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Imóveis: Por que o futuro do mercado é feminino?

16 maio 2023, 8:00 - atualizado em 15 maio 2023, 21:14
Trabalho feriado trabalhador
Mulheres representam mais de 40% dos credenciamentos Conselho de Corretores de Imóveis; Número saltou na última década (Imagem: Christina @ wocintechchat.com/Unsplash)

O mercado imobiliário é um dos segmentos que mais movimentam a economia brasileira. Só em 2022, foram comercializados 133.891 imóveis no país, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Mas, além dos números expressivos, existe outro ponto que precisa ser posto em debate no setor: a participação feminina.

Cada vez mais atuantes na área, as mulheres ainda enfrentam desafios para se firmar no segmento, dificuldade herdada de um passado com poucas oportunidades. No entanto, esse cenário vem mudando e já podemos ver o número de profissionais femininas aumentando pelas obras.

Por isso, entender o contexto em que as mulheres estão inseridas no mercado de imóveis é peça-chave para reduzir  desigualdades e promover a inclusão daquelas que irão colaborar para o progresso do setor.

Mercado de imóveis para as mulheres

O histórico do setor imobiliário é majoritariamente masculino. Até 1958, mulheres não tinham sequer autorização para atuar como corretoras de imóveis. Essa regra foi extinta, na época, pelo Tribunal de Justiça. Porém, a profissão continuou sendo ocupada por homens, de modo que, em 1990, a participação feminina representava apenas 8% das vagas.

Entretanto, com o tempo, o cenário sofreu transformações. Hoje, as mulheres representam mais de 40% dos credenciamentos no sistema do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci). O número é resultado de um salto de 144% na última década, o que demonstra o interesse feminino pelo mercado de imóveis.

Sendo assim, é fácil notar o querer feminino em atuar no segmento quando as portas são abertas a elas. E esse é justamente o principal desafio a ser vencido: a abertura de oportunidades. De acordo com dados do Ministério da Fazenda, quase todas as profissões ligadas à base do setor são ocupadas por homens, a exemplo de supervisores de construção e ajudantes de obras civis.

Dificuldades enfrentadas no setor de imóveis

Lidar com um setor construído, em sua maioria, por mãos masculinas não é uma tarefa fácil. Há 20 anos atuando na área, pude presenciar inúmeras dificuldades que as mulheres passam para conseguir o seu lugar ao sol. Entre elas, o preconceito de gênero.

No dia a dia da construção, ainda é perceptível enxergar crenças de que as mulheres não são tão capazes de trazer resultados ao setor quanto os homens. Esse viés, infelizmente, é colocado em prática de diversas maneiras, como a falta de oportunidades para mulheres em cargos de liderança, o não reconhecimento do trabalho e esforço, a desvalorização do potencial e, até mesmo, o assédio moral e sexual.

Ainda, as mulheres que atuam no segmento precisam, muitas vezes, trabalhar mais e alcançar métricas muito maiores do que seus colegas homens para poder ter o mesmo reconhecimento profissional.

Apesar disso, esse é um panorama que, aos poucos, vem se transformando. Mesmo perante às adversidades, as profissionais do setor mostram a cada dia mais suas capacidades e o seu destaque.

A chegada das práticas ESG também é um fator que está auxiliando a entrada nas empresas. De modo que, ao perceber os diferenciais e benefícios que a participação das mulheres promove nos mais diferentes setores, as organizações passam por um momento de reavaliação do seu quadro de funcionários.

Com isso, é o momento de as mulheres continuarem lutando por seu espaço no mercado imobiliário, mostrando sua competência e seu profissionalismo em todas as atividades.

Os diferenciais da mulher no setor

O destaque feminino nas companhias não é baseado em achismo, mas sim em resultados. Segundo o relatório Women in Business and Management: The Business Case for Change, divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), as empresas com líderes femininas têm resultados até 20% melhores em relação às demais. E esse destaque não é diferente no mercado imobiliário.

Isso porque as mulheres apresentam diferenciais que possibilitam o desenvolvimento sólido e de longo prazo dos negócios. Exemplo disso é a empatia com os clientes, de forma que o público feminino costuma ter maior habilidade para se colocar no lugar do outro e entender as suas reais necessidades, além da forma como gosta de ser tratado.

