Mercados

PEC da Transição: Mercado não perdoa erros de governos passados do PT; confira a análise

17 nov 2022, 12:40 - atualizado em 17 nov 2022, 12:40
ações do 'kit lula'
Mercado não dá benefício da dúvida a presidente eleito devido a erros do passado em governo do PT; confira a análise (Foto: Montagem/MT)

Uma das grandes lições da vida é que sempre se pode aprender com o passado, principalmente com os erros. Sempre há uma solução alternativa, desde que se esteja disposto a reconhecer que, para tanto, é preciso uma mentalidade diferente. 

Às vezes, a saída pode ser tão simples quanto novas informações ou novos insights que levem a uma reavaliação de posições anteriores. Se bem administrada, pode até fortalecer o cenário à frente. 

Esse parece ser exatamente o problema entre o mercado financeiro e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda mais depois de a PEC da transição confirmar as expectativas mais temidas, com o novo governo pedindo “licença para gastar mais”, por tempo indeterminado.

De uma forma geral, a proposta não só pediu um “puxadinho” no valor de R$ 175 bilhões que vai além do teto dos gastos para financiar o Bolsa Família, como também quer uma cota de 40% de receitas extras para investimentos

Sem perdão, mercado não estanca sangria

A queda-de-braço entre os investidores – locais, principalmente – e o governo eleito se dá diante do impasse de que responsabilidade social e fiscal podem até tentar, mas não conseguem andar juntas. Daí, então, a sangria nos ativos de risco desde o pós-eleições.

Nesta quinta-feira, o Ibovespa já e negociado abaixo dos 110 mil pontos, enquanto o dólar se aproximou da faixa de R$ 5,50. Ao mesmo tempo, os juros futuros já vislumbram uma alta da Selic diante dos temores de uma dívida de 100% em relação ao PIB, deprimindo o crescimento econômico e puxando a inflação para cima. 

“O mercado estaria disposto em dar o benefício da dúvida no primeiro ano de governo para ‘arrumar a casa’, contanto que uma sinalização de ajuste fosse feita para o longo prazo”, comentou o diretor de investimentos (CIO) e parceiro da TAG, Dan Kawa. 

Ele lembra que os investidores não têm memória curta. “O Brasil está indo na direção de uma política econômica que já deu errado aqui e em vários outros países do mundo”, emenda o gestor. 

Erros do passado são herança maldita

Durante a campanha, Lula indicou que, no terceiro mandato, faria um governo além do PT”. Porem, a sensação do mercado é de que a chamada frente ampla teve de baixar a cabeça para o PT raiz”.

Afinal, aos olhos dos investidores, não há nenhum sinal de que com a volta do PT ao poder, o partido esteja disposto em fazer os ajustes necessários para caminhar na direção correta. Por isso, o romance com o novo governo que mal tinha começado durou pouco, sem chances para uma lua-de-mel de início de mandato a partir de 2023. 

“Vamos viver a maior irresponsabilidade fiscal em décadas, e deve ser algo muito pior do que no governo Dilma, que, diga-se de passagem, pagou a conta do antecessor”, comenta o sócio-gestor da Criteria Investimentos, Vitor Miziara, referindo-se aos dois mandatos anteriores de Lula.

Para ele, a proposta faz lembrar a imagem de “correr atrás da cenoura em uma esteira”. Afinal, a tentativa do governo eleito é de inchar cada vez mais as contas públicas, elevando os gastos de transição e demandando um pedido de perdão (“waiver”) quase que infinito para os quatro anos no poder.

“O formato foge do que se esperava pela troca do mandato, pois se vendia um governo ‘pragmático’, o que aparentemente não está ocorrendo, especialmente na comparação com o mandato de 2002”, resume o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, referindo-se à primeira vez que Lula foi eleito, no início dos anos 2000. 

Para o economista, sequer cabe uma comparação com o atual momento, uma vez que o cenário econômico mundial à época era o inverso do atual. “O problema foi na primeira grande crise que o partido enfrentou, que criou a bomba fiscal que Dilma alimentou ainda mais em seu mandato”, recorda Vieira. 

Quais são os próximos passos da PEC da Transição?

Daí então o temor em relação ao atual momento. Ainda assim, a PEC da Transição depende da aprovação do Congresso Nacional ainda neste ano. Por se tratar de uma emenda à Constituição, o governo eleito precisa de ⅗ na Câmara e no Senado

Não é pouco, mas os congressistas têm se mostrado receptivos à proposta. Aliás, vão decidir também por quanto tempo essa licença para gastar vai durar.

“O Congresso está disposto a votar a favor desta medida e em tempo hábil”, prevê o analista de renda variável da Guide Research, Gabriel Araújo Gracia. Contudo, ele avalia que o teor da PEC deve ser alterado, com alguma limitação nos valores dos gastos e um prazo para que estas medidas percam o efeito. 

“Os riscos são sinais de que a PEC será aprovada sem alterações, o que pode gerar mais pânico nos investidores”, emenda Gracia. “Do lado positivo, apenas sinais de que a PEC não será aprovada integralmente ou algumas compensações, como reformas (administrativa, tributária etc.), seriam bem vistas pelos investidores”, completa.

Em suma, mais dor pode estar por vir. E ainda é cedo para dizer que o pior nos mercados já passou nem que não haverá cicatrizes, de algum lado.

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Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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