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Unick Forex diz que é e-commerce e nunca foi empresa de investimento

29 ago 2019, 19:19 - atualizado em 29 ago 2019, 19:28
Real Dinheiro
A estratégia da empresa é tentar evitar ser enquadrada em crime financeiro (Imagem: REUTERS/Bruno Domingos)

Por Arena do Pavini 

A Unick Forex, que oferecia investimentos com retorno de até 100% em seis meses e parou de pagar os resgates em 2 de agosto, diz agora que nunca foi uma empresa de investimentos. “Somos uma e-commerce, uma estrutura empresarial cuja atuação é feita no mercado digital”, informou, em resposta a um investidor no site Reclame Aqui. “A UNICK nunca foi empresa de investimento, ela não paga rendimentos, e sim bonificações”, acrescenta a nota.

A estratégia da empresa é tentar evitar ser enquadrada em crime financeiro, apesar de inúmeros vídeos em que diretores afirmam trabalhar com investimentos. A empresa já havia mudado seu site, afirmando que era uma empresa de venda de mercadorias no sistema multinível, de criação de redes de revendedores, como a Avon e a Natura, com pacotes educacionais que pouco eram mencionados no site.

Mas continuava mostrando tabelas em que prometia retornos de 200% para os investimentos dos clientes. E a maioria dos clientes sequer olhava os conteúdos educacionais, querendo mesmo era dobrar o capital investido. A empresa também mudou de nome, para Unick Academy, para reforçar que seria uma empresa educacional.

Ganhos de até R$ 12 mil em um dia com indicações

Além dos 100% em seis meses sobre o valor investido, a Unick pagava 10% do valor aplicado pelas pessoas indicadas, o bônus por indicação. Havia ainda uma comissão menor de quem os indicados atraíam para a rede. Tudo era pago em 12 dias úteis. Um dos participantes, que pediu para não ter seu nome citado, contou ao Portal do Pavini que chegou a ganhar R$ 16 mil em um só dia com indicações.

“Teve semana de ganhar 12 mil”, diz esse participante, que passou a viver da Unick e tornou-se líder de grupo, com uma rede direta de 50 indicados e uma indireta de 300 pessoas. Quatro desses investidores diretos e dois indiretos aplicaram valores que somavam mais de R$ 1 milhão. “Um deles aplicou mais de R$ 200 mil e não chegou a sacar nada”, conta. Perguntado sobre o que a empresa vendia, o líder diz que havia pacotes de cursos e vídeos.

“Mas ninguém estava interessado nisso, o que interessava era o rendimento de 100% e os bônus de indicação”, diz. Em meados de julho, porém, a empresa começou a falhar no pagamento das comissões por indicações. “Eles estornaram os bônus e ficaram de refazer os pagamentos, pagaram uma parte e outra ficou para trás”, explicou.

Foi então, em agosto, que a empresa anunciou a manutenção de 10 dias para atualizar o sistema. De lá para cá, nada mais foi pago e a empresa anunciou que não pagará mais os bônus por indicação. “Até hoje a plataforma também não está 100%, os valores não aparecem ou aparecem zerados”, diz.

Diamantes ameaçados

Ele era, porém, um líder pequeno. “Se tivesse entrado no começo, há dois anos, teria ganho muito mais e poderia ser um diamante”, afirma. Os “diamantes” chegavam a ganhar milhões com suas redes.

“Mas ainda bem que não cresci muito, pois imagine agora dar satisfação para toda essa gente, e ainda sofrer as ameaças que esse povo está sofrendo”, afirmou. Hoje, vários diamantes apagaram seus perfis nas redes sociais e estão escondidos, sendo alvo de investigações dos investidores, que procuram saber onde moram seus parentes e fazem ameaças.

Explicações mudam a toda hora

O líder também reclama das explicações dadas pela empresa. No dia 2 de agosto, a Unick tirou o site do ar, alegando que precisava atualizar o sistema, fazer um “pitstop” devido ao sucesso da empresa e prometeu “grandes surpresas”. Mas, dez dias depois, informou que só iria devolver o principal aplicado pelos clientes, e em parcelas, pois havia sofrido um golpe de R$ 1,4 bilhão de hackers, e que por isso havia suspendido as operações.

