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Vitor Miziara: Receita para não seguir – sardinhas fritas com ações e um tempero de euforia. O caso “IRB”.

01 fev 2021, 14:01 - atualizado em 01 fev 2021, 14:01
Fachada de loja da GameStop em Nova York
Lá nos EUA, um grupo de mais de 2 milhões de investidores pessoas físicas resolveram se juntar em um fórum para comprar e inflar as ações da GameStop (Imagem: REUTERS/ Nick Zieminski)

Quando parecia que 2020 tinha ficado para trás, vem o brasileiro querer replicar o que foi feito nas últimas semanas nos EUA: movimentar artificialmente ações para ganho de valorização contra grandes investidores e principalmente, o mercado! Isso, aquele que tudo sabe, que flui naturalmente, que o soberano e único!

Lá nos EUA, um grupo de mais de 2 milhões de investidores pessoas físicas resolveram se juntar em um fórum para comprar e inflar as ações da GameStop, um varejo físico (tentando ir para online) do mercado de vídeo games. A empresa, assim como todo o resto do mundo, também sofreu na pandemia e teve que fechar muitas lojas, ao mesmo tempo em que estava em um processo de digitalização e comercio online.

Apostando na queda das ações por conta dessas dificuldades, diversos fundos de investimentos abriram posições short (venda) contra as ações da GME, pressionando a ação pra baixo, mas mais ainda, irritando os acionistas (ou seria especuladores?) que tinham ações dessa empresa.

A lógica tomada pelas “sardinhas” foi simples e bem estruturada: “Vamos todos comprar juntos as ações fazendo o papel subir e eventualmente esse fundo terá que recomprar a posição vendida, trazendo mais fluxo de compra ainda”. Não sabemos quantas pessoas físicas participaram do movimento organizado pelo fórum que tinha mais de 2 milhões de participantes, mas o resultado foi visível:

A ação da GME pulou de US$18,00 para US$347 em um intervalo de 27 dias! Veja bem, 1.827% em menos de um mês. Ah, aquele fundo que estava apostando contra agora está quase entrando com pedido de falência.

Mas voltamos ao mercado brasileiro! No jargão do mercado, sardinha é o investidor pessoa física iniciante no mercado, que acredita e cai em qualquer boato, especulação ou que muitas vezes decide, sem conhecimento nenhum, comprar ou vender com base nas flutuações de uma ação.

Agora imagine um corso (conjunto de sardinhas que descobri pesquisando no google rsrs), operando juntos e tentando ir contra os grandes investidores do mercado. É… o resultado talvez seja comida para os tubarões.

Mais de 40 mil investidores se organizaram nessa última semana de jan/21 para juntos, comprarem a mesma ação: IRB Resseguradora (IRBR3). No grupo organizado, as indicações eram de todos comprarem juntos, não colocarem ordem de venda e não alugar as ações para investidores que querem apostar contra.

No primeiro dia o resultado veio como uma vitória ao grupo: a ação saiu de R$6,51 para R$7,67 – alta de 17,82% em um dia! Mas como o mercado sempre se ajusta à anormalidades, o segundo dia não foi tão positivo assim…queda de 6,13% com o fechamento da ação em R$7,20 – acima ainda do “preço inicial do plano”.

Ainda em alta, mas com uma grande diferença do resultado alcançado nos EUA. Agora o que mais vemos por ai são esses investidores reclamando do mercado, colocando culpa na B3 que interrompeu diversas vezes as negociações da ação, culpando corretoras por não deixar comprar, ou vender…ou os dois…enfim, todos menos a decisão própria de tentar inflar uma ação.

Por que não deu tão certo? (errado saberemos nos próximos dias).

