Opinião

A escada tecnológica do desenvolvimento econômico

12 set 2020, 14:01 - atualizado em 09 set 2020, 19:52
“Países ricos fazem produtos complexos, países pobres fazem produtos não complexos”, dizem Paulo Gala e André Roncaglia (Imagem: Unsplash/@daniilvnoutchkov)

O gráfico abaixo retirado desse paper de Jesus Felipe mostra que o enriquecimento dos países depende do domínio produtivo de produtos sofisticados (índice PCI alto):

No eixo X, temos o PIB per capita médio dos países que produzem cada um dos 5107 produtos plotados no gráfico; no eixo y a complexidade de cada um dos produtos seguindo a metodologia de Hausmann e Hidalgo (2011).

Países ricos fazem produtos complexos, países pobres fazem produtos não complexos. A pesca de pequeno porte, por exemplo, é uma atividade extrativa que envolve apenas extrair da natureza algo que ela produziu. O esforço criativo é reduzido e as habilidades requeridas envolvem uma combinação de conhecimento dos rios e dos mares para navegação, do funcionamento do barco e como manipular as redes lançadas sobre as águas.

Não se trata de uma atividade fácil ou pouco exigente. Ao contrário, requer muito esforço físico e muita destreza na relação com a natureza: lembremo-nos do filme Mar em Fúria com George Clooney. Mais tempo na água e menos tempo com os livros: é muito esforço sem recompensa garantida.

Salários de pescadores são baixos apesar do gigantesco esforço. Conforme subimos a escada tecnológica em direção a produtos processados, ao queijo e aos cosméticos por exemplo, vamos adicionando camadas de sofisticação e etapas de produção, envolvendo processos mais complicados e que requerem maior conhecimento para que tudo saia como desejado pela sociedade e pelos consumidores; são produtos de baixa e média intensidade tecnológica que em geral pagam maiores salários e trazem mais produtividade aos trabalhadores em processos fabris de produção.

Mais acima na escada encontramos a nata do conhecimento e do conteúdo tecnológico. O último estágio dessa subida é representado por produtos de alta intensidade tecnológica, fortemente industrializados e que em geral demandam também serviços muito sofisticados.

Por exemplo, medicamentos e aparelhos de Raio-X, cujas produções requerem os mais qualificados conhecimentos e máquinas de altíssima precisão.

Nestes exemplos retirados do Atlas da Complexidade Econômica podemos entender por que alguns países conseguem enriquecer e outros não e por que o Brasil parou no tempo.

Argentina
“A Argentina está no estágio da renda média, produzindo bens de baixa densidade tecnológica (ou low-tech) e de média intensidade (medium tech), como alimentos processados e ceras de sapato”, destacam  Paulo Gala e André Roncaglia (Imagem: Pixabay)

A Holanda, por exemplo, se industrializou muito, e é capaz de produzir bens de média e alta tecnologia como máquinas de Raio-X e medicamentos (bem não ubíquos). A Argentina, por outro lado, está no estágio da renda média, produzindo bens de baixa densidade tecnológica (ou low-tech) e de média intensidade (medium tech), como alimentos processados e ceras de sapato; o Brasil também se encontra nesse estágio hoje.

Gana, na África, é um país muito pobre, onde a pesca ainda constitui importante fonte de renda e de nutrição para a população. A Holanda também faz queijos excelentes, ceras de sapato e tem um razoável setor pesqueiro. Consegue fazer o que todos conseguem fazer, mas também faz mais coisas que poucos países no mundo são capazes de fazer.

Trecho do livro “Brasil, uma economia que não aprende”, escrito por Paulo Gala e André Roncaglia.

CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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