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Quem é Guanying Chen e a Binance é uma empresa chinesa?

02 set 2022, 16:37 - atualizado em 02 set 2022, 16:37
Binance Coin BNB
(Imagem: Binance/Blog)

*Por Changpeng Zhao (CZ), CEO e fundador da Binance

Um dos muitos pontos fortes que nossos funcionários da Binance devem ter é resiliência. Afinal, essa indústria é alvo de muitos sentimentos negativos (muito disso é injustificado, mas é a realidade atual).

Nos últimos meses, a resiliência da Binance foi testada por um aumento notável de ataques à reputação da empresa. Estes vêm tanto da mídia quanto a portas fechadas em reuniões com reguladores.

Na semana passada, um antigo jornalista do Washington Post enviou um tweet para um de nossos executivos durante uma discussão comum sobre “viés da mídia” no Twitter. Do nada, eles simplesmente perguntaram: “Aproveitando que você está aqui, quem é Guangying Chen?”.

Embora esse jornalista possivelmente não tenha entendido, essa pergunta reforça o desdém que nossos funcionários enfrentam diariamente no Oriente e no Ocidente. Essa pergunta se origina de uma antiga campanha que um concorrente lançou por meio de um microsite anônimo.

O objetivo? Corroer a confiança da marca à medida que estávamos crescendo e competindo para atrair novos parceiros e investidores.

Se olhar para empresas como a nossa e FTX, Crypto.com, etc., verá que nossas organizações têm perfis de funcionários muito semelhantes. No entanto, nos últimos dois anos, conforme expandimos para a Europa e Oriente Médio, recrutamos uma equipe de liderança mais sênior.

Hoje, o time executivo da Binance é predominantemente dominado por europeus e americanos. A base de funcionários está ainda mais distribuída globalmente.

Apesar desses fatos, algumas pessoas insistem em nos chamar de “empresa chinesa” e, ao fazê-lo, não estão fazendo uma boa associação. Esses tipos de campanhas negativas são muito mais comuns do que as pessoas imaginam.

Vimos até mesmo exchanges e projetos de criptomoedas criarem seus próprios sites de “notícias” para atacar os concorrentes, e esses sites agora são frequentemente classificados erroneamente como fontes de notícias independentes pelo Google News.

Eu riria também, se não fosse tão sério e desanimador as inúmeras vezes em que eu tive que explicar as diferenças entre uma organização como CoinGeek e CoinDesk para pessoas em posições de poder. E esses tipos de ataques estão ficando cada vez mais sofisticados.

Recentemente, o CryptoLeaks publicou um relatório mostrando como uma empresa está usando litígios para semear dúvidas sobre projetos concorrentes de blockchain. E embora seja tentador lançar contra-ataques aos maus atores da indústria que se envolvem nessas atividades, não nos baseamos nem abandonamos nossos valores.

Esses tipos de campanhas corroem a confiança em todo o setor. Somos construtores. Podemos competir neste espaço e ainda torcer pelos sucessos uns dos outros.

NOSSA RESPONSABILIDADE

Somos a maior exchange de criptomoedas e empresa Web3 do planeta. Com isso, vem uma grande responsabilidade e uma expectativa de enfrentar um escrutínio adicional.

No entanto, é importante lembrar que nossa indústria ainda está em sua infância.

Quando sua empresa de repente passa de startup para a lista da Fortune 100 da noite para o dia, ninguém aparece em seu escritório no dia seguinte com 1 mil executivos experientes, processos eficientes e tecnologias para operar nos mesmos padrões de uma instituição financeira estabelecida há duzentos anos.

Como todas as outras exchanges de criptomoedas, aumentar e aprimorar nossa equipe e amadurecer nossos sistemas, para acompanhar o crescimento da indústria, tem sido o maior desafio da minha carreira. Isso é algo que eu abracei e em que investi pesadamente até agora.

A INDÚSTRIA DE CRIPTO FLORESCE NA ÁSIA

Antes de retornar ao meu ponto principal, permita-me relatar uma história rápida e simplificada da indústria de criptomoedas, que surpreendentemente poucas pessoas entendem. Por volta de 2015 ou 2016, a indústria viu a primeira onda massiva da febre cripto entre os millennials coreanos e japoneses.

Isso aconteceu no momento em que ambas as sociedades estavam em pânico com o crescente envolvimento dos jovens em uma cultura que existia principalmente online. Isso se manifestou na noção de que homens e mulheres jovens simplesmente desperdiçariam suas vidas online e uma geração inteira seria perdida.

Então, você pode imaginar como a onda cripto alimentou esses problemas. O que resultou foi uma série de repressões de criptomoedas na Coreia e no Japão.

