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Negociação de montadoras com BNDES e bancos privados segue difícil, diz Mercedes-Benz

14 maio 2020, 14:08 - atualizado em 14 maio 2020, 14:08
Mercedes-Benz
A Mercedes-Benz começou o ano esperando vendas de caminhões no Brasil da ordem de 110 mil unidades neste ano (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

O presidente-executivo da Mercedes-Benz para América Latina, Philipp Schiemer, fez duras críticas nesta quinta-feira à descoordenação dos governos federal, estaduais e municipais no combate à epidemia de Covid-19 no Brasil e afirmou que a disputa política está atrasando a saída do país das medidas de isolamento, o que terá repercussões graves para a economia e o setor automotivo.

O executivo afirmou ainda, durante conferência online com jornalistas, que a discussão com bancos privados e BNDES para a concessão de crédito mais barato para o setor automotivo enfrentar a crise “não está fácil”.

“Tivemos discussões produtivas com Ministério da Economia. Mas a solução não é fácil. A discussão de um lado é técnica e do outro é política”, disse Schiemer, que deve ficar no comando da montadora na região e no Brasil até junho, quando assumirá um posto global na área de marketing e vendas do grupo.

“Queremos pagar CDI mais alguma coisa e hoje os bancos estão cobrando bem mais que isso”, acrescentou o executivo, referindo-se às negociações de quase dois meses travada pelas montadoras com bancos privados para o recebimento de um pacote bilionário de financiamento. Ele não deu detalhes sobre o montante pleiteado pela Mercedes-Benz do Brasil.

Schiemer comanda a área de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz, segmentos que viram as vendas despencarem 60% e 80% em abril em relação ao planejamento da indústria no início do ano.

O executivo afirmou que a proposta da indústria automotiva, de dar como garantia adicional 25 bilhões de reais em créditos tributários retidos pelo governo para os bancos privados e o BNDES concederem financiamentos ao setor “é mais do que justa…É um dinheiro da indústria.”

A Mercedes-Benz começou o ano esperando vendas de caminhões no Brasil da ordem de 110 mil unidades neste ano, com mais 23 mil ônibus vendidos. Mas em abril as vendas de caminhões no país tombaram 53% sobre um ano antes, para 3,95 mil unidades, e as de ônibus caíram 81%, para 320 unidades. A crise desencadeada pela epidemia não permite à empresa fazer novas projeções.

“Estamos muito preocupados sobre como os governos estão lidando com a crise, estando muito mais focados na política que na solução do problema”, disse Schiemer.

“Faltam ações coordenadas de combate à crise de Covid-19 entre os governos federal, dos Estados e dos municípios. É uma tristeza o que estamos vendo. Em vez de coordenação, estamos vendo brigas e isso vai prejudicar mais ainda a economia e a solução para a saída da crise”, afirmou o executivo.

A Mercedes-Benz chegou a paralisar toda a produção no país no fim de março uma vez que a doença gerou insegurança “muito grande” entre os trabalhadores da companhia, disse Schiemer. A empresa voltou a produzir em sua principal fábrica no país, em São Bernardo do Campo (SP), no começo desta semana, com metade do pessoal, para atender encomendas de setores da economia menos impactados pela pandemia, como agronegócio, celulose, alimentos e fármacos.

O executivo afirmou que a companhia tem acordo com sindicato para garantir manutenção de empregos da fábrica até o final do ano, mas alertou que a falta de coordenação dos governos está adiando uma retomada o que poderá fazer a empresa ter que negociar novos termos com os trabalhadores.

“A administração falha da crise no Brasil hoje está postergando de uma certa maneira a normalização da situação. Manter os empregados tem um limite e quanto mais difícil de se ver uma saída da situação, mais rápido vamos ver demissões na indústria”, disse Schiemer.

Ele disse que todos os projetos de investimentos em novos produtos e instalações da Mercedes no país foram suspensos. Antes da crise, a empresa tocava um plano de 2,4 bilhões de reais de investimentos programados para entre 2018 e 2022.

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