Aliado a essa característica, a habilidade em se comunicar favorece o trabalho feminino, muito bem usado para os momentos de negociação e para estabelecer relacionamentos de confiança.

Ao olhar para o time, o protagonismo feminino desponta na cooperação em equipe, levando em conta a aptidão em praticar a escuta ativa e em ser assertiva nas colocações.

A visão estratégica é outro ponto que diferencia as mulheres, o que as possibilita ter um olhar mais apurado, facilitando a construção de planos de longo prazo e tomadas de decisões certeiras. Ainda, as mulheres são multitarefas por natureza, o que pode ser uma vantagem no setor imobiliário, que exige habilidades múltiplas, como prospecção, marketing e networking.

Futuro do mercado de imóveis é feminino

O futuro do mercado imobiliário passa pelas mãos femininas. O segmento atrai cada vez mais mulheres, que estão se qualificando e se inserindo nos mais diversos cargos, seja como corretoras, gestoras, engenheiras ou em outras áreas relacionadas à indústria da construção civil.

Com a busca pela equidade de gênero evidente na sociedade, as empresas se movimentam para aumentar as oportunidades para as mulheres e oferecer carreiras que possibilitem o crescimento profissional, o que promete levar mais profissionais femininas aos cargos de liderança.

Contudo, as novas gerações buscam por imóveis que atendam às suas necessidades específicas e exigem um atendimento personalizado e adequado. E adivinha qual o gênero mais ativo nessa procura? O feminimo.

De acordo com pesquisa do DataZap+, 62% das buscas de empreendimentos para compra e locação são feitas por mulheres. Esse dado demonstra como a participação feminina é diferencial para o setor, visto que as clientes tendem a se conectar mais com profissionais do mesmo sexo, ideal que se baseia no atendimento e olhar mais sensível vindo das mulheres.

Outro propulsor dessa participação no setor é a tecnologia, que serve como braço direito para diminuir as barreiras no mercado imobiliário. Com as ferramentas digitais e a possibilidade de trabalho remoto, as mulheres podem atuar de casa ou de qualquer lugar. Essa possibilidade impacta positivamente a qualidade de vida e facilita a conciliação entre trabalho e maternidade para aquelas que são mães.

Ou seja, apontar a luneta para o amanhã da área imobiliária é ver cada vez mais mulheres presentes no setor. Esse é um movimento que não tem mais volta. Ainda bem!

Incentivo: o momento é agora

A participação das mulheres neste mercado só tende a crescer. Entretanto, para isso ser concretizado além do papel, não podemos esquecer da necessidade dos incentivos para que o público feminino se interesse pela área e se sinta motivado a fazer sua carreira no segmento.

E exemplo disso foi o “Soma”, evento promovido pelo Instituto Mulheres do Imobiliário, que nasceu da união de força, sororidade, empoderamento e protagonismo de grandes mulheres com o objetivo de debater o empreendedorismo feminino no mercado imobiliário. O encontro contou com diversas referências do setor e promoveu o levantamento de questões essenciais para o fomento da participação feminina.

Nele, tive a oportunidade de contribuir, ao lado das brilhantes Raquel Pagano, Ana Alvarenga e Anna Guimarães, no painel “30% Club: Mulheres em Conselhos”.

E os esforços não param por aí. Além desses eventos, é primordial que as empresas estipulem metas para aumentar o seu quadro de colaboradoras. Afinal, a participação das mulheres em conselhos de administração ainda é baixa. A média mundial é de 27,1% de presença feminina, enquanto no Brasil esse número cai para 14%, segundo estudo da Spencer Stuart.

Sendo assim, cito a medida da BRZ Empreendimentos e Construções como exemplo em que, em 2022, foi estipulado internamente o objetivo de ter 50% dos cargos ocupados por mulheres tanto nos postos de liderança quanto nos demais ofícios. Com metas a serem cumpridas, as organizações tomam iniciativas e trocam a zona do discurso pelo agir. E, no momento, é desse comportamento que precisamos!

*Eduarda Tolentino é sócia e presidente do conselho da BRZ Empreendimentos

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