Mercados

Pré-Market: Sinais mistos confundem mercado

17 abr 2018, 8:20 - atualizado em 17 abr 2018, 8:20

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

Os sinais mistos da economia chinesa ao final do primeiro trimestre deste ano pesaram nas bolsas asiáticas, após o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país ter ficado em linha com o esperado (+6,8%), o varejo ter crescido acima do previsto (+10,1%) em março, mas a produção industrial ter vindo abaixo do estimado (+6,0%) no mês passado. O investimento em ativos fixos nas áreas não rurais da China também avançou menos que a previsão (+7,5%) nos três primeiros meses de 2018.

Ainda assim, prevalece o sentimento de pouso suave da segunda maior economia do mundo, o que deixa as commodities metálicas na linha d’água, enquanto o petróleo ensaia ganhos, e mantém o sinal positivo no Ocidente. Porém, se a China reduzir o ritmo de expansão para cerca de 6,5% ao ano, será o crescimento mais lento desde 1990, reduzindo o papel de locomotiva global. Nos três primeiros meses de 2017, o PIB chinês cresceu 6,9%, enquanto nos últimos três meses do ano passado, a alta foi exatamente de 6,8%.

Os números do mês passado dão sinais de que uma desaceleração econômica está em curso, com as indústrias antigas de mineração e têxtil perdendo tração, enquanto setores da nova economia, como e-commerce e saúde, despontam, mas sem forças para ofuscar a velha indústria. Em março, a produção industrial chinesa cresceu 0,33% ante fevereiro, de +0,57% no período anterior.

Já as vendas no varejo chinês mantiveram o ritmo e aumentaram 0,73% em base mensal, de +0,76% antes. Aliás, o comércio varejista foi um dos principais impulsionadores do PIB da China no início de 2018, com alta de 35,4% no período em relação ao primeiro trimestre de 2017, sendo que o consumo contribuiu com 77,8% para a expansão. Em seguida, aparece o investimento em educação, que saltou 26,9%.

Na Europa, as principais bolsas europeias se desvencilham das perdas em Xangai (-1,4%) e em Hong Kong (-0,8%) e sobem, com exceção de Londres, que é penalizada pelo avanço da libra esterlina ao maior nível desde a votação pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE) – o chamado “Brexit”. O euro também avança em relação ao dólar, cotado no valor mais alto em três semanas.

Os índices futuros das bolsas de Nova York também estão no azul, em meio à queda do dólar em relação aos rivais para o menor nível em dois meses, após o presidente norte-americano, Donald Trump, acusar Rússia e China de desvalorizar suas moedas. Enquanto isso, a curva dos juros projetados nos Estados Unidos achatou, com os títulos curtos ficando mais perto dos longos.

Já no Brasil, a recuperação mais lenta da atividade e as incertezas eleitorais devem continuar prejudicando o desempenho dos ativos locais. A combinação de uma economia mais fraca que o estimado anteriormente com uma corrida eleitoral em aberto afetou o comportamento dos mercados domésticos ontem e deve continuar pesando nos negócios no curto prazo.

A dinâmica dos ativos brasileiros já não é mais a mesma, diante da percepção de que o fluxo de notícias não tem sido favorável. Do lado econômico, o desempenho mais moderado da atividade no começo do ano mostra que houve uma perda de dinamismo após o fim de estímulos pontuais, como os saques das contas inativas do FGTS.

Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho também não está melhorando, ainda contando com mais de 13 milhões de pessoas sem emprego (e sem renda). Com isso, a inflação segue comportada, uma vez que não há pressão nem do lado da oferta, nem do lado da demanda. Tal cenário contribui para manter os juros em queda e em níveis ultra-baixos.

Mas essa combinação está longe de emitir sinais encorajadores aos investidores. Afinal, osplayers estão interessados é com a pauta econômica do país a partir de 2019, a ser conduzida pelo governo eleito em outubro. E é aí que entra a cautela com a corrida presidencial.

Afinal, os investidores sabem que a trajetória da taxa básica de juros (Selic) é insustentável, pois está abaixo do nível neutro, e que a inflação deve se elevar (em vez de cair) no próximo ano. E se a economia brasileira não engatou uma marcha mais forte antes de o cenário político ganhar relevância, o receio, agora, é de contaminação do ruído eleitoral na tomada de decisão de empresários e consumidores.

Isso porque a disputa pela Presidência começou um pouco pior que o esperado, abalando a confiança dos agentes econômicos. O desempenho fraco dos candidatos “reformistas” na corrida presidencial afeta o sentimento e a grande fragmentação de votos somada ao temor da presença de Lula como um cabo eleitoral mostra que  o cenário está totalmente em aberto.

É certo que muita coisa pode mudar até a votação em outubro, mas, por ora, os sinais não são encorajadores para a tomada de risco no Brasil. É esse pano de fundo que deve nortear os mercados domésticos nesta terça-feira, diante da agenda econômica fraca, que traz apenas dados regionais da inflação ao consumidor (IPC-S) e indicadores antecedente de emprego.

Já no exterior, o destaque fica com o desempenho da produção industrial norte-americana em março (10h15). Antes (9h30), saem dados sobre a construção de moradias nos Estados Unidos no mês passado. Logo cedo, na Europa sai o índice ZEW de sentimento econômico na Alemanha e na zona do euro como um todo em abril.

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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