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Assaí listada na B3 e em Nova York sem IPO? É isso mesmo; saiba por quê

11 set 2020, 16:12 - atualizado em 11 set 2020, 16:19
Assaí Pão de Açúcar
Rota traçada: listagem direta é pouco difundida e muito confundida com IPO (Imagem: Gustavo Kahil/ Money Times)

Nos últimos dois dias, o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) deu um nó na cabeça de muita gente, ao anunciar a cisão da rede de atacarejo Assaí e sua posterior listagem na B3 e na Nyse, a famosa Bolsa de Nova York.

Imediatamente, pipocaram manchetes anunciando a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do Assaí. Analistas de bancos e corretoras começaram a calcular o tamanho do IPO e suas repercussões.

Nesta quinta-feira (10), as ações do Pão de Açúcar dispararam na Bolsa, e fecharam com alta de 14,8%, cotadas em R$ 71,35.

Hoje, contudo, as ações passaram um bom tempo andando de lado, enquanto jornalistas, analistas e investidores tentavam entender a enfática negativa do grupo de que a listagem do Assaí seria um IPO. Listagem, sim, mas IPO, não.

A regra é clara

É possível? Pode isso, Arnaldo? Afinal, somente neste ano, embaladas pelos juros baixos e pelo desejo dos investidores em procurar ganhos maiores que a renda fixa, diversas empresas fazem fila para abrir seu capital, vender ações, captar recursos… enfim, realizar IPOs.

Mas o fato é que é, sim, possível listar uma companhia na B3, sem que isso seja uma oferta pública inicial de ações.

É o que advogados e assessores financeiros chamam de listagem direta. A diferença fundamental é compreender para que serve, afinal, um IPO.

A resposta é simples: obter dinheiro, por meio da venda de um lote considerável de ações. O dinheiro pode ir tanto para a empresa (oferta primária), quanto para os seus donos (oferta secundária).

A listagem direta não é um IPO, simplesmente, porque não envolve a captação de dinheiro no momento em que a companhia ingressa na Bolsa.

Listar nada mais é do que se registrar numa bolsa de valores, isto é, um ambiente de negociação de ativos. Se a empresa não deseja captar dinheiro imediatamente, mas apenas quer deixar essa porta aberta, o caminho é a listagem direta.

Chegando devagarinho

É esta a operação que o Grupo Pão de Açúcar desenhou para o Assaí. A cisão é o primeiro passo, pois transformará a rede de atacarejo em uma companhia independente, cujo único vínculo com o Pão de Açúcar será o fato de possuir o mesmo controlador – o grupo francês Casino.

O segundo passo será traduzir o valor do Assaí independente em uma certa quantidade de ações. O terceiro será distribuí-las proporcionalmente aos acionistas.

Por fim, a listagem na B3 deixará a porta aberta para que a companhia capte recursos no mercado acionário, caso precise, ou que os acionistas vendam uma parte de seus papéis, se quiserem.

Smart Fit Academias
Exemplo: Smart Fit é listada na B3 desde 2018, mas nunca fez um IPO (Imagem: Reuters/Rahel Patrasso)

O importante, neste caso, é que a listagem direta não obriga nenhuma companhia a realizar um IPO para entrar na Bolsa. Grosso modo, é como se a empresa ganhasse um crachá que lhe dá acesso ao ambiente de negociação. Se ela vai usar esse crachá (o registro na B3) para vender ações agora ou depois, cabe apenas a ela decidir.

Exemplo

O Assaí não será a primeira empresa a fazer isso na B3. A rede de academias de ginástica Smart Fit (SMFT3; SMFT11) é listada no segmento de entrada da Bolsa, o Bovespa Mais, desde fevereiro de 2018 e nunca realizou um IPO, nem acionou o mercado de capitais para levantar recursos.

A empresa até começou a estruturar um IPO e a migração para o Novo Mercado, o segmento mais nobre da B3, onde as exigências de governança corporativa são mais rígidas, mas desistiu da ideia em dezembro de 2018, por falta de apetite dos investidores.

Para quem ganha a vida estruturando captações, a vantagem da listagem direta é que é mais barata, em comparação com um IPO, com todo o seu batalhão de banqueiros, advogados, consultores etc. É este o caminho que o Assaí deseja percorrer nos próximos meses.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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