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Veja como foi o desempenho do mercado cripto durante o segundo trimestre

06 jul 2021, 16:48 - atualizado em 06 jul 2021, 16:57
Confira, na primeira parte do artigo por Mira Christanto, da Messari, tudo o que aconteceu no mercado cripto durante o segundo trimestre de 2021 (Imagem: Unsplash/executium)

O segundo trimestre de 2021 foi um dos trimestres mais agitados na história do setor cripto.

A primeira metade do trimestre foi repleta de felicidades, conforme os funcionários da Coinbase (COIN) estouraram champanhe durante a listagem direta da empresa em 14 de abril.

O bitcoin atingiu altas recordes (ATHs) de mais de US$ 60 mil e havia mais holofotes na indústria cripto do que antes.

Investidores institucionais e bancos correram para anunciar seu envolvimento no setor cripto, aplicando capital próprio e lançando novas iniciativas para integrar seus clientes.

Até State Street, o segundo banco mais antigo dos EUA, com mais de US$ 3,1 trilhão de ativos sob gestão, anunciou que irá criar uma plataforma de negociação cripto.

Também vimos a febre especulativa de DOGE, que atingiu US$ 0,74 após Elon Musk ter se declarado como o “Dogefather” — trocadilho com o nome do filme “O Poderoso Chefão” em inglês: “The Godfather” no programa americano Saturday Night Live (SNL).

ASS, SHIBA e CUMMIES também tiveram seus 15 minutos de fama, apesar de as “memecoins” raramente chamarem a atenção da mídia tradicional. Mark Zuckerberg até anunciou os nomes de suas duas cabras, Max e Bitcoin, talvez sugerindo ao mundo que ele é um maximalista da criptomoeda.

Colapso de preço da listagem direta da Coinbase – queda de 38% no 2T21 (Imagem: TradingView, Messari)

O segundo trimestre de 2021 para o bitcoin

Embora o preço do bitcoin tenha subido 10% no início de abril, terminou o mês em -9%.

A queda drástica no valor deveria ter sinalizado que algo estava errado, mas os mercados ignoraram os sinais de alerta de uma grande reversão ou fatiga de mercado, já que o bitcoin havia tido seis meses positivos consecutivos — pela primeira vez desde 2012.

Pensando bem, houve sinais de fatiga do mercado. A listagem direta viu o preço da COIN cair 20% nos primeiros dias de negociação, além de a Tesla também ter anunciado que havia vendido 10% de suas posição de bitcoin por motivos de gestão de tesouro.

No entanto, todos os indícios ainda sugeriam um ciclo de alta conforme o restante do mercado cripto divergia do desempenho de preço do bitcoin. Em abril, o ether subiu 44%, DOGE continuou sua disparada de 463% e até o atrasado ethereum classic (ETC) subiu 146%.

Vencedores e perdedores mensais no acumulado do ano – mudança de preço no setor de moedas (Imagem: Messari)

Em meados de maio, o preço do bitcoin começou a se reverter — vimos a maior reversão, pois foi seu terceiro pior mês na História, com uma queda de 38%. Esse acontecimento pôs fim às narrativas de que o atual ciclo era parecido com o ciclo de alta de 2017.

Rali de preço do bitcoin em 2021 vs. 2017 (Imagem: Messari)

O ciclo mais recente não foi parecido nem com o ciclo de alta de 2013, conforme investidores navegavam por águas desconhecidas. Antes, um auge cíclico de quatro anos não havia sido tão controlado nem uma reversão em meio de ciclo havia sido tão severa.

O mês de maio também trouxe uma série de eventos de notícias negativas, gerando medo, incerteza e dúvida (FUD). Participantes do mercado começaram a se perguntar se esse ataque ao bitcoin foi coordenado.

Notícias negativas incluíam a suspensão de pagamentos com bitcoin pela Tesla, citando preocupações com a governança ambiental, social e corporativa (ESG).

Isso resultou em vários artigos jornalísticos que relataram o uso de carvão e o impacto ao meio ambiente da mineração de bitcoin. Até o Papa comentou sobre o prejuízo da tecnologia baseada em “combustíveis fósseis altamente poluentes”.

