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Deutsche Bank é a ‘bola da vez’ na crise dos bancos

24 mar 2023, 12:41 - atualizado em 24 mar 2023, 12:50
Deutsche Bank
Deutsche Bank é a bola da vez da crise dos bancos? (Imagem: Bloomberg)

A sexta-feira (24) amanheceu com estrondos vindos de mais um banco europeu: o Deutsche Bank. As ações do credor alemão, negociadas em Frankfurt, operam em queda de 10,5%.



O aumento dos juros na zona do euro, enfatizado pela última decisão do Banco Central Europeu (BCE), aliada ao estresse que atinge os bancos europeus desde o colapso do Credit Suisse, deu condições para a “explosão” do prêmio sobre os CDSs (Credit Default Swaps, na sigla em inglês) do banco.

Os CDSs são títulos de proteção contra o calote, caso o banco passe por uma crise de liquidez. Avanços no prêmio desses títulos são lidos pelo mercado como um aumento na probabilidade de insolvência da instituição.

No caso do Deutsche Bank, esse aumento foi de 31% para as “sub-obrigações” (dívida que se classifica após outras dívidas se uma empresa entrar em liquidação ou falência) e 16% para os papéis “sênior” da dívida (que possuem a primeira prioridade na hora do pagamento).

Além do próprio papel, a desconfiança sobre a estrutura financeira do Deutsche Bank impacta o apetite de risco por outras instituições financeiras, o que dá indícios de que o estresse financeiro ainda não acabou (apesar da movimentação das autoridades).

Na Europa, o STOXX Europe 600 Index, que engloba as ações financeiras do continente, cai 1,7%. Em Zurique, o Credit Suisse (CSGN) derrete 6,42%.

O golpe também é sentido no mercado dos principais títulos de dívida soberana da Europa. Os ativos de 10 anos da Alemanha e do Reino Unido  são os que apresentam maiores perdas em rendimento, anotando quedas de 0,945% e 0,101%, respectivamente.

Em Nova York,Wells Fargo (WFC) cai 2,23%, o Goldman Saschs (GS) cai 1,85%, o Bank of America (BAC) perde 1,35% e o JP Morgan (JPM) cede 1,83%.

Crise do Deutsche Bank é “bola cantada”?

Considerada uma “bola cantada”, a situação frágil do Deutsche Bank não vem de hoje. Pelo contrário, é, em muitos aspectos, semelhante à vivenciada pelo ‘irmão suíço’ que precisou ser socorrido às pressas em um acordo de aquisição costurado pelo governo de Zurique.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, descreve que, desde a grande crise financeira de 2008, o banco alemão carrega ativos inchados e de baixa liquidez, o que o coloca em uma posição mais precária em caso de corridas bancárias — como estas que estão sendo vistas aos montes nos dois lados do Atlântico. 

O Deustche Bank é o maior banco da Alemanha em ativos totais e número de funcionários, possuindo sucursais em várias partes do mundo. Estima-se que os seu valor de mercado atual é de US$ 21 bilhões.

O banco vinha apresentando uma recuperação dos seus dias mais sombrios, mas a crise envolvendo o Credit Suisse voltou a pressionar a instituição. As ações o Deustche Bank perderam mais de 20% em 2023, em meio a preocupações com o veloz aumento dos juros e o agravamento de uma crise financeira.

Todo esse movimento de pânico dos mercados motivou uma resposta emergencial do próprio primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz.

“O Deutsche Bank modernizou e reorganização drasticamente a sua operação e é um banco muito lucrativo. Não há motivo para preocupações sobre ele”, disse o premiê em uma conferência em Bruxelas hoje mais cedo.

No mesmo esforço de por panos quentes à sangria dos mercados, Christine Lagarde, presidente do BCE, reforçou a mensagem de que o sistema bancário europeu é forte e que a autoridade monetária está “plenamente equipada” para ajudar financeiramente.

Relação com a AMER3

Em uma coincidência “trágica”, o pedido de recuperação judicial da Americanas (AMER3) aponta para o nome do Deutsche Bank entre os nomes de credores da varejista.

O banco alemão estaria associado à custódia de US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) em ativos da varejista, referente a crédito em moeda estrangeira para exportação, além de títulos emitidos no exterior, dos quais o banco alemão alega ser investidor.

Em janeiro, o site de negócios Pipeline, do Valor Econômico, entrou em contato com o Deutsche Bank para esclarecer os fatos e recebeu a resposta de que o banco era agente fiduciário de dois títulos de dívida, de US$ 500 milhões cada, que a Americanas emitiu no exterior no segundo semestre de 2022.

O banco mantém os títulos como trustee, mas diz não ter exposição ao caso.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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