Durante esse período, a China rapidamente percebeu que abraçar essa indústria nascente tinha o potencial de gerar benefícios consideráveis para sua economia.

Enquanto o governo chinês manteve uma posição pública severa sobre criptomoedas, silenciosamente, nos bastidores, ajudou a fortalecer essa indústria nascente e apoiou seu crescimento dentro de suas fronteiras. Os melhores e mais curiosos engenheiros e investidores da Web3 se reuniram em Xangai e Hong Kong.

HISTÓRIA COMPLEXA COM A CHINA

Em 6 de agosto de 1989, minha mãe e eu deixamos a China e emigramos a milhares de quilômetros de distância para o Canadá. Para quem conhece a história chinesa, isso aconteceu dois meses depois dos eventos de 4 de junho de 1989. Eu tinha 12 anos.

Meus pais eram professores. Na época, morávamos no campus da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hefei, uma das quatro melhores universidades da China. Embora eu não tenha entendido muito o que estava acontecendo, ouvi trechos de conversas de universitários mais velhos e, pelo que pude juntar, tive a sorte de poder sair naquele momento.

Normalmente levava quatro anos para se obter um passaporte, e mais dois a três anos para obter um visto canadense se tivéssemos sorte.

Mas depois do incidente, a embaixada canadense abriu e nos deu vistos rapidamente. Lembro que a fila do lado de fora da embaixada canadense durava três dias. Tivemos que fazer turnos à noite para manter nossa posição na fila.

Isso mudou minha vida para sempre e abriu infinitas possibilidades para mim. Passei meus melhores anos como adolescente em Vancouver e depois fui para a McGill em Montreal para fazer faculdade. Depois disso, trabalhei em Tóquio e Nova York (Bloomberg) por alguns anos.

Em 2005, a indústria de tecnologia da web começou a explodir na China, então fui a Xangai para lançar uma startup de TI junto com outros cinco expatriados: dois americanos, dois britânicos, um japonês e eu, um canadense. A empresa foi designada como “Empresa Estrangeira de Propriedade Integral” (em inglês, Wholly Foreign Owned Enterprise – WOFE), pois nenhum de nós era cidadão chinês.

Para os negócios, esse ponto foi um obstáculo considerável a ser superado. Quando eu estava financeiramente estável o suficiente para comprar um apartamento em Xangai, tive que pagar 25% a mais de imposto por ser estrangeiro.

Sim, o mesmo apartamento que vendi para comprar bitcoin em 2014. Sem a taxa, eu poderia ter 25% mais bitcoin hoje.

Entre 2005 e 2015, tentei criar vários projetos de startup diferentes antes de finalmente mergulhar no espaço cripto. Eu era um empreendedor em série procurando construir uma startup de sucesso antes de entender minha paixão. Este é de longe o desafio mais fundamental para qualquer jovem empreendedor.

Dois anos antes da Binance, iniciei uma empresa chamada Bijie Tech, fornecendo plataformas de serviço de trocas e para operadores de exchanges. Tínhamos 30 clientes a bordo e era um bom negócio. Eram principalmente negociações de arte e itens como selos, cartões de beisebol, etc.

Infelizmente, em março de 2017, o governo chinês encerrou todas essas empresas. Todos os nossos clientes faliram.

Mais tarde, começaria a tomar forma a concepção da Binance. Era uma ideia simples, na qual as transações cripto mais simplificadas poderiam fornecer uma experiência de usuário sem atritos e sem sacrificar recursos úteis.

SAINDO DA CHINA

Levei algumas pessoas da equipe Bijie para a Binance e juntos lançamos a Binance em 14 de julho de 2017. No entanto, apenas um mês e meio depois, antes que a Binance pudesse ser devidamente estabelecida, enfrentamos nossa primeira interrupção significativa.

Em 4 de setembro de 2017, o governo chinês emitiu um memorando afirmando que as exchanges de criptomoedas não tinham permissão para operar na China.

Eles, então, bloquearam nossa plataforma atrás do Grande Firewall. Nesse momento, a maioria dos nossos funcionários deixou a China. Apenas um pequeno grupo de agentes de atendimento ao cliente permaneceu por lá até o final de 2018.

A ironia de que mais uma vez fui forçado a deixar a China – aproximadamente 30 anos depois que meus pais fugiram com minha irmã e eu – não passou despercebida.

Nossa equipe de liderança decidiu em conjunto que trabalharíamos remotamente. Logo, a COVID-19 se espalhou globalmente e o mundo inteiro mudou para o trabalho remoto. Isso nos permitiu continuar crescendo como empresa e atrair os melhores talentos, embora ainda estivéssemos procurando um lugar para plantar nossas raízes.

