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Petrobras (PETR4) deve decidir se mantém capital aberto ou se fecha; entenda motivos

23 jun 2022, 10:01 - atualizado em 23 jun 2022, 10:02
Petrobras
Entenda o que é melhor para a Petrobras (PETR4) ser estatal ou a privatização. Leia a coluna do Beto Assad, analista e consultor para o Kinvo. (Imagem: Reuters/Bruno Domingos)

Se tem uma empresa que ultimamente não sai dos noticiários é a Petrobras (PETR4).

Seja pelo seu último resultado (um lucro recorde de lucro líquido de R$ 44,561 bilhões no primeiro trimestre deste ano), seja pelo seu “relacionamento” conturbado com o governo federal, a companhia parece atrair as manchetes de jornais e portais de cunho econômico ou político.

E ao que tudo indica, essa tendência de ser a “a mais falada” deve continuar, pelo menos no médio prazo.

E isso acontece, no meu ponto de vista, por um motivo fácil de entender, mas de difícil resolução: estamos falando de uma empresa estatal, de caráter estratégico para o governo brasileiro, mas que tem capital aberto.

Essa é uma questão que eu sempre considerei complexa, e o momento atual só corrobora isso.

Afinal, como conciliar os interesses do governo e do mercado financeiro ao mesmo tempo, principalmente quando os interesses são antagônicos?

Benefícios de ser estatal

Em momentos de calmaria no mercado, quando tudo flui bem, com a economia andando de maneira segura e a inflação sob controle, os interesses geralmente tendem a convergir para o mesmo objetivo.

Quanto mais uma empresa estatal lucra, maior é o resultado para as contas do governo. E maior acaba sendo, pelo menos na teoria, os benefícios que voltam para a população.

Este é o desenho ideal para se ter uma empresa em controle da União, mas que consegue captar o dinheiro “barato” do mercado de ações.

Porém, o “mundo ideal” raramente se prolonga por muito tempo aqui no Brasil.

Quando a privatização entra como saída

E quando a estabilidade econômica entra em xeque, é comum começar a ver os interesses entre investidores e gestores públicos irem para caminhos opostos. Fica fácil de entender isso quando olhamos para o Brasil em 2022.

Primeiro, tivemos toda a crise financeira causada pela pandemia da Covid-19. Como resultado da política de estímulos com juros baixos, unida à uma quebra na cadeia de fornecimento de insumos a nível mundial, assistimos à inflação voltar a níveis alarmantes, tanto no Brasil quanto no mundo.

E quando as economias esboçavam uma reação, veio a fatídica guerra entre Rússia e Ucrânia, que pressionou ainda mais o preço das commodities.

No meio disso tudo, o preço do barril de petróleo disparou, o que ajudou a Petrobras com o seu lucro histórico descrito anteriormente. E grande parte desse resultado veio com a política de precificação da estatal, que é de manter a paridade de seus preços com o mercado internacional.

Tudo muito correto quando olhamos a empresa pela ótica empresarial. Mas estamos falando de uma estatal de interesse estratégico, lembram? Aí começa toda a confusão que estamos vendo nos últimos tempos.

Trocas de CEOs da Petrobras

Durante o governo Bolsonaro a empresa terá o seu quarto presidente, sendo que o último, José Mauro Ferreira Coelho, ficou um pouco mais de 2 meses no comando da empresa.

E todas as trocas tiveram em comum um descontentamento do governo justamente nos constantes reajustes de preço que a empresa veio praticando nos combustíveis.

Mas o fato é que, no modelo de hoje, o governo não pode interferir na política de preços da empresa, pois existem normas legais que o impedem de fazê-lo. E as várias trocas na presidência provam isso, já que a Petrobras seguiu fazendo seus reajustes, até com defasagem em alguns momentos.

Sob o ponto de vista mercadológico, o que está acontecendo com a empresa é ótimo. Mostra um bom grau de independência e a vontade da gestão em apresentar bons resultados. Porém, até se prove o contrário, ela continua sendo estatal, com a União tendo a maioria das ações sob o seu controle.

Por isso o incomodo com a empresa de buscar somente o lucro nesse momento, bloqueando as necessidades do governo de utilizá-la como instrumento de política monetária.

Qual a solução para a Petrobras?

E qual a solução para isso tudo? Definir se a empresa deve ou não continuar sendo estatal seria o melhor caminho, no meu ponto de vista.

Se é para ter capital aberto, que se privatize e estabeleça um rígido controle, além da implementação de impostos sobre a empresa para compensar o governo e a população.

Se é para continuar sendo estatal, de cunho estratégico e político, então feche seu capital e encontre outras maneiras de captar recursos quando estes forem necessários.

Pode até parecer uma sugestão meio radical. Mas o meio termo que está sendo feito hoje em dia parece não estar sendo muito festejado, tanto pelo governo, quanto pela população.

E até mesmo os investidores, que estão sendo beneficiados com a gestão da companhia, vivem com a famosa pulga atrás da orelha com a possibilidade de interferências no longo prazo.

Enfim, quando temos insatisfação de todos os lados, fica claro que o modelo atual está se esgotando. E qual vai ser o destino da empresa depois disso? Aí é conversa para os nossos políticos profissionais.

Aproveite para conferir todas as colunas do Beto Assad aqui no Money Times.

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Disclaimer

Money Times publica matérias informativas, de caráter jornalístico. Essa publicação não constitui uma recomendação de investimento.

Analista e consultor financeiro no Kinvo
Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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Beto Assad é analista de ações e consultor financeiro para o Kinvo, aplicativo que consolida investimentos de bancos e corretoras em um só lugar. Formado em Administração pela EAESP/FGV em 2004. Fez estágio na BM&F e tornou-se empreendedor antes de voltar ao mercado financeiro em 2009, trabalhando na Leandro&Stormer. Trabalhou posteriormente na Futura Invest, onde conheceu os sócios que criaram o Kinvo. Hoje, atua como analista de ações (CNPI-T) e é consultor de mercado financeiro.
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