesar de estar abaixo de sua média histórica, vem mostrando deterioração nos últimos trimestres e retomando para níveis pré-pandemia.

Inadimplência nos Estados Unidos
Gráficos 4 e 5. Taxa de inadimplência de empréstimos ao consumidor (preto, gráfico superior) e taxa básica de juros dos EUA (azul, inferior) desde 1987 | Fontes: Saint Louis Federal Reserve, Bloomberg e Empiricus

E note que o pico da inadimplência acontece após a taxa básica de juros dos Estados Unidos (Fed Funds Rates) atingir seu pico e começa a ser cortada.

Com os juros básicos no mesmo nível de antes da crise da Grande Crise Financeira de 2008, não seria absurdo esperar que a inadimplência continue aumentando nos próximos meses, ainda que de maneira menos agressiva do que no final da primeira década dos anos 2000. Mesmo assim, isso teria um impacto no resultado das empresas no futuro.

Já se o Federal Reserve resolver reduzir os juros, a sinalização não seria muito boa, pois mostraria que a economia estaria precisando de estímulos monetárias para se manter saudável.

Neste caso, entendo que apostar em títulos de prazo mais alongado teria uma boa assimetria dado o cenário atual: se o Fed não cortar os juros (como tem reforçado recorrentemente), o investidor garante um carrego de quase 4%, um patamar última vez visto apenas no início do século.

Por outro, se for necessário um afrouxamento da política monetária, a tendência é que esses títulos se valorizem, gerando ganho de capital ao investidor. Apostas em ETFs como o iShares 7-10 Year Treasury Bond ETF (NYSE: IEF), que compra títulos com vencimento em 7 a 10 anos, ou o iShares 20+ Year Treasury Bond ETF (NYSE: TLT), que aposta em títulos com mais de 20 anos, são duas formas de fazer essa aposta.

Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).
Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).
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