Desde então, nosso modelo de trabalho remoto se normalizou em todo o mundo. A Coinbase foi listada no NASDAQ sem indicar uma sede em sua declaração de registro S-1.

Como mencionei, quando começamos a Binance há apenas cinco anos, éramos um grupo desorganizado de entusiastas e engenheiros de criptomoedas. Também tivemos que lidar com o desafio de lançar um negócio no auge do Bear Market (o mercado baixista), desencadeado pela repressão na Coréia e no Japão.

No lado positivo, foi um momento relativamente bom para entrar no mercado de criptoativos, porque os preços estavam baixos. É por isso que muitas grandes exchanges, como FTX e Crypto.com, foram criadas em Hong Kong nessa mesma época.

“APROVEITANDO QUE VOCÊ ESTÁ AQUI, QUEM É GUANGYING CHEN?”

Então, depois desta contextualização, quem é Guangying Chen?

Conheci Guangying (Heina) Chen quando ela trabalhava na loja de vinhos do meu amigo em 2010. Mais tarde, ela trabalhou como gerente de serviços em um grande banco comercial, onde também gerenciava o back office (RH/finanças/administração).

Em 2015, quando iniciei a Bijie Tech, pedi à Guangying que trabalhasse para mim. Pedimos para ela gerenciar o back office, pois à princípio a equipe era composta principalmente de engenheiros. Por causa das leis restritivas na China em torno de estrangeiros (como eu, um cidadão canadense), é muito mais fácil ter um cidadão chinês listado como representante legal.

Já que Guangying era uma cidadã chinesa e estava gerenciando o back office para nós, ela concordou. Esta é uma prática muito comum na China.

Como o nome dela está listado nos primeiros documentos da Bijie Tech, os detratores da Binance aproveitaram a oportunidade para espalhar uma teoria da conspiração de que Guangying era uma proprietária secreta da Bijie Tech e possivelmente até da Binance.

Como resultado, ela e sua família foram alvo de assédios pela mídia e por trolls online. Se eu soubesse o impacto negativo que isso teria na vida dela, jamais teria pedido para ela fazer o que parecia ser um passo tão inofensivo na época.

Como muitos dos primeiros funcionários da Binance, Guangying teve que deixar sua família, sua casa e seus amigos para trás quando a maioria de nós deixou a China em 2017.

Foi um tremendo sacrifício e ela é uma das poucas pessoas que realmente entende o impacto que isso teve em todos nós. Ela ainda carrega esse fardo até hoje, já que os meios de comunicação chineses sensacionalistas continuam a espalhar teorias da conspiração sobre ela.

Hoje, Heina Chen é portadora de passaporte em um país europeu onde vive em relativa paz com sua família. Digo “relativa paz” porque, com muita frequência, os tablóides desenterram essas velhas teorias da conspiração, desencadeando outra rodada de assédio contra ela e seus entes queridos.

À medida que crescemos nos últimos cinco anos, muitos dos funcionários e fundadores originais assumiram novas funções na companhia. Guangying atualmente supervisiona a equipe de administração e compensação da empresa.

Para concluir, ela não é dona da Binance e não é um agente secreto do governo chinês.

ENTÃO, A BINANCE É UMA EMPRESA CHINESA?

Não. Qualquer pessoa com um conhecimento rudimentar de direito societário ou de como as empresas funcionam entenderá isso: a Binance nunca foi constituída na China. Tampouco operamos culturalmente como uma empresa chinesa.

Temos subsidiárias em muitos países, incluindo França, Espanha, Itália, Emirados Árabes Unidos e Bahrein (para citar alguns). Mas não temos nenhuma entidade legal na China e não temos planos para isso. Hoje acredito ser fundamental esclarecer esses fatos.

O maior desafio que a Binance enfrenta hoje é que nós (e todas as outras exchanges offshore) fomos designados como uma entidade criminosa na China. Ao mesmo tempo, nossa oposição no Ocidente faz malabarismos para nos estigmatizar como uma “empresa chinesa”.

A conclusão é que, por termos funcionários etnicamente chineses, e talvez porque eu seja etnicamente chinês, estamos secretamente no bolso do Partido Comunista Chinês. Somos um alvo fácil para interesses especiais, mídia e até reguladores que odeiam nosso setor.

Isso obviamente não é verdade.

As minhas notícias favoritas são as que fazem de tudo para apontar que sou um “CEO sino-canadense” ou, melhor ainda, “nascido na China, educado no Canadá”. Eu sou um cidadão canadense, ponto.

O simples fato de ser descendente de chineses ou ter emigrado da China não deveria ser uma letra escarlate a ser usada pelo resto da vida. Tampouco deveria dar às pessoas a liberdade de caluniar, fazer falsas alegações ou questionar a lealdade de alguém ao seu país.

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