AgroTimes

Fiagro como ferramenta para evitar recuperação judicial no agro

05 abr 2024, 11:25 - atualizado em 05 abr 2024, 11:25
fiagros xp investimentos
Existem situações em que o produtor não consegue honrar seus compromissos junto às instituições financeiras (Imagem: REUTERS/Viacheslav Musiienko/File Photo)

Todo mundo sabe que o Governo, sozinho, não é capaz de financiar a produção agrária do país. Por esta razão, além dos recursos destinados pelo Plano Safra, os produtores rurais contam também com dinheiro vindo dos bancos tradicionais e do mercado de capitais.

No caso do mercado de capitais, a mais nova ferramenta é o Fiagro (Fundo de Investimento na Cadeia Agroindustrial), uma solução que só faz crescer desde 2021, quando foi lançada, mas que deve dar um grande salto a partir deste ano por conta de uma decisão governamental. Decisão acertada, posso garantir.

Existem situações em que o produtor não consegue honrar seus compromissos junto às instituições financeiras. Traduzindo, param de pagar as parcelas dos empréstimos. Os casos em que as partes não chegam a um acordo são comuns e o problema disso é que a discussão vai parar na Justiça. E demora para que se chegue a uma solução.

Para resolver parte deste problema, a Câmara de Modernização do Crédito e Instrumentos de Gestão de Risco do Agronegócio do Ministério da Agricultura apresentou um projeto permitindo a criação de Fiagros que auxiliem no processo de reestruturação da dívida. E o melhor de tudo é que o Ministério aprovou a ideia e deu seu aval para que o projeto siga em frente.

A possibilidade de criar fundos baseados nas dívidas chega em boa hora porque tem aumentado o número de pedidos de recuperação judicial do agronegócio. A dificuldade advém principalmente das mudanças climáticas, com excesso de chuva em determinadas regiões e falta dela em outras.

A ideia do projeto é reduzir ao máximo a judicialização provocada por pedidos de recuperação judicial. Batizado de Reorg, o Fiagro baseado na dívida rural funcionará reunindo os credores do produtor como cotistas de um fundo que terá como lastro a própria estrutura do produtor.

Ou seja, da mesma forma que a propriedade é usada como garantia na tomada de um empréstimo, será transferida para o patrimônio do Fiagro.

O produtor continuará a produzir na mesma área, mas num formato semelhante ao de um arrendatário. Ele pagaria os dividendos aos cotistas pelo prazo estipulado pelo fundo.

O projeto é interessante porque, como sabemos, pessoas físicas e jurídicas que chegam à situação de não conseguirem honrar compromissos ficam sem crédito no mercado e sem condições de levarem a vida para frente. Afinal, quem é que tem coragem de emprestar dinheiro para quem não paga, mesmo que o histórico não seja ruim?

A verdade é que normalmente o que é considerado nas avaliações é o momento presente. Sejamos sinceros, essa realidade não é boa para o devedor nem para o credor.

E o melhor do Reorg é que ele possibilita ao produtor recomprar sua propriedade assim que cumprir o acordado, mantendo adimplente e com acesso ao crédito. Em outras palavras, com o nome limpo. A diferença para outros Fiagros é que o da dívida rural será aberto apenas para investidores institucionais e não para pessoas físicas.

Além de evitar a entrada em recuperação judicial e congestionar o judiciário, o Fiagro rural ou Reorg também abre uma porta para a entrada de dinheiro novo ao produtor endividado e outra na forma de oportunidades de lucros a investidores.

E já nasce dentro das normas da Comissão de Valores Mobiliários. Uma grande ideia que só faz aumentar a participação do Fiagro no dia a dia do agronegócio.

Sócio e gestor da MAV Capital
Formado em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo, André Ito tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Além de sócio responsável pelo time de Structured Finance e DCM na XP Investimentos ele também atuou em Investment Banking no BTG Pactual e como superintendente comercial dos bancos Pine e Pan. Além disso foi sócio responsável pelo Corporate Desk do Banco BBM.
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Formado em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo, André Ito tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Além de sócio responsável pelo time de Structured Finance e DCM na XP Investimentos ele também atuou em Investment Banking no BTG Pactual e como superintendente comercial dos bancos Pine e Pan. Além disso foi sócio responsável pelo Corporate Desk do Banco BBM.
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