Mercados

EUA: como os dados de emprego viraram um pesadelo para ganhar dinheiro com o mercado de ações

09 mar 2023, 20:45 - atualizado em 10 mar 2023, 11:25
EUA Wall Street Fed payroll
O Fed quer saber como o mercado de trabalho vai se comportar. (Imagem: REUTERS/Andrew Kelly)

Às 10h30 de amanhã (10), o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgará o payroll de fevereiro, indicador direto sobre o mercado de trabalho americano.

Como de costume, o dado é o último de uma série de leituras que começou com o ADP (que mede a variação de empregos privados não agrícolas), passou pelo relatório Jolts (que mede a variação do excedente ou falta da força de trabalho) e culmina com a sua publicação.

Em outros tempos, os dados de emprego não despertariam nos circuitos financeiros o comichão que hoje despertam. Mas isso era quando a inflação americana estava dentro da meta e os juros básicos da economia estavam praticamente zerados.

Hoje, dada a compreensão que desaquecer o mercado de trabalho é a grande peça que falta para o enigma da desinflação, os dados de emprego se transformaram menos em um conjunto de números e mais em obsessão. Daquelas que causam enxaqueca.

Pleno emprego e maior juros em décadas convivem juntos

A explicação por trás de todo esse mal-estar é a seguinte: enquanto o mercado de trabalho continuar expandindo, com aumento de ganho médio dos salários, tanto maior será a pressão inflacionária sobre consumo e serviços. Atualmente, o índice inflacionário PCE acumula alta de 5,4% em 12 meses.

Ocorre que, mesmo após 12 meses de um aperto monetário, os EUA conseguiram a façanha de alcançar o pleno emprego, assinalando a menor taxa de desemprego (3.4%) desde a década de 1960.

“Em janeiro, houve a criação de meio milhão de vagas. Eu não me lembro da última vez que isso aconteceu”, comenta estupefato Rodrigo Cohen, da Escola de Investimentos.

Se para a Casa Branca os números do emprego mostram uma excelente notícia, para o Federal Reserve e o seu presidente, Jerome Powell, eles representam um desafio à capacidade da autoridade monetária em cumprir um objetivo central do seu mandato, que é a busca pela estabilidade de preços.

Para Rodrigo Jolig, co-CEO e diretor de investimentos da Alphatree Capital, o caminho que se desenha a partir do aquecimento do mercado de trabalho e da persistência da inflação de serviços é justamente aquele que Wall Street quer a todo custo evitar: mais aumentos de juros em doses até mais acentuadas.

“Essa inflação de serviços é muito mais persistente, pegajosa. Então, o medo não é que o Fed  suba 0,25 ponto-percentual agora, mas que o juros final tenha que chegar aos 6%”, comenta Jolig.

Apesar de não ter colocado um número, Powell deixou claro, em sua audiência ao Congresso americano, que está comprometido até o fim a colocar a inflação de volta à meta de 2%, nem que para isso as previsões de juros anteriormente feitas sofram revisões altistas.

Parte majoritária dos mercados já aguardam uma alta de 0,50 ponto-percentual na taxa-base de juros, elevando-a para o patamar de 5,00-5,25% após a decisão do Fed, marcada para os dias 21 e 22 de março.

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Wall Street
Wall Street pode ter que começar a pensar em um outro juros neutro para a economia americana (Imagem: Bloomberg)

Não espere alívio do payroll de fevereiro

Após o ADP indicar a criação de 242 mil empregos em fevereiro na iniciativa privada, acima do consenso, e o relatório Jolts mostrar uma abertura de 1,9 empregos para cada trabalhador disponível, é difícil acreditar que o payroll de amanhã revele outro diagnóstico diferente do “mercado de trabalho aquecido”.

Na estimativa de Cohen, a leitura de amanhã deve mostrar a criação de 205 mil vagas em fevereiro e taxa de desemprego estável em relação à divulgação passada. Contudo, o analista e co-fundador da Escola de Investimentos alerta para a possibilidade do payroll vir acima do consenso, da mesma forma que o fez a ADP.

“Se vier 20% acima, como veio a ADP, o payroll pode indicar a criação de 240 mil vagas. E o mercado com certeza reagirá”, põe Cohen.

Já antecipando mais um dado forte do mercado de trabalho, os três principais índices de Nova York fecharam em forte queda nesta quinta-feira (8). Dow Jones caiu 1,66%; o S&P 500 recuou 1,85% e o Nasdaq despencou 2,05%.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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