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Rodolfo Amstalden: está na hora de me aposentar

27 fev 2020, 12:57 - atualizado em 27 fev 2020, 12:57
cofrinho ouro
Para o colunista, se aposentar é construir um projeto de investimentos em longo prazo, pegar apenas o que quer da vida e trabalhar apenas com o que se gosta (Imagem: Pixabay/QuinceMedia)

Estive pensando nisso ontem, logo depois do almoço, enquanto ainda tentava digerir aquela coxa de galinha com gosto de sangue.

Carne é sempre mal passada, frango é sempre bem passado. Mas alguém trocou a ordem das coisas.

Podemos trocar a ordem das coisas de duas formas.

Por oposição, negativando o que antes era positivo.

Ou por inversão, elevando a menos um.

Embora o primeiro método seja usualmente aceito, não me perturba.

Fico mesmo transtornado quando o mundo vira de cabeça para baixo.

Felizmente, com Ibovespa forward negociando a 12 vezes lucros esperados, vejo a Bolsa caída de cabeça para cima.

Ou, como diria um grande amigo meu, também pensando em se aposentar, “com um olho roxo, faltando um dente na frente, mas tamo de pé, hahahha”.

Doze vezes lucros, 8,3% de yield ao ano para reinvestir ou pagar proventos; cada um que escolha o seu caminho, há de ser melhor do que a Selic.

Das contas de mercado que eu ainda sei fazer, não há nenhuma que um jovem recém-formado na Poli (ou mesmo no Insper) não possa fazer melhor e mais rápido.

Também não consigo construir networking, tampouco criar vantagem contra exércitos de quant traders.

Só me resta, portanto, uma saída: está na hora de me aposentar.

Em quinze anos de mercado que logo serão vinte, vou colecionando tropeços, arranhões, chutes tomados na cara, mata-leão, olhos roxos e dentes quebrados.

Quanto mais apanho, mais sinto que estou de pé, pronto para me aposentar.

O que é, então, se aposentar? Qual o significado disso?

Se você pensou primeiro em largar tudo, parar de trabalhar, viver de sofá e TV, pensou errado.

Na minha concepção do Empiricus FIRE®,se aposentar é construir um projeto de investimentos em longo prazo, pegar apenas o que quer da vida e trabalhar apenas com o que se gosta.

Até porque, conforme vimos ontem, projetos financeiros de curto prazo não servem para nada, são dizimados por eventos extremos.

Se não investirmos pensando em carregar posições por anos, é melhor não sair de casa, voltar para baixo do cobertor quando está frio e está chovendo, e declarar-se um derrotado a priori.

Nos dias como o de ontem, tal como disse o nosso Telegram, separamos meninos de homens.

Separamos os arranjadores de atestados falsos dos que vão trabalhar com 40 graus de febre. Separamos os que contam vantagem até o primeiro trauma dos que investem calados por uma década.

Antes de ontem, eu estava para me aposentar. Depois de ontem, continuo me aposentando.

Minha hora vai chegar, e nada tem a ver com a hora do coronavírus, pois não tenho dúvidas em me classificar como um ser vivo.

Juntos, podemos recuperar tranquilamente uma queda de 7% da Bolsa ao devido tempo.

A única coisa que não conseguimos resgatar na vida é o próprio tempo.

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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