Ibovespa Ações Mercados B3SA3
Aqui, de 210 milhões de pessoas, apenas 3 milhões investem na Bolsa, praticamente 1,5% da população (Imagem: B3/Divulgação)

Há uma diferença absurda ente os mercados dos EUA e por aqui. Vamos começar pelos números dos investidores:

Nos EUA, 55% da população investe! Isso da um total de 180 milhões de investidores de um total de 330 milhões de pessoas. Somente em um fórum, entraram mais de 2 milhões de pessoas para fazer esse movimento. É muita gente junta!

Aqui, de 210 milhões de pessoas, apenas 3 milhões investem na Bolsa, praticamente 1,5% da população. Em pesquisa da B3 divulgada na virada do ano, desses 3 milhões, 55% tem uma renda menor do que R$5 mil por mês, ou seja, um “ticket médio” por investidor não tão alto.

E talvez seja por esse último dado que as pessoas buscam atalhos para ganhos rápidos, quase sempre caindo do óleo quente da frigideira. Na média, menos de 65% dos investidores continuam na bolsa após um período de 12 meses. O problema aqui? Falta de educação financeira!

Voltando ao movimento da “revolta das sardinhas da IRB” como ficou conhecido, vamos fazer uma conta:

A média de patrimônio investido entre R$ 0 e até R$ 500 mil é de R$ 100 mil segundo a B3. Sendo assim, se considerarmos que os 25 mil investidores que haviam no grupo no dia da alta compraram 20% do seu patrimônio em ações da IRB, estamos falando de um montante de R$ 500 milhões. Parece muito, mas é o volume negociado normalmente em um dia da ação IRBR3.

Ou seja, se todos compraram o que podiam, foram responsáveis sim pela alta da ação. Mas e agora? Há mais dinheiro? Quando o mercado resolver ajustar o preço à normalidade, o que acontecerá com quem comprou o papel na euforia? Alguém sempre fica pra pagar a conta.

O investidor mais experiente, que conta com auxilio de casas de research como a Eleven ou Empiricus, ou usam a assessoria como a que minha empresa dá, sem custo pela XP, dificilmente caí em furadas como essa, provadas muitas vezes que na média um pequeno grupo se beneficia enquanto a maioria perde por não saber a hora de sair.

Eu? Eu estou comprado e com um % alto da minha carteira de ações. Estou acreditando que depois de dois resultados trimestrais bons (ou limpos), outros investidores e principalmente fundos voltarão a olhar o papel e eu quero me antecipar a isso, visando o longo prazo.

No nosso grupo de Telegram de Ações mostramos os fluxos do dia, quem estava comprando e quem estava vendendo, além de não recomendar a participação nesse movimento. Ah, se quiser conhecer nosso grupo é só buscar por @CriteriaRoboCliente no Telegram e pôr o código 65715 para cadastro.

IRB é compra pela Eleven, mas para quem é investidor, que de fato quer ser sócio da empresa e espera valorização no longo prazo. Não quem foge à maneira convencional busca ganhar dinheiro fácil e da forma mais rápida, acabando frito pelo mercado.

No meu instagram @vmiziara vou fazer um vídeo falando sobre as últimas novidades da IRB, que tenho em carteira como investimento, não especulação. Além disso e se interessar, posso te enviar os últimos relatórios e também a expectativa do resultado da IRB. Só me solicitar por email: [email protected]

Um abraço!

Sócio e Head de Alocação da Criteria Investimentos
Com mais de 14 anos de experiência no mercado, Vitor Miziara é sócio e Head de Alocação da Criteria Investimentos, assessoria de investimentos independente vinculada à XP com mais de R$3 bilhões sob custódia. Entusiasta do mercado, discorre sobre cenários e investimentos, não evitando assuntos polêmicos e críticas abertas.
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Com mais de 14 anos de experiência no mercado, Vitor Miziara é sócio e Head de Alocação da Criteria Investimentos, assessoria de investimentos independente vinculada à XP com mais de R$3 bilhões sob custódia. Entusiasta do mercado, discorre sobre cenários e investimentos, não evitando assuntos polêmicos e críticas abertas.
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