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Larissa Quaresma: Em um bear market, sobreviver é vencer

25 jan 2022, 13:44 - atualizado em 25 jan 2022, 13:44

Um exemplo é Nubank (…) No acumulado do ano até a semana passada, quando a Carteira Empiricus recomendou a operação vendida na ação, Nu havia caído 18% em dólar. Então, caiu mais 6% desde a nossa sugestão — e acreditamos que deve cair mais.”

O processo que começou na Bolsa brasileira em meados do ano passado se repete agora em território americano.

 Por aqui, as heroínas até junho de 2021 foram as techs: empresas de alto crescimento, independentemente do lucro que geravam, viram seus preços dispararem, no que parecia um movimento até o infinito. Quando o cenário virou, essas foram as mais penalizadas.

Na terra do Tio Sam, esse movimento demorou, mas veio, com a provável subida dos juros americanos ao longo deste ano. A sinalização por parte do Fed de que deve subir a taxa básica da economia está batendo com força nas empresas de tecnologia.

Isso porque um juro mais alto, quando aplicado sobre empresas que geram lucro só lá na frente, diminui sensivelmente seus preços justos. Um conjunto de fluxos de caixa muito no futuro, quando descontados a valor presente por um custo de capital maior, é mais penalizado do que um conjunto de fluxos de caixa próximos.

 Um mundo de juros reais negativos havia disponibilizado uma abundância de capital para todo e qualquer tipo de empresa, especialmente aquelas que mostravam perspectivas de crescimento exponenciais. Agora, o custo de capital maior aumenta a seletividade dos investidores no mundo todo. Acabou a mamata.

Daí a derrocada das techs americanas também. O índice Nasdaq, que aglutina grandes empresas de tecnologia, cai 12% no ano, versus uma queda de 8% do S&P 500, que representa um conjunto de setores mais diversificado.

Entretanto, nem todas as techs listadas na Nasdaq têm apenas uma perspectiva de lucro. Algumas geram (muito) caixa no presente, como é o caso de algumas big techs, notadamente Google e Microsoft. Essas empresas, injustamente, também foram penalizadas, com suas ações caindo 11% e 13% no ano, o que não parece fazer muito sentido diante da gorda geração de caixa de ambas.

O que faz sentido, sim, é a forte queda das ações que não geram caixa no presente, especialmente as de tecnologia, que precisam ter um crescimento estelar para justificar seus preços de tela.

Um exemplo é Nubank, que mudou de nome para Nu logo antes da listagem na Bolsa de Nova York, que aconteceu em dezembro. No acumulado do ano até a semana passada, quando a Carteira Empiricus recomendou a operação vendida na ação, Nu havia caído 18% em dólar. Então, caiu mais 6% desde a nossa sugestão — e acreditamos que deve cair mais.

A queda dos últimos dias foi benéfica para quem seguiu a recomendação, mas uma operação vendida é uma maratona, não um tiro de 100 metros. A sugestão não foi baseada na expectativa de desvalorização em cinco dias, mas sim na comparação entre preço e valor intrínseco.

Para Nu, a nossa estimativa de valor justo, que os assinantes sabem estar consideravelmente abaixo do preço atual, assume uma série de premissas até otimistas para o negócio, porque acreditamos na competência dos seus fundadores. Ainda assim, encontramos uma queda potencial significativa, diante do valuation esticado em demasia. Daí a recomendação de entrar vendido na ação. 

Aliás, as operações short são ótimas aliadas do investidor em bear markets. Quando tudo aponta para baixo, forma-se uma oportunidade interessante para apostar na queda das ações excessivamente valorizadas. Quase tudo vai cair, mas aquilo que tem um preço nitidamente errado (para cima) tende a cair mais. 

O short, no mínimo, diminui a perda consolidada de quem está comprado em Bolsa ou em renda fixa neste momento. Porque se o juro subindo provoca queda de Bolsa, ele também gera a perda na marcação a mercado dos títulos de renda fixa que você comprou lá atrás. Em um bear market, é bala perdida pra todo lado.

Nesse contexto, diminuir o prejuízo, evitando perdas permanentes de capital, é o nome do jogo. O importante é continuar investido, porque quando a imprevisível retomada acontecer, você não vai querer ficar de fora, né? Eu também não.

Em um bear market, sobreviver é vencer. Use dos artifícios à sua disposição para isso, e esteja devidamente posicionado (ou posicionada) para a volta.

Importante observar que as operações vendidas devem ser escolhidas a dedo, com a consciência de que podem gerar perdas caso o preço suba antes de começar a cair. Ademais, devem ser feitas no contexto de um portfólio diversificado, que tenha uma composição de risco equilibrada para você.

Lembre-se sempre: surviving is winning.

Um abraço,

Larissa.

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