Economia

Armadilha de liquidez levará BC a comprar títulos, diz Werlang

14 maio 2020, 13:20 - atualizado em 14 maio 2020, 13:20
A diferença é que, no Brasil, o piso do juro não é necessariamente zero, mas sim um patamar no qual seu efeito seja indiferente para muitos aplicadores, diz Werlang (Imagem: Agência Brasil)

O Banco Central deverá partir para a compra de títulos no mercado de forma a contornar a “armadilha de liquidez” depois que a Selic atingir o piso na crise do coronavírus, diz Sérgio Werlang, professor da FGV e ex-diretor do Banco Central.

Diante do cenário recessivo e da inflação abaixo da meta, ele acredita que o BC deverá cortar a Selic em pelo menos mais 0,75 ponto porcentual, o que levaria a taxa a nova mínima histórica de 2,25%, um patamar em que a política monetária tradicional já começaria a perder a capacidade de aliviar a recessão.

A “armadilha da liquidez” foi o que levou os grandes bancos centrais a adotar o desaperto quantitativo (QE, na sigla em inglês) para combater a crise financeira global iniciada em 2008, depois que as taxas de juros já tinham sido totalmente derrubadas. Ao comprar títulos no mercado, BCs como o Federal Reserve na prática imprimiram dinheiro novo para estimular a economia.

A diferença é que, no Brasil, o piso do juro não é necessariamente zero, mas sim um patamar no qual seu efeito seja indiferente para muitos aplicadores, diz Werlang.

A maioria dos membros do Copom também avalia que o limite mínimo para os juros pode ser maior no Brasil, em razão da fragilidade fiscal, como mostrou a ata da última reunião.

É a partir desse piso que o BC poderia passar a usar a nova ferramenta trazida pela PEC do chamado orçamento de guerra. A medida permite a compra de títulos públicos para injetar liquidez e de títulos privados para destravar o crédito e evitar que empresas de boa qualidade desapareçam, afirma Werlang.

O ex-diretor do BC reconhece que a adoção de prática similar ao QE no Brasil poderá trazer alguns riscos, inclusive fiscais e na adição de pressão ao câmbio, mas deverá ser necessária diante do agravamento da recessão e da crise de liquidez. “Estamos entrando em águas nas quais nunca nadamos antes. Por isso, vai haver bastante tentativa e erro”, diz Werlang.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.