Meio Ambiente

Geleiras do Chile, com reservas de água, começam a derreter

14 ago 2019, 13:35 - atualizado em 14 ago 2019, 13:35
O Chile tem uma das maiores reservas de água doce do mundo fora dos polos norte e sul, mas as abundantes geleiras, fonte desse precioso recurso, estão derretendo rapidamente (Imagem: Tomas Munita/Bloomberg)

Camadas maciças de gelo cobrem alguns dos ricos depósitos de cobre do continente. Explorar esses minerais ameaça acelerar seu desaparecimento.

Gino Casassa, um geólogo do governo, desce do helicóptero e olha em volta, desanimado.

Casassa está parado no sopé de uma geleira a 4.200 metros acima do nível do mar. O céu sobre os Andes é de um azul profundo, mas algo está estranho: estamos em julho, na metade do inverno, e ainda assim o clima é ameno para esta época do ano, acima de zero grau Celsius. Ele tira a jaqueta de esqui laranja e caminha sobre a rocha.

“Isso tudo deveria estar coberto por neve nesta época do ano”, diz, apontando para a Olivares Alfa, uma das maiores geleiras na região central do Chile, a poucos metros de distância. “Costumava haver um único sistema de geleiras cobrindo todo esse vale; agora recuou tanto que está dividido em quatro ou cinco geleiras menores.”

O Chile tem uma das maiores reservas de água doce do mundo fora dos polos norte e sul, mas as abundantes geleiras, fonte desse precioso recurso, estão derretendo rapidamente. Não é apenas um desastre ecológico em andamento: também se transforma rapidamente em um dilema econômico e político para o governo do país mais rico da América Latina.

Um coquetel tóxico de aumento das temperaturas, a pior seca em nove anos e atividade humana, incluindo a mineração, tem sido letal para o gelo da região central do Chile. Construída ao longo de milhares de anos, a massa de gelo tem recuado, em média, um metro por ano.

Em menos de 20 anos, algumas geleiras terão desaparecido, enquanto o volume total de todas as geleiras no Chile terá encolhido pela metade até o final do século, diz Casassa. Esse é um grave problema, já que o Chile, que possui 80% das geleiras da América do Sul, também é o país do continente americano com maior risco de estresse hídrico, de acordo com o World Resources Institute. Mais de 7 milhões de pessoas que moram na capital Santiago e arredores dependem das geleiras para a maior parte de seu abastecimento de água em épocas de seca.

Um projeto de lei da oposição apresentado no parlamento visa garantir proteção legal para as geleiras. Mas o governo de centro-direita do presidente Sebastián Piñera se pronunciou contra, argumentando que, se implementadas, as medidas prejudicariam o desenvolvimento econômico do Chile e, especificamente, sua lucrativa indústria de mineração.

As geleiras cobrem alguns dos enormes depósitos de cobre que fazem do Chile o maior produtor mundial do metal: cerca de um terço da produção global de cobre vem das minas do país todos os anos. A mineração é fundamental para a economia do Chile, respondendo por 10% do PIB e por pouco mais da metade de suas exportações.

Essa realidade econômica está no centro do dilema do governo, que avalia as trocas necessárias para proteger o meio ambiente e, ao mesmo tempo, apoiar um setor que gera US$ 19 bilhões para a economia. O ministro da mineração do Chile, Baldo Prokurica, insiste que os dois objetivos não são mutuamente exclusivos.

“A mineração pode ser feita sem prejudicar o meio ambiente, e é isso o que queremos fazer”, disse Prokurica em entrevista concedida em Santiago, destacando que países com desafios semelhantes como Canadá, Noruega e Estados Unidos têm exigências ambientais mais rígidas e ainda assim conseguem realizar atividades de mineração sem uma lei para as geleiras.

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