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O desespero dos unicórnios: falta de lucro, quedas na Bolsa e demissões

12 maio 2022, 6:30 - atualizado em 12 maio 2022, 13:23
Unicórnios investimento startups
O Índice de Igualdade de Gênero da Bloomberg de 2022 contou com participação de 418 empresas, sendo13 brasileiras (Imagem: Pixabay/StartupStockPhotos)

Os investimentos em startups gigantescas, conhecidas como unicórnios,  mas que não lucrativas, estão desacelerando. Em um e-mail interno, o CEO do Uber deu o tom: “precisaremos mudar”.

Depois de um longo período com muito capital disponível e poucas exigências por parte dos investidores, startups gigantescas enfrentam uma mudança rápida e, como elas, gigantesca no mercado: os investidores agora querem saber de lucro. Não é mais suficiente que uma startup, com atuação de mais de meia década, ser líder de mercado, mas não apresentar lucro.

As regras do ecossistema de startups costumavam deixar investidores de outros tipos de ativos de queixo caído. “Lucro não importa”, “estamos investindo baseados no valor futuro da empresa” ou “precisamos crescer a todo custo”: essas eram afirmações frequentes no mundo do venture capital, mas que agora devem começar a desaparecer em um mercado mais exigente.

Claro, continua valendo a máxima de que as startups precisam, sim, queimar dinheiro durante o período inicial de seus negócios para crescer e dominar um mercado. Mas essa lógica valerá por menos tempo: para quem está no mercado há quase uma década e capta centenas de milhões de dólares, as exigências passarão a ser outras. Agora, entregar uma perspectiva de lucro no curto prazo passa a ser uma demanda mais comum no ecossistema de inovação.

Efeito nas gigantescas

Os movimentos sísmicos no mercado de inovação chacoalharam startups gigantes e reconhecidas. Netflix, Nubank e Uber que o digam.

A primeira começou a sofrer com a competição de outros serviços de streaming de empresas que possuem diversas outras verticais para dar lucro, o que torna a produção dos conteúdos mais fácil. Para se manter na briga, uma das alternativas da Netflix seria continuar aumentando o valor da assinatura e a quantidade de conteúdo original cada vez mais frequentemente.

Já o Nubank, depois de aguardar anos para realizar seu IPO, encontrou um mercado com menos apetite por resultados futuros: os investidores não querem mais ver apenas o potencial de lucro no futuro, mas, sim, o lucro agora. 

O resultado? 

A correção de preço do valuation das empresas de tecnologia nas bolsas de valores ao redor do mundo representou uma queda de mais de 65% nas ações do Nubank desde o IPO.

A última a sentir os abalos foi a Uber. O serviço de motoristas via aplicativo, embora reconhecidamente líder de mercado em diversos países, percebeu que os investidores estão medindo o valor das empresas por outra régua.

Essa realidade foi traduzida em um e-mail interno circulado pelo CEO da empresa, Dara Khosrowshahi. Depois de divulgar os resultados do trimestre e conversar com acionistas, o CEO descreveu mudanças que impactarão o negócio – a maioria delas motivada pela nova vontade dos investidores.

Em um momento de incerteza econômica global, Khosrowshahi destacou que investidores buscam segurança. E, embora a Uber seja líder de mercado, os investidores não sabem o quanto isso de fato vale. Nesse sentido, ainda que tenha destacado o plano de lucro para 2024 de US$ 5 bilhões, os investidores continuarão ansiando por dinheiro em caixa – uma segurança a mais de que a empresa não vai ficar sem dinheiro em um momento complicado.

Segundo Khosrowshahi, para responder ao novo momento de mercado, a Uber precisará escolher os projetos que valem a pena e deixar de investir em alguns daqueles que mais consomem capital, como iniciativas de marketing ou de menor retorno. Enfim, a empresa como um todo será muito mais “vista grossa” com gastos no geral.

A realidade bate à porta dos unicórnios brasileiros

Os reflexos no mercado nacional também já começam a aparecer. Uma onda de demissões atingiu alguns unicórnios brasileiros, como Quinto Andar, Facily, Creditas e Loft e causou furor no Linkedin. A motivação das demissões, claro, foi capital (ou, melhor, a falta dele). 

Embora tenham anunciado rodadas de investimento vultosas recentemente, as startups brasileiras precisam passar a apresentar resultados financeiros positivos, com lucro e dinheiro em caixa – o que é conquistado ao reduzir os gastos e aumentar a receita.

Outra razão para os cortes é a possibilidade, inclusive, de que as grandes rodadas fiquem cada vez mais difíceis de conquistar. Ou seja, agora será necessário guardar dinheiro para se estabilizar, em vez de queimar dinheiro para crescer. E o cenário macroeconômico não deve ser favorável para emendar rodadas de captação seguidas.

Embora os valores captados possam permitir de 12 a 18 meses de capital de giro para os negócios continuarem seu crescimento, a redução de custos visa justamente ampliar o horizonte de tempo que as reservas de capital podem manter a startup funcionando. Os gestores dos fundos de investimento, até mesmo, passaram a recomendar que as empresas investidas cortem gastos desnecessários para passar pelo período.

Por fim, todas essas mudanças não querem dizer que a inovação das startups está por um fio. O que mudou foi o cenário para startups em estágios mais avançados, que, antes acostumadas com grandes quantias de capital disponível e poucas exigências, terão de corrigir o rumo do negócio para sobreviver a essa nova realidade.

Assim, as grandes beneficiadas são as startups em estágios mais iniciais. Afinal, essas já enfrentam uma escassez maior de capital e estão no início da construção dos seus negócios, tendo uma chance para construí-los já pensando no momento atual: sem gastos desnecessários ou grandes equipes, mas, principalmente, preocupadas com lucro… Ou pelo menos com alguma previsão de quando o momento chegará. 

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