BusinessTimes

EUA: Por que os resultados do 4T22 reportados até agora podem ser uma ‘miragem’

23 jan 2023, 17:05 - atualizado em 23 jan 2023, 17:05
EUA
O que aconteceu na temporada de balanços dos Estados Unidos até aqui? (Imagem: Pixabay/kalhh )

Mal começou a segunda semana de resultados corporativos nos EUA e a sensação que fica é que muita água rolou por debaixo da ponte de Wall Street.

De todas as empresas listadas no S&P 500 (499) e no Nasdaq (3.261), 156 já tornaram públicas as receitas e os lucros do último trimestre de 2022. Na contabilidade parcial, estão nomes como Goldman Sachs, Bank of America, JPMorgan, Netflix e Procter & Gamble.

De acordo com o levantamento da Ajax Asset, dos 55 resultados conhecidos no universo do S&P 500, 69% deles vieram acima da expectativa do mercado; para o Nasdaq, a taxa de “surpresas positivas” é comparativamente inferior: números acima do esperado vieram em 51% das vezes.

Apesar da aparência positiva, os analistas do mercado acreditam que os números reportados até aqui podem ser uma miragem para os investidores.

Nasdaq: margens pressionadas para empresas de tecnologia

O desempenho mais fraco das ações agrupadas no Nasdaq resvala na quantidade expressiva de empresas de tecnologia que compõem o índice. Para se ter ideia, a Apple, que é listada nesse índice, chega a corresponder até 44% do volume total de negociações da Bolsa.

Por assumir um perfil geralmente mais alavancado, isto é, que fomenta o crescimento via endividamento no curto prazo, tal grupo de companhias tende a apresentar piores resultados do que a média corporativa, à medida que se aumenta o custo de capital. Atualmente, membros do Federal Reserve projetam uma taxa terminal de juros acima de 5%.

Não a toa, no ímpeto de preservar suas margens de lucro em um ambiente macroeconômico adverso, empresas como Amazon, Spotify, Salesforce, Alphabet e Meta lideraram o caminho para a presente tendência de demissões que começa a se espraiar por Wall Street. Dentro do setor tech, mais de 150 empresas recorreram a corte de funcionários para enxugar custos.

Espelha a maior descrença com as ações de crescimento, um desempenho muito inferior à média história de diversos índices da Bolsa.

O Nasdaq-100 TR, por exemplo, que agrega as 100 maiores empresas em capitalização do Nasdaq (Starbucks, Adobe, Apple, Microsoft etc.) não relacionadas a serviços financeiros, teve em 2022 o pior desempenho dos 15 últimos anos, ao encolher 14,3%.

S&P 500: declínio acentuado dos lucros; resiliência em setores defensivos

Apesar de quantitativamente positivos, os números corporativos trazidos pelas empresas do S&P 500 podem ter neles uma mensagem enganosa. Isso porque o avanço dos juros e o efeito cumulativo deste sobre a margem das empresas fez com que os analistas reduzissem as expectativas para o crescimento.

De acordo com o site de dados FactSet, a “taxa de surpresas positivas” com relação ao lucro das empresas neste trimestre é inferior à média de 5 e 10 anos, avaliadas, respectivamente, em 77% e 73. Trata-se da primeira desaceleração nos EUA desde o terceiro trimestre de 2020, período crítico da pandemia de Covid-19.

Com a pressão de baixa sobre os números corporativos, a estimativa do FactSet para o fim da corrente temporada de balanços é de que haja um declínio de 4,6% para o lucro das empresas, contra -5,7% do 3T20.

A revisão negativa leva em consideração, principalmente, o pior desempenho de companhias do setor financeiro.

Analistas do FactSet estimam que, dos 11 setores do S&P 500, são as empresas do setor defensivo (atuam em mercados em que a demanda sofre menos com o avanço dos preços) que devem se destacar melhor. Entre elas, o setor de energia, saúde, materiais e imobiliário.

01-sp-500-earnings-above-in-line-below-estimates-q4-2022
Empresas do setor industrial, de consumo, energia e materiais devem ser mais resilientes. [FactSet]
Ainda na opinião do FactSet, os investidores devem continuar atentos ao guidance corporativo das empresas para 2023, a fim de buscar pistas de como elas pretendem mitigar os riscos macroeconômicos na obtenção de caixa e na manutenção de margem de lucro.

Destaques da temporada (até aqui)

Bancos: desempenho acende alerta para recessão

Os seis maiores bancos dos EUA reportaram seus resultados nos dois primeiros dias da temporada. Dentre eles, três tiveram queda na receita (Wells Fargo, Morgan Stanley e Goldman Sachs) e outros quatro tiveram lucros menores (Citi, Goldman Sachs, Wells Fargo, Morgan & Stanley) na comparação ano a ano.

O fraco desempenho do setor reforça a tese de que a economia dos EUA está desacelerando e pode entrar em recessão, como consequência do forte aperto monetário que o Fed fez nos últimos meses para controlar a inflação.

O impacto dos juros altos é ainda mais evidente nos números dos bancos focados em investimentos, como é o caso do Goldman Sachs (GSGI34). Nos últimos três meses do ano, os lucros destas instituições financeiras caíram quase 70% em relação a 2021.

Um dos fatores que respondem por essa piora é a queda do número de IPOs, uma consequência da perda de atratividade do mercado acionário com os juros altos.

Procter & Gamble: queda de lucro chega nos bens de consumo

Procter & Gamble (PGCO34) teve lucro líquido de US$ 3,93 bilhões em seu segundo trimestre fiscal (encerrado em dezembro), 7% menor do que o ganho de igual período de um ano antes. O lucro ajustado por ação ficou em US$ 1,59.

A receita da P&G teve queda anual de 1% no trimestre, a US$ 20,77 bilhões. Já os volumes de vendas sofreram redução de 6%, maior do que os analistas previam.

A P&G agora prevê queda de 1% a estabilidade no resultado anual de vendas.

Netflix: queda de 90% do lucro ano-a-ano, mas adição de 7,6 mi de usuários “salva o dia”

Netflix (NFLX34) divulgou os resultados do 4º trimestre em linha com as expectativas do mercado. Ao todo, a companhia registrou receita de U$$ 7,85 bilhões e geração de caixa livre positiva, de US$ 322 milhões.

A empresa também reportou um aumento de 7,6 milhões de novos usuários no período, animando o mercado. Com isso, os papéis da companhia chegaram a subir 6,68% no primeiro pregão após o balanço em Nova York.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.