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Vale (VALE3): Queda do minério de ferro torna ação menos atrativa?

20 jun 2022, 17:26 - atualizado em 20 jun 2022, 17:26
Papéis da Vale encerraram mais um pregão em queda (Imagem: REUTERS/Yusuf Ahmad)

A pressão baixista nos preços do minério de ferro nos últimas dias está afetando o desempenho das ações das mineradoras brasileiras, inclusive Vale (VALE3).

O contrato de minério de ferro mais negociado na bolsa de Dalian, para entrega em setembro, despencou 11% nesta segunda-feira (20), a 746 yuanes (ou US$ 111,60) a tonelada, estendendo a perda de 6% na sexta (17).

Na Bolsa de Cingapura, o contrato de julho para o ingrediente siderúrgico recuou 8% hoje, para US$ 110,40 a toneladas.

Refletindo o recuo da commodity, os papéis da Vale operaram no vermelho. A mineradora caiu 2,47% na Bolsa, cotada a R$ 75,50. A nova queda chega após a desvalorização de mais de 5% na última sexta.

Outras empresas do setor seguiram a mesma trajetória negativa. CSN (CSNA3) e a controlada CSN Mineração (CMIN3) perderam 1% e 3,98%, respectivamente, enquanto Usiminas (USIM5) e Gerdau (GGBR4) marcaram ganhos de 2,74% e 0,17%.

Entendendo a queda do minério

O principal motivo da queda do minério de ferro é a China, que ainda tenta conter os surtos de Covid-19 no país. A imposição da política de “Covid Zero” tem colocado diversos distritos sob lockdown, elevando as incertezas sobre a normalização da atividade chinesa em um futuro próximo.

Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a evolução do coronavírus no país asiático não é novidade por si só.

“Esse ponto é focal nas discussões quanto às expectativas da commodity desde meados de 2020”, destaca.

O que tem deixado investidores ainda mais temerosos é a postura que o governo chinês pode adotar para seguir com sua política de Covid Zero – ou seja, as novas medidas que podem ser feitas para que se tenha um controle maior sobre a disseminação do vírus.

Os lockdowns colocam em xeque as expectativas de crescimento da segunda maior potência econômica mundial. As restrições nas principais cidades da China afetaram diversas cadeias do país, em especial a indústria, que não está rodando em plena capacidade.

Com isso, cresce a preocupação quanto a um potencial colapso do consumo de aço no mercado chinês, visto que a recuperação da demanda (o setor de construção civil continua capengando) não está acompanhando a oferta.

Além da China, outro fator que tem empurrado as commodities para baixo é a crescente inflação nos Estados Unidos.

Charo Alves, especialista de renda variável da Valor Investimentos, aponta a pressão inflacionária norte-americana como principal fator para a queda do minério de ferro nos últimos dias.

Após a divulgação de dados de inflação dos EUA acima do esperado, o Federal Reserve (Fed) anunciou um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros do país, a 1,5-1,75%. Alves diz que isso foi o bastante para os mercados começarem a ‘entrar em pânico’, visto que juros elevados implicam em “trava de crescimento global” e um potencial cenário de recessão, causando impactos nas commodities.

“O cenário de aperto de juros global indica um receio grande de que o mundo entre em recessão e o consumo caia por conta disso”, afirma o especialista da Valor.

Curto prazo pressionado

Arbetman, da Ativa, destaca que o curto prazo de mineradoras e siderúrgicas é de pressão nas margens.

“De forma global, existe uma pressão muito forte no custo caixa e nas margens, tanto de mineradoras quanto de siderúrgicas”, afirma o analista.

De acordo com Arbetman, a alta da inflação e dos juros nos EUA está alimentando o medo dos mercados quanto aos desdobramentos de atividades mais cíclicas, como indústrias básicas (metalurgia, siderurgia e extração de minerais).

“O que o mundo vai fazer para combater a inflação é o que está sobre a mesa neste momento. Quanto os BCs vão tirar de circulação é uma variável que vai se mostrar chave para termos uma noção da força deste movimento”, completa.

Hora de esquecer as commodities?

Minerio de ferro
É cedo para falar que o boom das commodities chegou ao fim, dizem especialistas (Imagem: REUTERS/Muyu Xu)

Algumas commodities atingiram níveis recordes no início do ano, com grande parte do movimento vindo em decorrência da guerra na Ucrânia.

O boom fez com que especialistas do mercado começassem a projetar um ciclo altista mais prolongado para os preços – visão que não muda com a recente queda do petróleo e do minério de ferro.

Para Arbetman e Alves, é cedo para falar que o boom chegou ao fim. Alves concorda, no entanto, que os patamares com que as commodities estavam sendo negociadas eram “insustentáveis”.

De acordo com o especialista da Valor, o mercado deve começar a ver um declínio maior dos preços das commodities se os juros continuarem aumentando – o que, no cenário projetado para os EUA, parece o mais provável de acontecer.

Isso não quer dizer que o investidor deve esquecer as commodities. Gestores estão reduzindo suas exposições, mas Arbetman e Alves ainda veem teses de investimento interessantes no setor.

A Ativa tem recomendação de compra para a Vale, por exemplo. Arbetman defende que, mesmo com uma produção mais baixa, a companhia está preparada para enfrentar os momentos mais conturbados, tanto operacional quanto financeiramente.

“Mesmo diante de uma conjuntura mais nebulosa, vemos atratividade para Vale neste momento”, afirma o analista.

Arbetman e Alves citam como ponto positivo a aprovação do novo programa de recompra de até 500 milhões de ações da mineradora. Nos patamares atuais, a ação também está barata, avaliam.

Em relação à Gerdau, os dois especialistas reforçam a elevada exposição da companhia ao mercado norte-americano, o que, em um cenário de juros altos, pode afetar as operações da siderúrgica.

Na avaliação de Alves, as empresas lá fora tendem a sofrer mais, uma vez que não há perspectiva de fechamento de juros nos EUA.

Arbetman lembra que a Gerdau conseguiu apresentar resultados positivos no primeiro trimestre do ano. Ainda, a baixa alavancagem da companhia abre possibilidade para um aumento de distribuição de proventos, diz o analista.

“Atualmente, [a Gerdau] paga 30% do lucro líquido, mas com folga no caixa. Com o nível de atividade do primeiro trimestre, isso poderia ganhar tração ao longo dos próximos meses”, avalia. Por ora, a Ativa tem recomendação de compra para o nome.

Sobre CSN e Usiminas, a dinâmica é diferente, até porque as duas empresas estão mais expostas ao mercado doméstico.

O cenário de inflação e juros elevados acaba impactando de maneira mais forte a Usiminas e a CSN, diz Arbetman. Além disso, as empresas têm enfrentado maior concorrência com os produtos importados.

Para os dois papéis, a Ativa tem recomendação ‘neutro’. Por outro lado, o analista da casa destaca que as ações sofreram bastante e estão muito descontadas.

Na opinião de Alves, com a perspectiva do fim do ciclo de aperto monetário no Brasil, a Usiminas e a CSN podem “pegar o retorno de aquecimento” e aumentar suas vendas a partir do ano que vem.

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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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