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Autoridade do BCE defende regras para proteger setor financeiro

29 dez 2020, 14:29 - atualizado em 29 dez 2020, 14:29
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Reguladores europeus ainda estão assustados com as consequências da crise financeira de 2008, quando os bancos buscaram sacar dinheiro de subsidiárias estrangeiras para reforçar as operações domésticas (Imagem: Pixabay/moritz320)

A iniciativa do Banco Central Europeu para facilitar a fusão de bancos da região que dão prejuízo enfrenta oposição de alguns reguladores nacionais. Uma autoridade do setor alerta que a medida poderia sair pela culatra e prejudicar a integração do sistema financeiro.

Propostas do presidente do conselho de supervisão do BCE, Andrea Enria, para dar aos bancos mais liberdade para obter fundos em um país e emprestá-los em outro podem gerar custos para os contribuintes se as instituições tiverem problemas depois que o dinheiro for transferido, disse Tom Dechaene, diretor do banco central da Bélgica.

“A união bancária é essencial, mas não podemos colocar a carroça na frente dos bois”, disse Dechaene, que também é membro do conselho de supervisão de Enria, em entrevista na semana passada. “Muitas das propostas apresentadas especialmente por CEOs de bancos fariam isso.”

Os comentários destacam as divisões dentro do BCE sobre a questão de se e como o regulador deve facilitar a consolidação bancária, enquanto o setor enfrenta o desafio de gerar lucros. Executivos de bancos dizem que as regras nacionais fortalecidas após a crise financeira para limitar a transferência de fundos entre fronteiras tornam os acordos inviáveis, mas políticos ainda estão em um impasse sobre questões-chave, como um seguro de depósito comum necessário para uma fusão bancária.

“Temos que distinguir entre os tempos normais em que a cooperação funciona bem e a questão do que acontece nas crises”, disse Dechaene, que costumava assessorar empresas em acordos no Morgan Grenfell, banco comercial do Reino Unido adquirido pelo Deutsche Bank em 1990. “A realidade é que quando as coisas vão mal, é cada país por si.”

Reguladores europeus ainda estão assustados com as consequências da crise financeira de 2008, quando os bancos buscaram sacar dinheiro de subsidiárias estrangeiras para reforçar as operações domésticas. A supervisão bancária melhorou desde que o BCE assumiu a vigilância direta de grandes bancos em 2014, mas a arquitetura financeira da Europa ainda não está completa, disse Dechaene.

Se o BCE agora permitir que os bancos transfiram fundos líquidos livremente, os países ficarão expostos ao risco de as instituições movimentarem o dinheiro e deixarem os sistemas de seguro de depósito nacionais arcarem com a conta em uma crise, disse Dechaene. Essa “opção de venda” é especialmente valiosa para instituições com atividades de banco de investimento no nível do controlador, disse.

Instituições como o francês BNP Paribas e o italiano UniCredit já possuem grandes unidades estrangeiras e administram operações de banco de investimento de tamanho considerável (Imagem: Reuters/Benoit Tessier)

Embora Dechaene não tenha citado nenhum banco, instituições como o francês BNP Paribas e o italiano UniCredit já possuem grandes unidades estrangeiras e administram operações de banco de investimento de tamanho considerável. O BNP tem um grande negócio na Bélgica, e o UniCredit administra um dos maiores bancos da Alemanha.

“Não cabe a um supervisor promover acordos”, disse Dechaene. Ele também rejeitou a sugestão de Enria de que reguladores nacionais poderiam ser tranquilizados se os bancos se comprometessem a ajudar unidades estrangeiras caso a situação piorasse.

Os banqueiros podem atrasar suas tarefas em uma crise, enquanto os acionistas também podem processar para proteger os interesses do controlador, afirmou.

“As coisas acontecem rapidamente no setor bancário e um atraso de alguns dias ou semanas pode ser catastrófico para uma subsidiária”, disse Dechaene.

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