Exportações

Falta de soja leva Brasil a importar dos EUA em transação rara

28 out 2020, 10:57 - atualizado em 28 out 2020, 10:57
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A carga será enviada de um porto do Golfo dos EUA neste ano (Imagem: Reuters/Jorge Adorno)

Os Estados Unidos começaram a vender soja ao Brasil, depois que o maior exportador mundial reduziu as tarifas de importação para suprir a escassez doméstica.

Pelo menos uma carga foi vendida ao país na semana passada, e várias tradings avaliam como podem viabilizar a transação, segundo pessoas a par do assunto, que não quiseram ser identificadas.

A carga será enviada de um porto do Golfo dos EUA neste ano, disseram as pessoas.

O mercado brasileiro enfrenta falta de soja após ter enviado uma quantidade recorde da oleaginosa para a China, o maior importador mundial. Para ajudar a reduzir o déficit, o governo anunciou no início do mês que suspenderia as tarifas de importação de milho e soja para grãos comprados fora do Mercosul.

“O mercado brasileiro continua crescendo, por isso as esmagadoras encontrarão maneiras de trazer soja dos Estados Unidos”, disse Tarso Veloso, analista da AgResource, com sede em Chicago. “Já começamos a ver traders tomando algumas medidas, mas os volumes realmente vão depender da empresa e de onde está localizada.”

Ainda assim, tradings não esperam um grande fluxo de suprimentos dos EUA para o Brasil. Em parte porque os portos brasileiros estão adaptados para exportações de milho neste momento e “reverter a engenharia da estrutura exige muito tempo e recursos”, disse o Departamento de Agricultura dos EUA em relatório no início do mês.

Além disso, muitas unidades de processamento estão no interior do país, longe dos portos, elevando os custos logísticos da operação.

Também existe o risco da presença de uma variedade transgênica não aprovada no Brasil nas cargas vindo dos EUA. Diversos tipos de culturas se misturam em silos dos EUA, e há pelo menos nove variedades transgênicas comercialmente disponíveis de milho e soja aprovadas para cultivo nos EUA, mas que não são permitidas no Brasil, disse o USDA.

“Como os grãos não são separados por variedades antes da exportação, qualquer importador brasileiro em potencial precisaria apresentar um pedido de aprovação especial à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)”, disse o USDA.

“Há apenas duas reuniões da CTNBio agendadas para o restante de 2020 e, cada solicitação, se apresentada, teria que ser considerada caso a caso.”

Ainda assim, esmagadoras brasileiras precisam importar soja, especialmente porque a safra está atrasada. O ritmo de plantio no Brasil é o mais lento dos últimos anos devido ao tempo seco, o que deve retardar a próxima colheita. O Brasil dificilmente terá soja disponível antes da segunda quinzena de janeiro.

A isenção tarifária para a importação de soja vai até 15 de janeiro e, para o milho, a suspensão termina em 31 de março.