Opinião

O salto quântico da experiência financeira digital

13 set 2018, 9:00 - atualizado em 12 set 2018, 19:24

Por Bernardo Faria, sócio da Foxbit

Vivemos tempos fantásticos. Estamos a observar, sentados na primeira fila, os primórdios de uma nova revolução tecnológica, cuja qual irá transformar muito daquilo que fazemos online, desde como nos identificamos, realizamos tarefas, até como compramos e vendemos bens e serviços.

Na primeira fase da internet, qualquer pessoa podia criar o seu blog e escrever para o mundo inteiro; em um segundo momento, foi possível interagir, se conectar e colaborar com os outros em tempo real; a terceira onda, que vivemos agora, envolve transferência descentralizada de valor e o conceito de como podemos programar o dinheiro para que ele esteja embutido em um aplicativo em nosso celular.

Neste sentido, causou-me êxtase utilizar pela primeira vez uma solução que promete ser um dos primeiros produtos com escala global baseado em smart contracts e aplicações descentralizadas (dApps).

Este software open source, que inicialmente foi chamado de Token e depois ganhou o nome de Toshi, em clara referência ao criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, vem sendo desenvolvido há mais de um ano pela maior companhia do segmento crypto dos Estados Unidos. Há duas semanas, ele foi rebatizado novamente e transformou-se na Coinbase Wallet. Trata-se de um aplicativo que oferece aos usuários uma nova maneira de visualizar e experimentar as possibilidades do mundo financeiro digital.

A inovação congrega em um único lugar uma carteira para armazenar ativos digitais, um serviço de mensagens que permite transferir valor literalmente em um piscar de olhos e um browser de aplicações descentralizadas (dApps). Tudo isso está construído em cima da blockchain do Ethereum, o que torna o produto imediatamente global, cuja única barreira de acesso constitui-se em um smartphone conectado à internet.

A Coinbase Wallet conseguiu reduzir significativamente a fricção de usabilidade ao permitir que o novo usuário tenha acesso completo às funcionalidades da aplicação em menos de dois minutos, sem precisar fornecer qualquer dado pessoal, como nome, e-mail ou telefone.

A possibilidade de navegar por dezenas de aplicações descentralizadas baseadas em smart contracts, dispostas visualmente de forma muito similar às lojas de aplicativos (Google Play, App Store) a que estamos acostumados a interagir, cria uma sensação de poder explorar o universo dos dApps, que até então estava relativamente restrito às pessoas com maior familiaridade em relação ao ecossistema crypto.

Por exemplo, se um usuário quiser comprar um “cryptokitty”, os populares gatinhos criados em cima da rede do Ethereum, ele pode acessar o site diretamente na Coinbase Wallet e a compra será feita automaticamente com o saldo da carteira dentro do mesmo aplicativo, que também irá armazenar em aba específica todos os itens colecionáveis únicos que você possuir, sejam eles gatinhos, figurinhas de jogadores de futebol ou obras de arte digital.

Mais impressionante ainda é a maneira como as transferências de valor entre usuários são conduzidas dentro do aplicativo. Inspirada pelo WeChat, serviço de mensagens instantâneas que domina a China e que possibilita envio e recebimento de dinheiro, a Coinbase Wallet possui um chat no qual você pode buscar pelo nome de usuário de um amigo e enviar ou requisitar um pagamento em ether. A experiência é extremamente parecida com a de enviar uma mensagem pelo WhatsApp. Em breve, o usuário também poderá realizar pagamentos utilizando bitcoin, bitcoin cash e litecoin.

A Coinbase nasceu como um marketplace para compra e venda de Bitcoin e, ao longo dos últimos cinco anos, posicionou-se como a principal corretora do mundo, com mais de 20 milhões de clientes espalhados e, de certa forma, restrito a 32 países devido a questões de Anti-Money Laundering e Know Your Customer (AML/KYC).

O que mais me intriga positivamente é o fato de a Coinbase, uma exchange centralizada, optar por desenvolver e apostar na criação de um produto descentralizado, como é o caso da Coinbase Wallet, que passa ao largo dessas questões regulatórias e que lança mão de tecnologias promissoras. O fato de um serviço operar com smart contracts e aplicações descentralizadas abre uma espécie de nova gramática, uma inovadora estrutura, que nos oferece a oportunidade de trabalhar sobre o paradigma da abundância.

De certa forma, este novo produto é um negócio que, apesar de ainda não ter um modelo de negócios claramente definido, pode provocar até mesmo a disrupção do core business da empresa. Não ficarei surpreso se daqui a algum tempo a Coinbase Wallet se tornar maior do que o negócio de compra e venda de ativos digitais da companhia norte-americana.

Entretanto, para isso acontecer, as blockchains públicas, como é o caso do Ethereum e do Bitcoin, precisarão resolver as questões inerentes à tecnologia que dificultam a escalabilidade do processamento de transações destas redes. De qualquer forma, a superação deste obstáculo me parece apenas uma questão de tempo. Em um futuro próximo, estaremos todos usando aplicações descentralizadas a partir dos nossos celulares de forma tão natural como fazemos com as opções centralizadas hoje em dia.

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