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Sanções ao Irã não estão funcionando como os touros do petróleo imaginavam

30 abr 2019, 15:34 - atualizado em 30 abr 2019, 15:34

Por Investing

A crença popular era que os preços do petróleo sairiam de controle com o anúncio do fim das isenções norte-americanas ao petróleo iraniano, com o mercado registrando uma máxima atrás de outra.

Gráfico 30 Minutos Petróleo WTI - Powered by TradingView
Gráfico 30 Minutos Petróleo WTI – Powered by TradingView

Bem, o petróleo de fato rompeu resistências importantes: US$ 65 para o West Texas Intermediate americano e US$ 75 para o Brent do Reino Unido. Mas a correção subsequente foi tão memorável quanto os eventos que provocaram a disparada do mercado, particularmente em razão da maneira como se deu.

Uma semana após a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de não renovar as isenções concedidas aos compradores do petróleo iraniano, os touros não estão fazendo festa como deveriam.

Depois de passarem praticamente uma semana em torno das máximas de seis meses, os preços do petróleo caíram sem cerimônia nada menos que 3% na sexta-feira, e vêm enfrentado dificuldades para subir desde então. O culpado? O mesmo Trump que, depois de fazer a Arábia Saudita ter ataques de alegria ao dar o golpe final em seu arquirrival na Opep, voltou a pressionar a Riad a elevar a produção, a fim de compensar os barris hipoteticamente perdidos do Irã.

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Nada de dinheiro fácil para os touros

Além das conflitantes manobras de mercado de Trump – que parecem ser tão diabólicas para os touros do petróleo quanto o “mal” de Teerã que ele diz combater –, há razões para acreditar que somente a intensificação das sanções ao Irã, a partir da meia-noite de 1 de maio, não será capaz de fazer os comprados ganharem dinheiro fácil no mercado.

Um argumento para isso é a engenhosidade e a forma dissimulada com que os iranianos conseguiram distribuir seu petróleo ao mundo em níveis superiores aos permitidos pelo governo Trump durante as isenções concedidas no ano passado, inclusive quando não tinham permissão para exportar nada.

Entre as estratégias adotadas pelos iranianos está o desligamento dos transponders dos navios-tanque que carregavam o petróleo do país, a fim de garantir que não fossem detectados pelos serviços de rastreamento até seu destino final, e a interrupção do uso do dólar americano nas negociações petrolíferas, para reduzir ainda mais a detecção.

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Agora, com a China desafiando abertamente os EUA, ao sugerir que ainda continuará adquirindo pelo menos parte do petróleo iraniano (cerca de metade da produção de 1,1 milhão de barris por dia de Teerã se destina aos chineses) e diante de rumores de que Trump está considerando conceder uma isenção especial para Pequim, apesar do que dizem representantes do seu governo, a perspectiva para os preços do petróleo não poderia ser mais turva.

Portanto, quais danos o Irã poderia causar aos planos dos touros no petróleo?

Como em qualquer bom debate, há teorias opostas de duas consultorias líderes no mercado: a Energy Intelligence, de Nova York, e a Energy Aspects, de Londres.

Menos exportações de Teerã por mais tempo?

A Energy Intelligence acredita que as exportações do Irã cairão para cerca de 500.000 barris por dia (bpd), ou 55% menos do que no ano passado, na medida em que compradores frequentes, como a China, Turquia e Índia, reduzirão seus pedidos com medo de serem alvo de Washington, apesar de reclamarem do unilateralismo dos EUA nessa questão.

A Energy Intelligence também argumenta que haverá produtores suficientes na Opep, como a Arábia Saudita, dispostos a cobrir a ausência do Irã, embora os barris fornecidos por eles possam apresentar preços muito maiores, o que sustentaria o rali do petróleo.

A consultoria observou que, apesar das reclamações de Pequim exigindo isenções, não havia certeza de que dois navios-tanque com petróleo iraniano previstos para chegar à China no início de maio fariam o descarregamento, pois seu equipamento de rastreamento estava desligado havia mais de uma semana.

A consultoria de Nova York afirmou:

“A agressividade renovada de Washington significa que o mercado precisará se adaptar à redução das exportações do Irã por mais tempo.”

“Ninguém vai morrer para ajudar os iranianos”, complementou, citando um trader não identificado.

A China conseguirá as isenções que deseja?

A Energy Aspects, por outro lado, apresenta uma estimativa mais generosa: 600.000 bpd de exportações do Irã, a partir de maio/junho.

Isso sem contar outros 100.000 ou 200.000 bpd de petróleo que Teerã poderá contrabandear, incluindo cerca de 50.000 bpd que o país já fornecia ao regime de Assad na Síria.

Mais do que qualquer outro aspecto, a consultoria de Londres aposta na perspicácia do Irã para fazer isso.

A Energy Aspects diz ainda:

“O Irã pode continuar trapaceando através de diversos mecanismos, como as transferências de carga entre embarcações, a falsificação de documentos para ocultar as origens dos carregamentos e o desligamento dos transponders dos navios.

O Irã tem muita experiência e incentivo para fornecer o máximo de petróleo possível sem ser notado, mas existem limites práticos. O contrabando de produtos petrolíferos é comum, graças à dimensão reduzida dos carregamentos, mas é muito mais difícil fornecer volumes maiores de petróleo aos compradores sem ser detectado.”

“Alguns compradores podem optar por continuar adquirindo petróleo do Irã, seja porque acreditam que podem esconder as transações ou porque têm uma exposição reduzida aos EUA, o que reduziria a relevância das penalidades.

A extensão da trapaça dependerá, em parte, de como os EUA forçarão o cumprimento das sanções. Se as autoridades norte-americanas forem proativas, talvez anunciando com antecedência algumas sanções importantes, o desencorajamento será reforçado. Mas, neste momento, ainda não está claro se o governo dos EUA está disposto a punir empresas de destaque se elas violarem as sanções.”

A consultoria de Londres afirma que, se a China de fato receber uma isenção dos EUA para negociar com o Irã, a compra provavelmente será feita pela Zhuhai Zhenrong, empresa com exposição limitada aos EUA, por meio de bancos igualmente isolados.

A Energy Aspects estima que Zhuhai possui um contrato a termo para 240.000 bpd e pode receber mais 30.000 a 40.000 bpd se for designada novamente pelos EUA, tal como ocorreu no governo Obama em 2012.

A consultoria disse ainda: “Isso pode, de várias maneiras, preservar as aparências tanto para os EUA quanto para a China.”

John Kilduff, sócio do hedge fund de energia Again Capital, de Nova York, afirma que, no longo prazo, o Irã espera aguentar essa situação até a reeleição de 2020 nos EUA, na esperança de que um presidente mais maleável assuma o poder – embora não haja certeza disso. Ele complementou: “Os iranianos vão sobreviver. Eles possuem um dos regimes mais rígidos do planeta.”