Depois, corrigiu o valor para R$ 1,6 bilhão. Quem quisesse cancelar a aplicação e sair da empresa teria de pagar 30% de multa e mais 8% de resgate.Dois dias depois, outra mudança: sob pressão dos líderes e dos participantes, a empresa anunciou que voltaria a pagar 100% de rendimento para quem deixasse o dinheiro aplicado e não tivesse sacado ainda 100% do valor inicial. E suspendeu a multa de 30% e a taxa de 8% no resgate.

Três avisos da CVM

A Unick e seus sócios foram alvos de três alertas ao mercado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre oferta irregular de investimentos e responde agora a um processo administrativo sancionador, quando há indícios de irregularidades. A empresa está sendo investigada por suspeita de esquema de pirâmide financeira. Em 16 de agosto, a empresa apresentou proposta de termo de compromisso para encerrar o processo. O termo está agora sendo analisado pela Procuradoria Federal Especial da CVM.

Cancelamento com foto e recibo antes do pagamento

Em meio a esse processo, a empresa ganha tempo. Ainda não colocou o site com os “escritórios” dos investidores de volta no ar, como estava prometido para 12 de agosto e depois adiado para dia 16 e agora novamente para semana que vem.A Unick também promete devolver o dinheiro dos investidores que desistirem do negócio.

Os pedidos de cancelamento dos “contratos” não terão mais a multa de 30% inicialmente estabelecida pela empresa, nem os 8% de comissão. Mas têm de ser feitos até dia 30 de agosto e, depois, a empresa vai analisar os pedidos até dia 5 de setembro.

O dinheiro será creditado 12 dias depois, segundo a empresa, ou seja por conta do dia 17 do mês que vem.Antes, porém, o cliente tem de mandar a documentação e uma foto segurando o documento de identidade para a Unick. Depois, ele recebe da Unick um documento onde constam suas aplicações e que terá de ser devolvido com assinatura reconhecida em cartório dando total quitação dos valores. Ou seja, o recibo será enviado antes da liberação do crédito.

Garantia de satisfação e loteamento em Goiás

Além dos ganhos, a Unick oferecia uma “garantia de satisfação” de uma empresa chamada S/A Capital, que não é uma seguradora e tem os mesmos sócios da Unick. A garantia seria um loteamento no município de Cristalina, em Goiás. Nada mais, porém, é dito sobre essa garantia.

Grupos de discussão e novos esquemas

Praticamente todos os dias, os chamados “líderes” de grupos, os “diamantes”, divulgam comunicados informando as novas promessas da empresa, alimentando as esperanças dos investidores que estão sem receber. Os comunicados são repassados nos grupos de discussão dos investidores da Unick no Whatsapp. No meio de tudo isso, há ainda representantes de outros esquemas semelhantes aos da Unick que entram nos grupos oferecendo ganhos tão mirabolantes quanto os da empresa, tentando atrair investidores.

Dinheiro emprestado para investir na Unick

Nesses grupos, vários investidores afirmam que venderam bens ou pegaram dinheiro emprestado para aplicar na Unick ao verem as promessas de retorno altíssimo. Outros, desesperados, dizem que gastaram todas as economias e estão passando necessidade, sem dinheiro para pagar o aluguel. Mas há também os que já tiveram lucros, mas reclamam que a empresa não pagou tudo que prometeu.

Poucos, porém, afirmam que entraram na Justiça contra a empresa ou denunciaram o caso. Alguns até torcem para que a empresa volte a atrair investidores para voltar a pagar.

O próprio líder ouvido pelo Portal do Pavini diz que ainda acredita que a empresa vai se recuperar. “Ela vai se levantar, mas vai ser menor, com menos ganhos”, afirma. E diz que há investidores que, mesmo depois de todas as dificuldades de pagamento da empresa, não querem pedir o resgate, pois acham que o rendimento prometido é muito maior que o que teriam na poupança. Mas o líder admite que já tem um advogado para processar a Unick caso a empresa não cumpra as promessas. Advogado inclusive que também aplicou na Unick.

Enquanto isso, a Unick anunciou na semana passada que vai lançar uma moeda digital, a Criptoquadra (CQDX). Antes, a empresa já havia anunciado e depois desmentido a criação de um banco digital.

A Unick Forex, como o nome diz, deveria ser uma empresa de negociação de moedas no mercado internacional, o chamado Forex. O problema é que o Forex não é regulamentado no Brasil. O CNPJ da empresa é de uma empresa comercial.

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