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O preço do bitcoin está correlacionado ao mercado de ações?

16 maio 2021, 11:00 - atualizado em 14 maio 2021, 14:39
Neste artigo da série Bê-a-bá Cripto, você poderá compreender a possível correlação entre a maior criptomoeda do mundo e o tradicional mercado de ações (Imagem: Unsplash/executium)

Nesta última semana, o aumento da inflação nos Estados Unidos fez com que investidores vendessem suas ações. No entanto, isso não afetou somente o mercado financeiro tradicional, pois o preço do bitcoin (BTC) também sofreu oscilações.

Segundo o Decrypt, é importante perceber essa variação no preço da criptomoeda, visto que vários entusiastas do bitcoin (ou “bitcoiners”) o categorizam como um ativo que defronta a ordem do mercado tradicional. 

Seria precipitado afirmar que as vendas de ações destes últimos dias abalaram a teoria de que a maior criptomoeda do mundo não é afetada pela inflação. 

Desse modo, se tornam válidas as perguntas relacionadas às características singulares do BTC como um ativo deflacionário, se essa moeda digital irá ou não, no futuro, se desvincular de qualquer conexão com o mercado tradicional, ou ainda se as pessoas irão evitar criptomoedas do mesmo modo que se esquivam de outros ativos especulativos em períodos conturbados.

Os últimos três anos e a correlação do bitcoin com as ações

O índice utilizado pelo Decrypt é o Standard & Poor (S&P) 500 – o qual define as 500 maiores empresas com ações listadas em corretoras americanas, com base na capitalização de mercado – para verificar em que grau o bitcoin está correlacionado com o mercado de ações.

Uma das maneiras mais fáceis de perceber essa correlação é por meio da análise da reação da criptomoeda quando o mercado tradicional passa por uma oscilação maior de preço, seja em aumento ou em queda no valor.

De 2018 a 2020, o índice S&P 500 passou por três quedas de 10% ou mais. A primeira delas foi a queda de 10% entre os meses de janeiro e março em 2018; a segunda queda foi de 17,3% entre setembro e dezembro do mesmo ano; e a terceira, a maior delas, foi de impressionantes 31,7% entre fevereiro e março do ano passado.

Você pode se perguntar: o que aconteceu com o bitcoin durante essas quedas no mercado de ações? Por incrível que pareça, a criptomoeda teve comportamentos similares em cada um desses momentos, só que com um percurso mais agressivo.

“Quinta-feira Sombria” foi o nome dado ao dia 12 de março de 2020, quando os mercados globais reagiram negativamente à crescente pandemia da COVID-19 (Imagem: Freepik/studiogstock)

Durante os três períodos de queda mencionados anteriormente, o bitcoin passou, respectivamente, por desvalorizações de 31,5%, 51,6% e 47,2%. Essa última queda aconteceu logo após o dia que ficou conhecido como “Quinta-feira Sombria”, que corresponde à queda histórica coincidente com os “lockdowns” devido à pandemia de COVID-19.

Essas foram as maiores quedas do mercado cripto durante os períodos analisados, ou seja, as três grandes desvalorizações do bitcoin entre 2018 e 2020 correspondem também às três maiores quedas do mercado de ações durante o mesmo período. 

Em cada um dos momentos analisados, o BTC, curiosamente, começou a cair antes do índice S&P 500, tornando a criptomoeda uma espécie de indicador do que estaria por vir no mercado de ações.

Uma possível explicação para isso é a alta volatilidade do mercado de bitcoin, além do amplo uso, por parte dos negociadores cripto, das estratégias de “stop loss” – patamar de preço onde se encerra a operação com perda – e de “profit orders” – patamar de preço em que se fecha a posição (total ou parcialmente) com lucros –, nos momentos de oscilação do mercado.

Mas, e quanto aos momentos de valorização?

Aparentemente, há também uma pequena conexão entre os aumentos do preço do bitcoin e a valorização do mercado de ações nesses últimos três anos. 

Durante esse período, conforme dados compilados pelo VanEck, a criptomoeda saiu de uma correlação positiva de 0,04 com o índice S&P 500 em 2018, para uma correlação negativa de -0,09 no ano seguinte, e em seguida novamente para uma correlação positiva de 0,22 no ano passado.