O anúncio da Tesla fez com que Elon Musk criticasse o bitcoin, mesmo após ter concordado que a rede incentiva a energia renovável.

Linha do tempo da queda recente do bitcoin, influenciada pelos tuítes de Musk (Imagem: Travis Kling)

Muitas refutações válidas de ESG foram apresentadas, mas foram amplamente ignoradas pela mídia. Michael Saylor até criou um conselho de mineração de bitcoin norte-americano para coletar dados sobre energias renováveis.

Quando parecia que o bitcoin estava indo na direção certa em relação à ESG, o protesto público parou em meados de junho.

O debate de FUD sobre a ESG do bitcoin ficou para outro dia. No segundo trimestre de 2021, o Bitcoin Mining Council (CMC) noticiou que o uso de energia na mineração de bitcoin só totalizava 0,12% do consumo de energia total do mundo.

(Imagem: Bitcoin Mining Council)

Nos EUA, o setor também teve um de seus meses mais agitados de dores de cabeça regulatórias. O Comitê Bancário do Senado Americano pressionou o novo líder da Controladoria da Moeda (OCC) para que revisasse decisões antigas e favoráveis a cripto.

Além disso, foi noticiado que o OCC, a Corporação Federal de Seguros de Depósito (FDIC) e o Federal Reserve estavam debatendo a criação de uma equipe política de cripto entre as agências.

FDIC, em sua tarefa como reguladora bancária federal, enviou solicitações para obter informações bancárias sobre a utilização de criptomoedas.

O Serviço Interno de Receita (IRS) esteve reprimindo evasões fiscais com cripto. Além disso, o IRS, junto com o Departamento de Justiça (DOJ), estavam investigando a maior corretora cripto do mundo: Binance.

O Estado de Nova York apresentou um projeto de lei ao Senado que interrompe a mineração de bitcoin por três anos até avaliar seu impacto ambiental. O Tesouro Americano ordenou que transferências de criptomoedas acima de US$ 10 mil fossem informadas ao IRS.

Janet Yellen, secretária do Tesouro, considerou inadequada a estrutura regulatória americana para cripto e pediu por uma nova estrutura.

Já Gary Gensler, presidente da Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio dos EUA (SEC), afirmou que corretoras cripto devem proteger melhor seus investidores. A notícia mais danosa de todas pode ter sido a grande quantidade de notícias falsas e acusações sem fundamento.

Alerta de fake news: “O Tesouro Americano irá denunciar diversas instituições financeiras por lavagem de dinheiro usando criptomoedas”.

Por outro lado, a crescente adesão institucional do bitcoin pode ter sugerido que a macroeconomia teve um papel nessas liquidações. Em 12 de maio, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) indicava 4,2%, a maior inflação desde setembro de 2008.

Após sinais de superaquecimento do mercado, apesar de mitigados por péssimos números referentes a empregos, sugeriram, na reunião do Fed, que estavam “começando a pensar” em alterar as taxas de juros.

Isso resultou em uma grande reação a rendimentos reais nos EUA, subindo nove pontos-base, apesar de os mercados financeiros tradicionais terem permanecido relativamente calmos. Mercados já sabiam que os números de inflação eram altos por conta de um baixo efeito-base da COVID-19.

Porém, o bitcoin, na extremidade da curva de risco dos investidores institucionais, viu uma grane liquidação. No mês seguinte, os 5% do ICP estavam ainda maiores, mas não resultou em uma reação de mercado.

Conforme o esperado, o Fed irá esperar pacientemente por dados econômicos para decidir se irão alterar as taxas de juros para o primeiro trimestre de 2022. Preocupações sobre essa alteração “tapering” diminuíram, mas o preço do bitcoin não conseguiu se recuperar.

Na China, o vice-premier Liu anunciou uma repressão especificamente à mineração e negociação de criptomoedas. Isso não era novidade, já que a China havia banido empresas de valores mobiliários de interagir com o bitcoin em 2013, bem como proibido a negociação em 2017.

