Política

Trocas em ministérios favorecem articulação com Congresso, mas equilíbrio é tênue

30 mar 2021, 17:31 - atualizado em 30 mar 2021, 17:31
Congresso
O movimento foi encarado por diversos parlamentares como um explícito aceno ao centrão (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

A decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar os comandos de seis ministérios, principalmente do Itamaraty, Casa Civil, e Secretaria de Governo, melhoram o clima do governo com o Congresso e trazem certa segurança ao chefe do Executivo, mas essa tranquilidade é momentânea, sutil, e pode sofrer mudanças a depender da conjuntura, avaliam parlamentares.

Ao escolher a deputada Flavia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo, Bolsonaro marcou pontos com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e seu grupo político, conhecido como centrão.

Ainda que não seja uma unanimidade entre os colegas de Congresso, a deputada firma, no Planalto, uma ponte direta com o comando da Câmara, o que facilita o canal para demandas e reclamações.

O movimento foi encarado por diversos parlamentares como um explícito aceno ao centrão.

A articulação política ganhou um reforço com a ida do general Luiz Ramos para a Casa Civil, no lugar de Braga Netto.

Na leitura de uma fonte do Congresso, o novo ministro da Casa Civil tem bom trânsito e conta com a simpatia de muitos parlamentares, diferente de seu antecessor.

Com isso, apesar de a Casa Civil não ser a responsável direta pelas negociações com o Congresso, entende-se que o Planalto acaba ficando mais acessível.

E Bolsonaro ainda tentou um aceno ao Senado quando trocou o comando do Ministério das Relações Exteriores, algo já precificado diante da pressão de senadores na última semana e intensificada no fim de semana, quando o então ministro Ernesto Araújo decidiu abrir fogo contra a presidente da Comissão de Relações Exteriores, Kátia Abreu (PP-TO).

O novo chanceler, no entanto, não é muito conhecido e parlamentares, embora esperassem alguém mais experiente, ainda aguardam para avaliar a situação.

Depende do Presidente

Avaliação interna de um partido de centro dá conta de um resultado neutro, um ponto de equilíbrio nas movimentações do presidente.

De um lado sinalizou ao Congresso, de outro, a sua base mais radical com a indicação de amigo de seus filhos para o Ministério da Justiça, o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, que até a véspera respondia pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.

Por outro lado, para essa sigla, com o reforço, Bolsonaro não deve ceder em seu discurso ou na sua atuação frente à pandemia de coronavírus.

Outros parlamentares alertam que a estabilidade conquistada é frágil e vulnerável ao desenrolar dos próximos dias.

“Noves fora o equilíbrio depende do presidente”, avaliou o senador Wellington Fagundes (PL-MT), relator de comissão do Senado que acompanha as ações do governo de combate à crise do coronavírus.

O senador foi um dos que avaliou como positiva a escolha de Flávia Arruda para a Secretaria de Governo e de Ramos para a Casa Civil.

Da mesma forma, o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), avalia que o clima no Congresso tende a arrefecer, mas pondera: “a linha é muito tênue”.

O deputado Fábio Trad (PSD-MS), vice-líder do maior bloco da Câmara, explica que o Congresso é constituído por uma correlação de forças.

Alguns grupos podem não ter se sentido contemplados com as mudanças ministeriais, mas uma coisa é certa para o parlamentar: “enquanto a pandemia estiver avançando , o clima continuará tenso”.

Trad avalia que tendo representantes do centrão no Planalto, o governo garante alguma estabilidade.

“É incontestável que, nomeando o centrão no primeiro escalão, terá menos intranquilidade politicamente no Parlamento. A não ser que ocorram fatos imprevisíveis.”

Agro

Outro alvo de críticas recentes de parlamentares, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles passou incólume nas trocas de segunda.

Segundo uma fonte da Frente Parlamentar da Agropecuária, o ministro não é visto entre os integrantes do grupo como um grande obstáculo.

Articulado, o setor se organizou em campanhas para garantir seus maiores compradores incluindo a China e conseguiu abrir novos mercados, apesar da imagem desgastada do Brasil no exterior em relação ao meio ambiente.

Mas parlamentares da frente nutrem insatisfação com o governo, sim.

O problema da vez diz respeito a veto de Bolsonaro ao Fiagro, Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), instrumento de captação de recursos para o agronegócio no mercado financeiro.

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