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Chama o Max: Entre Biden e Trump, eu fico com as commodities

09 out 2020, 13:50 - atualizado em 09 out 2020, 13:51
“O grande destaque internacional nas próximas semanas pode ter importantes impactos para a Bolsa brasileira”, avalia o colunista

Se não bastasse termos que lidar com todo o imbróglio político no Brasil, que acaba afetando incisivamente o nosso cenário econômico, o grande destaque internacional nas próximas semanas pode ter importantes impactos para a Bolsa brasileira.

Falo da disputa eleitoral norte-americana entre Joe Biden e Donald Trump.

Eleições nos EUA é igual a um jogo de basquete. Só se pode comemorar a vitória quando a sirene apita e decreta o fim. Até a última cesta ou urna, tudo pode mudar.

Os EUA possuem suas peculiaridades, como o voto não obrigatório e por correio, tornando muito difícil cravar um resultado antecipadamente.

O último pleito entre Hillary Clinton e Donald Trump é um exemplo dessa imprevisibilidade. No entanto, com tudo que tenho lido nas últimas semanas, parece que a folga de Joe Biden nas intenções de voto está mais confortável. Até agora.

Já que metade dos e-mails que tenho recebido se refere a questionamentos sobre as eleições americanas e seus impactos na Bolsa brasileira, decidi clarear um pouco a minha cabeça sobre o assunto, o que divido agora com vocês.

Estou longe de ser um especialista no assunto, mas considero importante ter uma ideia dos caminhos que vamos nos deparar com a vitória de cada um dos candidatos.

Com Trump se reelegendo, continuaremos a ver uma agenda protecionista que tende a fortalecer o dólar contra uma cesta de moedas, o que geraria um maior enfraquecimento do real.

A tendência é que os juros se mantenham em patamares bem baixos por mais tempo, o que contribuiria para o crescimento de lucros das empresas. Com juros negativos, o dinheiro acaba fluindo para a Bolsa americana, que deve continuar se valorizando ao longo de 2021. Nesse cenário, poderíamos ver o S&P 500 flertando com os 4.000 pontos tranquilamente (atualmente está rondando os 3.500).

É provável que Trump aumente o tom contra a China em seu segundo mandato, o que traria mudanças no comércio internacional, sendo o Brasil um dos principais beneficiados desta nova dinâmica.

Vale destacar que a China é um dos importantes parceiros comerciais do Brasil e, com a redução de negócios com os EUA, o Brasil poderia abocanhar uma parte destas exportações para o país asiático.

Com um viés mais pró-mercado, Trump aumentaria investimentos em infraestrutura (construção civil e tecnologia) e evitaria ao máximo o aumento de impostos.

Como você alocaria seus investimentos com Trump ganhando? Não dá para não ter em carteira ativos como dólar, ouro, ações americanas (IVVB11 é uma boa opção) e alguns ativos ligados a commodities, como Metalúrgica Gerdau (GOAU4), Vale (VALE3) e SLC Agrícola (SLCE3).

Vamos analisar o outro lado: e se Joe Biden sair vitorioso no pleito de novembro?

Joe Biden, candidato democrata à presidência dos EUA
Segundo Max Bohm, se Joe Biden sair vitorioso nas eleições dos EUA, veremos uma tendência mais multilateral, aproximando-se da União Europeia, e uma postura menos agressiva contra a China (Imagem: Facebook/Joe Biden)

Considerando as diretrizes políticas apresentadas pelo candidato democrata, veremos uma tendência mais multilateral, aproximando-se da União Europeia, e uma postura menos agressiva contra a China.

Defendendo o aumento do salário mínimo e a maior taxação para ricos e empresas, Biden pode levar a economia americana a enfrentar uma inflação maior, aumento nos juros, um dólar menos valorizado e um cenário mais desafiador para as companhias norte-americanas.

O reflexo pode ser negativo para a Bolsa dos EUA, que teria um desempenho inferior às demais Bolsas globais. Nesse cenário, em um primeiro momento, acredito que o S&P poderia ir na direção dos 3.000 pontos, mostrando desvalorização nos próximos meses.

Caso o capital saia do mercado norte-americano, o fluxo poderia ser direcionado para os mercados emergentes, e o Brasil pode se dar bem nesta ciranda dos investimentos.

Será que, enfim, o fluxo estrangeiro de longo prazo voltaria a entrar em peso no Brasil? Tudo depende de uma maior tranquilidade na política interna e do avanço das reformas estruturantes. A ver.

O que comprar com a vitória de Biden? Moedas como euro, iene e libra tendem a se valorizar contra o dólar, e poderemos ver uma rotação de portfólio interessante aqui no Brasil com ações mais cíclicas ganhando força como aquelas dos setores ligados a consumo, bancos e commodities — ações da “velha economia”.

Se fosse só isso até que seria mais fácil. No entanto, o preenchimento das cadeiras no Congresso americano nestas eleições será determinante para as ambições de ambos os candidatos à Presidência. Portanto, qualquer prognóstico neste momento é um belo de um chute.

Por outro lado, me parece que posicionar o seu portfólio com ações de commodities seria a principal intersecção com a vitória de qualquer um.

Mercados
“Fiquem atentos com posições em empresas de tecnologia, saúde e setores mais defensivos no geral”, aconselha Max (Imagem: Pixabay)

Fiquem atentos com posições em empresas de tecnologia, saúde e setores mais defensivos no geral. Podemos ver uma forte rotação nos portfólios, levando investidores a venderem ações que estavam com ótimo desempenho e comprando ações de companhias mais tradicionais e com exposição a commodities.

No Brasil, nas últimas semanas, já estamos notando as carteiras se movimentando na direção de ações como Vale, CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5), SLC Agrícola. Creio que os frigoríficos também possam se beneficiar dessa rotação de portfólio nas próximas semanas.

Os próximos capítulos desta eleição serão interessantes de acompanhar, principalmente devido aos efeitos diretos nos mercados.

Seja quem for o vencedor nos EUA, espero que o Brasil tenha a sabedoria de se aproximar mais dos EUA e estreitar ainda mais as relações comerciais entre os dois países.

Grande abraço!

Equity Research, CNPI, CGA
Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ e pós-graduado em finanças pela FGV-RJ, Max Bohm acumulou experiência como analista e gestor de ações em grandes instituições como Valia e Grupo Icatu Seguros. Atualmente, é sócio da Empiricus, responsável pelas séries Microcap Alert e As Melhores Ações da Bolsa.
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