Porém, isso nunca havia sido anunciado antes por um funcionário sênior do Partido Comunista da China, pelo presidente do Comitê de Estabilidade Financeira e de Desenvolvimento do Conselho do Estado.

Antes, também nunca haviam mencionado diretamente a negociação e mineração do bitcoin. Xinhua, o jornal do governo, também publicou artigos que citam diversas fraudes relacionadas a cripto, conforme mais de mil pessoas foram presas por lavagem de dinheiro com criptomoedas.

Os motivos citados pelo público focam na estabilidade social, bem importante antes do centésimo aniversário do Partido Comunista em 1º de julho.

Isso fez com que o mecanismo de pesquisa chinês Baidu removesse Binance, Huoni e OKEx. Weibo, uma grande rede social, bloqueou grandes corretoras e influenciadores cripto.

Os dados de mercado cripto também foram removidos de plataformas de negociação de segurança, como Futu e Tiger Securities.

Além disso, empresas destacaram que seus planos de lançar serviços de negociação cripto seriam destinados a clientes fora da China.

As grandes corretoras cripto Huobi e OKEx reduziram suas negociações alavancadas — de um máximo de 125 vezes para menos de 5x. Novos clientes também não teriam acesso à função de alavancagem.

(Imagem: WuBlockchain)

Já no setor de mineração, a Mongólia Interior foi a primeira a proibir, seguida por Xinjian, a região mais importante para a mineração durante a temporada de seca.

Conforme mineradores se preparavam para migrar, a taxa total de hashes — um indicador do poder computacional aplicado à rede — caiu pela metade entre maio e o fim do trimestre.

Embora a taxa de hashes do Bitcoin ainda não tenha se recuperado de sua maior queda percentual, talvez o pior já passou em termos de impacto da repressão da China à mineração de bitcoin.

Esperamos que a taxa de hashes suba novamente ao longo do ano conforme mineradores encontram outras fontes de eletricidade e reiniciem suas operações.

Muitos dos mineradores da Mongólia Interior, Xinjiang, Qinghai e Sichuan estão migrando para diversas locações, incluindo Cazaquistão, Texas e Noruega.

Queda mais rápida e estável na taxa de hashes da rede Bitcoin (Imagem: Messari)

O ruído sobre o impacto ambiental do bitcoin diminuiu no fim de junho, assim como as preocupações sobre a repressão chinesa. Ao todo, são pontos positivos a longo prazo para o bitcoin pois, “o que não o matou só o tornou mais forte”.

Na verdade, conforme o mundo se torna mais ecológico e nenhum investidor institucional quer se desviar do movimento ESG, o bitcoin precisará migrar para energias renováveis para obter adesão global.

Além disso, falsas narrativas de que o bitcoin é uma “arma financeira da China” ou que é uma “ameaça à segurança nacional dos EUA” — seu código está literalmente disponível para qualquer pessoa — podem finalmente ser desconsideradas conforme o poder de hashes da mineração estará bem mais distribuído por todo o mundo.

No fim do trimestre, El Salvador se tornou o primeiro país do mundo a adotar o bitcoin como uma moeda corrente em uma tentativa de “desdolarizar” e reduzir o custo de transferências internacionais.

O governo também anunciou uma distribuição de US$ 30 para todos os cidadãos acima de 18 anos por meio de sua própria carteira digital. Embora o impacto global do bitcoin seja de apenas 2%, dados da Câmara do Comércio de El Salvador indicam que entre 21% a 25% da população usaria bitcoin.

Embora não houve um impacto significativo no preço do bitcoin, foi um passo global em direção à ampla adesão. Além disso, pode ser um dos primeiros países a adotar o bitcoin, conforme o Paraguai também anunciou um projeto de lei que tornaria o bitcoin em uma moeda corrente.

“Quando o bitcoin for implementado, você vai usar… 1) só bitcoin, 2) só dólares ou 3) ambos? (Imagem: Steve Hanke)

A dominância do bitcoin caiu
durante o segundo trimestre; confira

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