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Vale (VALE3) a R$ 70: Mercado finalmente acordou para as ações?

01 nov 2023, 17:31 - atualizado em 01 nov 2023, 17:31
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Vale marcou seu quinto pregão seguido de alta nesta quarta-feira (1º) (Imagem: Reprodução/Instagram/Vale)

A Vale (VALE3) voltou a subir nesta quarta-feira (1º) de decisão de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Impulsionada pelos patamares ainda resistentes do minério de ferro, a mineradora viveu seu quinto pregão seguido de alta, superando a marca dos R$ 70 pela primeira vez desde meados de setembro.

Alguns fatores explicam essa engatada recente do mercado de minério de ferro e dos papéis, segundo analistas.

Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos, diz que notícias envolvendo potenciais estímulos adicionais pelo governo chinês para tentar aquecer a economia do país têm dado suporte aos preços da matéria-prima siderúrgica, o que acaba beneficiando diretamente a Vale, uma vez que boa parte do mercado da companhia está concentrada na Ásia.

Existe ainda um adicional positivo. A Vale reportou na semana passada resultados em linha com o esperado, o que também contribuiu para que o sentimento sobre as ações melhorasse nos últimos dias.

Apesar da queda na produção de minério de ferro, preços mais altos praticados no terceiro trimestre ajudaram a levantar o Ebitda, destaca a Daycoval. Além disso, o guidance de produção de minério de ferro para 2023 foi mantido em 310-320 milhões de toneladas, o que mostra a confiança da Vale em relação ao alcance da meta, acrescenta o banco.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, acredita que a Vale entregou bons resultados. Embora ainda baixos, os prêmios registraram melhora.

Outro ponto positivo que Arbetman levanta é a queda no custo caixa do segundo trimestre do ano para o terceiro.

“A gente vai ter que ver uma nova queda nesse custo no quarto trimestre. É um ponto que traz um nível de expectativa para o mercado, porque não compete à dinâmica de preços, mas à própria Vale. É algo que teremos que ver”, afirma.

Junto aos resultados, a Vale anunciou o pagamento de R$ 2,33 por ação em dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP), além de um novo programa de recompra de ações. O movimento foi bem recebido pelo mercado e também contribuiu para a valorização recente do ativo.

VALE3 custou a subir

Vale foi uma das ações mais penalizadas pelos investidores no primeiro semestre do ano. Houve, de fato, uma correção nos preços do minério de ferro que levou ao tombo de mais de 20% do ativo nos seis primeiros meses de 2023.

Porém, os níveis relativamente elevados da commodity têm surpreendido parte do mercado a ponto de os analistas revisarem gradualmente a tese da Vale, esperando um cenário melhor para a empresa.

Ainda assim, a ação da Vale tem custado a engatar uma recuperação mais consistente.

Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, liga a fraqueza de desempenho dos papéis da mineradora ao pessimismo do mercado em relação ao crescimento da China, em especial o setor de construção civil.

“Uma vez que o setor chinês de construção vai mal durante o ano inteiro, mesmo os preços [do minério de ferro] estando altos, a expectativa de vendas da Vale foi menor que o esperado. E aí cresceu a dúvida de como vão ficar os volumes daqui para frente”, explica.

Sene, da Nova Futura, ressalta que, olhando para o momento de preço dos papéis da Vale, a companhia tem oscilado entre R$ 62 e R$ 70 desde abril, mostrando uma volatilidade que se limita apenas a essa faixa.

Duarte lembra que essa é a terceira vez no ano que a ação da Vale vai para a região dos R$ 70. Nas duas últimas vezes, ela tocou esse patamar de preço e voltou.

O especialista da AVG Capital afirma que é uma região importante para monitorar, uma vez que pode levar realmente a um movimento de alta mais forte ou, como nas últimas vezes, acabar em correção.

Perspectivas mais animadoras

Fato é que os analistas estão mais otimistas com a tese da Vale. Para o minério de ferro, a Ativa acredita que os preços devem continuar perto da faixa atual, entre US$ 100-120, ou até ultrapassando um pouco esse patamar. Isso porque a produção de aço chinesa segue forte, e a perspectiva é de que siga essa tendência.

“Dificilmente, nos próximos meses, veremos uma derrapada tão grande nesses números”, diz Arbetman.

A recomendação da Ativa para VALE3 ainda é neutra. O analista cita alguns riscos aos papéis da mineradora. Além da China, existe o peso dos provisionamentos para tese, principalmente caso a empresa tiver decisão desfavorável no caso da Samarco.

A Daycoval não acha que a Vale está muito barata, negociando pouco abaixo da média histórica (4 vezes valor da empresa/Ebitda vs. 4,5 vezes).

Anand Kishore, gestor de renda variável, e Eduardo Souza, analista de commodities, destacam que a dinâmica de oferta e demanda do mercado é complexa. Segundo os especialistas do banco, do ponto de vista de oferta, as grandes mineradoras não têm aumentado a capacidade. Por outro lado, a demanda também não tem crescido muito.

Para 2023, a Daycoval acredita que o cenário de preços do minério de ferro não deve mudar muito. Já em 2024, espera-se que a commodity fique na faixa dos US$ 90-100 a tonelada.

Kishore e Souza reforçam, no entanto, que existem boas perspectivas, principalmente do lado operacional, para a Vale.

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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