Essa correlação é medida por um coeficiente, que geralmente é um valor que varia de -1 até 1. Quanto mais próximo esse valor estiver de -1, maior a correlação negativa, o que acontece quando as duas variáveis têm a tendência de se moverem em direções opostas.

Já quando o valor estiver mais próximo de 1, maior será a correlação positiva, na qual há a tendência de as duas variáveis se moverem na mesma direção.

O ano passado foi o período de maior correlação entre o índice e o bitcoin, como pode ser visto na imagem abaixo: 

Bitcoin S&P 500 Correlation

Apesar de a correlação da criptomoeda com o mercado de ações ter sido, no geral, positiva, o valor dessa correlação ainda é baixo. O bitcoin, na verdade, tem maior correlação com o ouro, que também é um ativo seguro.   

No entanto, o BTC e o índice S&P 500 não oscilam sempre em conjunto, visto que o primeiro teve diversos momentos de alta entre 2018 e 2020, enquanto que o segundo se manteve estável ou teve algumas quedas.

Um exemplo que ocorreu entre abril e maio de 2019 foi quando a criptomoeda teve uma valorização de 69%, enquanto que o S&P 500 passou por uma queda de 7%.

Essa discrepância aconteceu logo após a Fidelity Investments anunciar o lançamento de sua plataforma de negociação de criptomoedas e a corretora cripto Binance ter sofrido um ataque e perdido US$ 40 milhões.

Em uma perspectiva mais ampla, a correlação entre o bitcoin e o índice S&P 500 teve um leve aumento nos últimos três anos, para o qual não há uma razão específica, mas um dos possíveis motivos é a crescente adoção de BTC por investidores do varejo e de instituições. 

Correlação entre bitcoin e queda das ações em 2021

Apesar de o BTC ter tido uma correlação, mesmo que ainda fraca, com o mercado de ações no passado, essa ligação diminuiu entre o final de 2020 e o início deste ano, quando estava abaixo de 0,2.

Desde o início de 2021, tanto o bitcoin como o S&P 500 tiveram uma alta e ambos atingiram novos recordes, à medida que a economia americana se recupera da pandemia de coronavírus.

Para o bitcoin, essa alta está relacionada com o seu preço, que dobrou neste ano, enquanto que, para o índice, esse aumento foi de somente 8,5% durante o mesmo período.

Apesar de ambos os mercados estarem fora de sincronia, o mercado da criptomoeda passou por diversos momentos de valorização, ao mesmo tempo em que o S&P 500 manteve-se praticamente igual.

Porém, o bitcoin também passou por uma queda repentina, especialmente após Elon Musk, CEO da Tesla (TSLA; TSLA34), ter afirmado em um tuíte que a empresa não aceitará mais BTC.

Como resultado, a correlação entre o mercado de ações e o mercado cripto, a qual já estava baixa, caiu ainda mais, ficando negativa em março deste ano.

Essa situação pode ser um indício de que a criptomoeda está, gradativamente, se desvinculando do mercado de ações, além de que pode estar inclusive gerando uma correlação negativa, que ocorreria quando o mercado tradicional movesse para uma direção e o mercado de bitcoin para uma outra.

Para que isso seja comprovado, a criptomoeda terá de continuar se afastando do índice S&P 500 nos próximos meses.

Repórter
Graduada em Letras (Português/Inglês) pela Universidade de São Paulo (USP). Iniciou sua carreira como estagiária de revisão na Editora Ática, local em que atuou depois como revisora freelancer. Já trabalhou para o The Walt Disney World, nos Estados Unidos, em um programa de intercâmbio de estágio, experiência que reforçou sua paixão pela língua inglesa e pela tradução. Estagiou na Edusp, e integra, há um ano, a equipe do Money Times como repórter-tradutora de notícias ligadas a criptomoedas.
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Graduada em Letras (Português/Inglês) pela Universidade de São Paulo (USP). Iniciou sua carreira como estagiária de revisão na Editora Ática, local em que atuou depois como revisora freelancer. Já trabalhou para o The Walt Disney World, nos Estados Unidos, em um programa de intercâmbio de estágio, experiência que reforçou sua paixão pela língua inglesa e pela tradução. Estagiou na Edusp, e integra, há um ano, a equipe do Money Times como repórter-tradutora de notícias ligadas a criptomoedas.
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