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Petrobras (PETR4): Adriano Pires já deixou claro como conter os combustíveis, mas Bolsonaro aceitará?

28 mar 2022, 21:29 - atualizado em 29 mar 2022, 20:41
Adriano Pires, futuro presidente da Petrobras (PETR4)
Fogo amigo: para conter preço dos combustíveis, Adriano Pires, futuro presidente da Petrobras, precisará contar com a boa vontade de colegas de governo (Imagem: Ag. Senado/ Geraldo Magela)

Ao ser confirmado pelo Ministério de Minas e Energia como próximo presidente da Petrobras (PETR3; PETR4), o economista Adriano Pires colocará à prova sua fórmula para conter os reajustes dos combustíveis.

Sendo um dos maiores especialistas em energia do Brasil, com 40 anos de experiência no setor e uma passagem pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), Pires se manifestou publicamente diversas vezes, nas últimas semanas, sobre os aumentos de preços da gasolina e do diesel.

Em entrevista ao canal de notícias CNN, por exemplo, o economista afirmou que não havia alternativa para a Petrobras, a não ser promover o forte aumento de preços que entrou em vigor em 11 de março, quando as refinarias da companhia passaram a cobrar 25% mais pelo diesel e 18,8% mais pela gasolina.

“A Petrobras não tinha como não aumentar, porque a defasagem de preços estava muito grande entre o mercado interno e o externo”, afirmou à CNN, na ocasião, e acrescentou: “O país importa 30% do que é consumido de derivados de petróleo. Se a defasagem é muito grande, ninguém importa. Pior que o preço alto é desabastecimento”.

A prioridade para segurar os combustíveis, segundo Pires

Em um artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 22 de janeiro, Pires indicou medidas de curto, médio e longo prazo para evitar que os combustíveis incendeiem o bolso dos brasileiros.

No texto, Pires recomenda redefinir as prioridades. “É fundamental entender que o que devemos buscar é a redução da velocidade da volatilidade dos preços no bolso do consumidor, mais do que gasolina e diesel baratos”, escreveu na ocasião. Em bom português, não se trata de impedir que a gasolina aumente, mas sim de fazer com que o preço oscile de modo mais suave.

Para alcançar esse objetivo, o especialista nos lembra de alguns pontos. O primeiro é que “a taxa de câmbio tem sido uma grande vilã, igual ou pior do que o preço do petróleo.” Como exemplo, ele cita que, se o dólar estivesse valendo R$ 4,50, o preço da gasolina e do diesel poderiam baixar 14%.

Outro é que discutir a redução das margens de lucro das refinarias, distribuidoras e revendedoras de combustíveis não nos levará a lugar nenhum, já que essas margens são baixas em todo o mundo, e isto é uma característica da indústria petrolífera.

Por isso, Pires defendeu, no artigo do Estadão, que “uma redução de volatilidade e dos preços no curto prazo só será possível mexendo na parcela de impostos”. Ele sublinha que os impostos não causam o aumento de preços, mas contribuem para sua grande volatilidade, devido à forma como incidem nos combustíveis.

Assim, para o futuro presidente da Petrobras, o caminho para suavizar os reajustes da gasolina e do diesel passa, no curto prazo, por um “ICMS reais/litros calculado com prazos mais longos do que os atuais 15 dias”. No médio prazo, é preciso “esperar a valorização do real ante o dólar”. E, no longo prazo, “ter um fundo de estabilização ou um novo imposto como política estrutural de redução da volatilidade.”

Pires conseguirá convencer Bolsonaro e Paulo Guedes?

O grande nó dessa solução é que ela se concentra em fatores que escapam ao controle do próximo presidente da Petrobras, e só podem ser encaminhados pela área política do governo de Jair Bolsonaro. Como se sabe, qualquer alteração na forma como o ICMS incide sobre os combustíveis passa pelos governadores, e nenhum deles está disposto a abrir mão de receitas em tempos de estagnação econômica.

Cacique: Bolsonaro não quer saber dos acionistas privados da Petrobras, mas Pires não poderá se dar a esse luxo (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O próprio Ministério da Economia, capitaneado por Paulo Guedes, foi apontado como um dos focos de resistência para se criar um mecanismo de mitigação das flutuações de preços. Ao se referir à proposta de criação de um fundo de estabilização, com recursos oriundos de royalties e dividendos da Petrobras, Pires afirmou, em artigo publicado em 25 de janeiro no site Poder 360:

“A solução [para reduzir a volatilidade dos preços] deveria ter sido apresentada pelo governo, a ANP e o Cade, mas o Ministério da Economia sempre foi uma barreira, alegando a prática do intervencionismo e de subsídios.”

Pires reforçou a importância do fundo, ao ressaltar que “só zerar os impostos federais dos combustíveis é muito pouco, não passa de 10%, diante do rally de preços do petróleo que deveremos ter em 2022.”

Com tantos anos de experiência no setor, Pires parece ter o caminho traçado para evitar que solavancos no mercado internacional do petróleo tirem o sono dos brasileiros. Mas parte desse receituário ficaria a cargo de colegas de governo que ele próprio já reconheceu que não estão, propriamente, empolgados com essas ideias.

Por fim, é preciso lembrar que seu futuro chefe, o presidente Bolsonaro, espera que a Petrobras não atrapalhe seus planos de se reeleger em outubro. A pressão para conter os preços dos combustíveis crescerá na mesma proporção em que o ex-capitão patinar nas pesquisas de intenção de voto.

Se a Petrobras fosse uma empresa 100% estatal, a ingerência política não geraria mais do que queixas de quem defende a liberdade de mercado. Mas, como Pires também sublinhou ao Poder 360, “nunca é demais lembrar que a Petrobras não é uma estatal, e sim uma empresa de capital misto. Portanto, precisa respeitar os interesses dos seus acionistas privados.” E Bolsonaro já lamentou, em alto e bom som, esse fato.

E como já alertava o próprio Pires no artigo ao Poder 360, “o perigo é que a qualquer momento, com a pressão da sociedade e com o populismo político, o pêndulo volte para aquelas práticas de usar a Petrobras como instrumento de política econômica e partidária.” Bolsonaro resistirá à tentação populista?

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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