Mercados

Não é só o petróleo: Veja o impacto do conflito Rússia-Ucrânia sobre outras commodities

07 fev 2022, 13:37 - atualizado em 07 fev 2022, 13:42
Petróleo
Apesar do destaque dado para a alta do petróleo, outras commodities estão na mesma esteira do combustível fóssil (Imagem: REUTERS/Vasily Fedosenko)

O mundo está de olho na escalada de preços do petróleo, e não é para menos: a commodity recentemente atingiu acima dos US$ 90 o barril, patamar considerado alto para analistas do mercado, mas que pode ser o novo normal. 

Boa parte do que motivou a alta do barril do petróleo é explicada pelo aumento das tensões entre países ocidentais, Rússia e Ucrânia

O conflito no Leste Europeu ganhou novos contornos na virada do mês, com os Estados Unidos ameaçando impor sanções em caso de ataque por parte da Rússia.

Jake Sullivan, assessor de segurança nacional da Casa Branca, disse neste domingo (6) que “a qualquer momento, a Rússia pode tomar uma ação militar contra a Ucrânia”. De acordo com Sullivan, isso pode ocorrer dentro de dias ou semanas.

Até o momento, os russos negam estarem planejando uma invasão, embora o estranhamento com a maior potência mundial tenha aumentado ao longo das últimas semanas.

Apesar do destaque dado para o petróleo, outras commodities estão na mesma esteira do combustível fóssil. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, destaca o impacto dos conflitos geopolíticos sobre toda a cadeia energética.

Efeito cascata

Gás natural
Ter um enfraquecimento do gás natural maior do que já vem sendo visto pode causar um “efeito cascata”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos (Imagem: Unsplash/ Bernard Hermant)

Para Arbetman, o combustível que mais chama atenção é o gás natural. Segundo o especialista, um conflito que impeça a passagem do hidrocarboneto da Rússia para o Ocidente pode criar uma espécie de caos energético. Isso porque, assim como com petróleo e carvão, a Rússia é um dos principais exportadores de gás do mundo.

“A gente vive um momento onde a demanda por energia é crescente, principalmente no Hemisfério Norte, que passa pelo inverno. Ter um enfraquecimento do gás maior do que já vem sendo visto pode, sem dúvida, causar um efeito cascata”, afirma.

Arbetman explica que, no caso do petróleo, o aumento dos preços traduz o medo quanto à incerteza que os mecanismos de oferta e demanda podem ficar ainda mais desajeitados caso o conflito ganhe escala ao longo das próximas semanas.

Reflexos na agricultura

Josias de Matos, analista da Toro Investimentos, destaca que a elevação dos preços do gás natural traria impactos diretos para o agronegócio brasileiro, uma vez que os fertilizantes utilizados pela indústria local vêm do combustível.

Segundo o especialista, o mercado já começa a ver em 2022 uma redução das margens dos agricultores brasileiros tanto para o plantio de soja quanto para o milho e, mais especificamente, o trigo.

Apesar das recentes quedas, motivadas por fatores climáticos, o bushel do trigo chegou a atingir máxima em dois meses no fim do último mês por conta do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Impacto limitado para commodities metálicas

O impacto dos atuais conflitos geopolíticos sobre as commodities metálicas é menor, mas existe, afirma Matos.

O analista da Toro explica que a Ucrânia, embora pequena, é um dos principais exportadores de minério de ferro do mundo.

Austrália e Brasil têm uma fatia de mercado tão grande que a Ucrânia, mesmo sendo a quinta maior exportadora, só tem 3% do mercado. Ainda assim, existe um impacto relacionado à oferta quando a gente pensa nesse contexto”, diz.

Como se beneficiar do ciclo de alta das commodities

Minério de ferro
Para alguns estrategistas, as commodities estão em um preço muito abaixo do esperado (Imagem: Reuters/David Gray)

Analistas chamam atenção para o ciclo de alta das commodities.

Leonardo Aparecido, especialista da Valor Investimentos, acredita que elas podem ser um investimento para 2022, considerando a recente correção dos preços.

“Para alguns estrategistas, as commodities estão em um preço muito abaixo do esperado. Só o fato delas poderem voltar para a média ou melhorar um pouco mais devido ao estímulo econômico de diversos países, é esperado espaço para crescimento, sim”, afirma.

Matos, da Toro, vê possibilidade desse o movimento de alta das commodities se manter até 2023, chegando inclusive a patamares mais altos durante esse período.

O analista da Ativa está mais confiante com a trajetória de alta do petróleo devido a uma série de fatores – desde tensões no Leste Europeu a problemas estruturais com gargalos na cadeia de produção.

“A crise Rússia-Ucrânia estressou, trouxe volatilidade maior, mas estamos em um nível de crescimento. Acho que, ao longo dos próximos anos, a gente vai ver o petróleo com preços maiores, dado esse descasamento de oferta e demanda”, afirma Arbetman.

Ele aconselha, no entanto, que, antes de investir nos ativos que vão aproveitar a escalada dos preços da commodity, o investidor olhe para a tese de investimento em geral, e não para um fator isolado.

Arbetman afirma que o conflito entre Rússia e Ucrânia precisa “ficar na lupa”, mas o investidor não pode se esquecer de analisar outros cenários e fatores.

No caso da Petrobras (PETR3;PETR4), por exemplo, o analista destaca que 70% da produção da companhia vêm do pré-sal.

“O custo médio de extração do pré-sal hoje está na casa dos US$ 4,50. Então, mesmo sem a crise de Rússia-Ucrânia e com o petróleo estável em US$ 70-80, se continuar privilegiando o pré-sal e os desinvestimentos forem para frente, ela [a Petrobras] vai conseguir manter um nível de pagamento de dividendos satisfatório”.

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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