Economia

Javier Milei vence eleição argentina: O que será do Brasil?

19 nov 2023, 22:32 - atualizado em 20 nov 2023, 11:49
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Durante a campanha, o Brasil não escapou dos ataques do argentino (Imagem: REUTERS/ Agustin Marcarian)

O ultraliberal Javier Milei venceu as eleições presidenciais da Argentina. Antes mesmo da divulgação oficial, o peronista Sergio Massa já havia admitido a derrota.

Ele conquistou 55,77% dos votos, ante os 44,22% do seu adversário peronista Sergio Massa, com 96,34% dos votos apurados.

Durante a campanha, o Brasil não escapou dos ataques do argentino. Representante da extrema-direita, Milei é próximo da família Bolsonaro e já chamou o presidente Lula, publicamente, de “ladrão”, “comunista nervoso”, “corrupto” e “autoritário”. Além disso, uma das propostas de Milei é acabar com o Mercosul justamente no momento em que o governo pretende fortalecê-lo.

Na visão da professora de Relações Internacionais da ESPM, Denilde Holzhacker, a eleição será um grande desafio para o Brasil na sua relação com Argentina.

“O Milei tem propostas contrárias ao governo brasileiro com relação ao Mercosul e integração regional. O desafio será o impacto das políticas do Milei tanto internas, quanto o que isso vai significar para a sua inserção internacional. E do ponto de vista político, ela traz a necessidade do governo criar pontes”, discorre.

Para a especialista, o governo terá que estabelecer um “diálogo” com um governo hostil. Já o Mercosul deverá ter uma ‘paralisia’ até o cenário se clarear.

O tamanho do Brasil na Argentina e da Argentina no Brasil

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a Argentina é nosso terceiro maior parceiro comercial, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. As exportações de sojaveículos e autopeças respondem pela maior parte do que embarcamos para lá. Em contrapartida, os argentinos nos vendem, principalmente, veículos de passeio e para outros fins.

Os US$ 4,7 bilhões que o Brasil já lucrou comercializando com a Argentina, neste ano, representam 5,84% do saldo comercial de US$ 80,5 bilhões, acumulados de janeiro a outubro. Novamente, as relações com nossos vizinhos só perdem, em lucratividade, para as mantidas com a China, com a qual o Brasil já acumula um saldo positivo de US$ 42,4 bilhões no mesmo período.

“Olhando para o Brasil, podemos ter problemas, mas as empresas brasileiras não vão quebrar por causa dessa situação, longe disso”, explica Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos..

Ele recorda que a relação do Brasil com o país é comercial, principalmente entre estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “São produtos agropecuários, mas não é nada muito relevante. Até porque a maioria das empresas que exportam para a Argentina não são listadas”, explica.

O analista independente Ricardo Schweitzer lembra, porém, que além da retração da demanda doméstica em função do ambiente hiperinflacionário, existe uma dificuldade adicional relacionada à contabilização de resultados: faltam normas contábeis que, em contextos de hiperinflação, seja feito em moeda forte (dólar, por exemplo).

“No caso argentino, não somente temos diversas taxas de câmbio como, para piorar, existem barreiras à conversibilidade das divisas. Tudo considerado, a maioria das empresas com operações no país têm apresentado, sobre aquelas operações, resultados operacionais fracos e resultados financeiro tenebroso”, coloca.

Por outro lado, Schweitzer explica que a maioria das empresas que opera no país está bastante acostumada com as vicissitudes do país, de forma que dificilmente essa situação deveria constituir uma preocupação central dos investidores.

“Felizmente, na maioria dos casos a exposição à Argentina é relativamente pequena quando comparada aos dados consolidados das empresas. Nesse contexto, as tribulações dos hermanos são incômodas às companhias, mas dificilmente determinantes para seus resultados”, coloca.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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