Mercados

EUA: Por que a economia cresce e as big techs demitem?

05 jan 2023, 18:30 - atualizado em 05 jan 2023, 18:30
Amazon
Amazon procede com o maior corte de funcionários de sua história (Imagem: Facebook/Amazon.com)

Ao curso das últimas 24 horas, Amazon e Salesforce estremeceram o mundo corporativo ao anunciar cortes no efetivo de funcionários e o fechamento de diversos escritórios.

No caso da Salesforce, empresa especializada em ferramentas de CRM (gerenciamento de relação com o cliente, na sigla em inglês), a decisão afeta 7 mil pessoas por todo o mundo. A Amazon, por sua vez, foi além: demitiu 18 mil funcionários, no que é tido o maior corte de sua história.

O precedente das decisões de hoje já havia sido feito nos meses de finais de 2022 por Meta Platforms e Twitter, que demitiram, respectivamente, 11 e 7 mil funcionários.

Não importa para onde se olhe, a regra das big techs parece ser somente uma: enxugamento de custos e proteção das margens.

De acordo com Dan Ives, analista do setor com mais de 20 anos de experiência em Wall Street, a tendência deve se aprofundar neste ano, assinalando o fim de uma ‘era da gastança’ das empresas, que se acostumaram com o boom de demanda por serviços digitais entre 2020 e 2021, os anos mais duros da pandemia de covid-19.

O sobressalto da demanda nesse período, em um ambiente em que os juros ainda permaneciam baixos, deu condições para que as empresas expandissem consideravelmente suas operações.

É nesse contexto que “a empresa de Jeff Bezos conseguiu chegar a marca de 1,6 milhão de colaboradores pelo mundo”, lembra Guilherme Zanin, analista da Avenue.

Indicadores ainda não captam demissões

Embora as notícias de demissões e fechamento de escritórios estejam pouco a pouco se alastrando pelo setor de tecnologia, os indicadores de emprego da iniciativa pública e privada ainda não conseguiram captar o movimento de cortes.

O Relatório Nacional de Emprego da ADP, que indica a quantidade de vagas criadas por empregadores particulares, divulgado nesta quinta-feira (5), dá sinais de um descompasso entre o momento das big techs e o sentimento geral do mercado de trabalho.

Segundo o relatório, o setor privado dos EUA logrou criar 265 mil vagas em dezembro, ultrapassando as expectativas de Wall Street. 

A percepção de um mercado de trabalho ainda aquecido — elevando o risco de mais pressões inflacionárias — gera repercussão negativa nos mercados acionários, com os três índices da Bolsa de Nova York recuando moderadamente no final da tarde.

Os mercados agora olham para a divulgação do payroll, nesta sexta-feira (6), para confirmar a direção que anda a capacidade de geração de emprego e a taxa de desocupação.

Fed cauteloso com o emprego e a atividade econômica

Se em 2022, o aperto monetário do Fed conseguiu focalizar com mais pragmatismo o combate à inflação, em 2023, a ação da autoridade deve enfrentar mais desafios.

Isso, porque os efeitos cumulativos das seis altas de juros do ano passado, quatro das quais em 0,75 ponto-percentuais, aparentam já surtir efeitos reais na economia americana, em meio à redução do poder de compra dos consumidores e ao aumento dos custos de empréstimo pelas empresas (questão ainda mais acentuada para empresas alavancadas, como as de tecnologia).

Nesse sentido, o BC norte-americano diz estar atento ao ritmo da atividade econômica, ainda que os indicadores utilizados pela autoridade para balizar a política monetária não capturem o enfraquecimento da atividade econômica.

Segundo a ata do Fed, liberada ontem, a política de juros se aproxima de uma postura “suficientemente restritiva”, sugerindo que o aperto possa perder força a partir de fevereiro.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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