Economia

Os mercados estão sendo engolidos pelos governos, alerta gestora

19 maio 2020, 3:52 - atualizado em 19 maio 2020, 3:56
Presidente dos EUA, Donald Trump, observa o chairman do Fed, Jerome Powell, durante pronunciamento na Casa Branca
O mantra dos investimentos “não lute contra o Federal Reserve” parece ter sido alçado a um novo e mais elevado patamar já visto até aqui (Imagem: REUTERS/Carlos Barria)

A crescente e continuada intervenção dos governos na economia desde a crise financeira global de 2007 e 2008 ganhou novos e preocupantes contrastes no desenho do plano de recuperação da gigantesca recessão gerada pela pandemia do novo coronavírus.

Segundo o economista Jan Dehn, da gestora Ashmore, o mantra dos investimentos “não lute contra o Federal Reserve” parece ter sido alçado a um novo e mais elevado patamar já visto até aqui. Agora, explica Dehn, as bolsas têm ralis frequentes após notícias econômicas ruins.

“Claramente, isso não ocorre porque más notícias são boas para as empresas. Em vez disso, a este movimento contra intuitivo reflete uma expectativa nos mercados de que os bancos centrais intervirão para sustentar os preços dos ativos financeiros”, aponta.

Dehn compara as intervenções estatais atuais das economias de mercado com as nações comunistas durante a guerra fria, as quais ele chama de “sistemas de planejamento central”.

“Os novos regimes de controle macroeconômico nas economias desenvolvidas não impedem que os preços relativos se ajustem. Nem impedem ninguém de fazer transações a preços que considerem adequados. A propriedade de riqueza, propriedade e capital também permanece em mãos particulares”.

Os regimes de controle macroeconômico, portanto, são um meio termo entre as economias de livre mercado e os sistemas convencionais de planejamento central.

“A propriedade permanece em mãos privadas e a maioria dos mercados é livre, mas os principais preços da economia em torno dos quais todos os outros mercados giram são controlados centralmente.

Wall Street
“A expansão do controle governamental está à custa dos mercados”, diz o economista (Imagem: REUTERS/Lucas Jackson)

Então, onde está o problema?

A diferença entre um mercado livre e o atual, relata Jehn, está no fato de que as variáveis macroeconômicas mais importantes, como taxas de juros, preços das ações e variáveis de importância semelhante à macroeconomia, são controladas diretamente pelos governos em um grau completamente sem precedentes.

“Com efeito, os mercados estão sendo usados como uma ferramenta para gerenciar a economia”.

Ou seja, os governos estão batalhando para manter os preços macroeconômicos importantes em níveis significativamente mais altos do que eles seriam se os mercados fossem deixados por conta própria.

Segundo Dehn, a dramática expansão do envolvimento do governo em algumas áreas aproxima-os em grande estilo sistemas convencionais de planejamento central.

“Isso deve preocupar os investidores. A expansão do controle governamental está à custa dos mercados. Além disso, os preços controlados pelo governo resultam em ‘gambiarras’ entre mercados e fundamentos e prejudicam a eficiência econômica”.

Mercados Wall Street
Agora, explica Dehn, as bolsas têm ralis frequentes após notícias econômicas ruins (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

Risco moral

Dehn lembra que durante a crise financeira global de 2008 os defensores do famoso afrouxamento quantitativo (QE – Quantitative Easing) argumentavam que esta seria uma solução transitória.

“No entanto, a verdade é que mais de dez anos se passaram e a alegação de que essas políticas são temporárias está começando a parecer um pouco vazia”.

Dehn admite que permanecer nos regimes de controle garante uma condução muito menos volátil. Os governos gradualmente removem cada vez mais o ruído, mas os retornos são baixos e serão ainda menores ao longo do tempo.

“Um dia a coisa toda vai desabar”, finaliza o economista.

Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
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