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Chamariz de gringo: JPMorgan vê Brasil como ‘miss universo entre emergentes’

23 nov 2023, 16:56 - atualizado em 23 nov 2023, 18:29
JPMorgan América Latina
Estrategista do JPMorgan para América Latina e Brasil mostra visão otimista para o mercado brasileiro (Imagem: REUTERS/Andrew Kelly)

Emy Shayo Cherman, estrategista de ações do JPMorgan & Chase para o Brasil e a América Latina, não escondeu o seu otimismo com o atual momento do mercado brasileiro.

“Hoje, vim falar bem do Brasil (…) O Brasil é meio que uma miss universo entre os emergentes”, assim começou a fala de Shayo no 18° Seminário Internacional da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), realizado nesta quinta-feira (23).

O evento também contou com a participação do ex-diretor e o ex-presidente do Banco Central, Alexandre Schwartsman e Ilan Goldfajn.

Segundo a representante do maior banco de ativos dos Estados Unidos, o Brasil está em uma posição privilegiada ante concorrentes emergentes.

Enquanto Turquia e Argentina passam por crises de hiperinflação, a China enfrenta, ao mesmo tempo, os efeitos da desaceleração doméstica e um aumento de percepção de risco geopolítico. A Índia, por sua vez, é um mercado que já se tornou “caro” para novos aportes estrangeiros.

Em compensação, o ciclo de corte de juros, bem como a presença de uma bolsa ainda muito descontada, fazem do Brasil um destino em potencial.

A posição como mercado “proxy” da China — isto é, que tem relações com o país asiático, mas está isento dos riscos geopolíticos embutidos a ele — também acaba trazendo destaque para o Brasil.

“Qualquer um de nós que viaja lá fora e fala com diferentes gestores do mundo, existe sempre um interesse em Brasil. E vemos que a posição dos investidores estrangeiros aqui é geralmente overweight [compra]”, comenta a estrategista do JP.

O modelo de análise do banco mostra que a exposição adicional dos investidores internacionais no mercado brasileiro é 2% maior do que a posição neutra do Brasil dentro do índice “MSCI Emerging Markets”.

Normalização dos juros nos Estados Unidos é bom negócio para mercados emergentes

Além de uma conjuntura mais atraente do que seus concorrentes diretos, Shayo destaca a normalização dos juros nos Estados Unidos como um fator de impulso para os mercados emergentes.

Na visão trazida pela estrategista, a década de juros reais quase nulos, e por vezes negativos, nos Estados Unidos levou o país a “sugar a liquidez do mundo inteiro”. Esse processo ainda está ocorrendo, mas agora não mais sob o ponto de vista da renda variável, mas sim da renda fixa, beneficiada pela elevação das taxas básicas de juros.

“Hoje, os mercados emergentes são cerca de 6% do fluxo total de investimentos, quando a posição neutr deveria ser cerca de 11%”, explica a especialista em mercados.

Mas o JPMorgan & Chase enxerga um potencial ponto de virada nesta dinâmica, tão logo o BC norte-americano começar o ciclo de afrouxamento monetário, em direção a uma normalização dos juros.

Essa normalização, salienta a especialista, não ocorreria tendo por alvo a era recente do “juro zero”, mas sim algo próximo à média histórica de 4% (1956-2007). “Para pensar em uma normalização dos juros nos Estados Unidos, talvez a gente tenha que olhar para duas décadas atrás”, diz Shayo.

Nesse contexto, passa-se a criar condições para diversificar os fluxos concentrados nos Estados Unidos em direção a outros mercados.

Para 2024, o JPMorgan projeta apenas dois cortes na taxa base americana, ambos de 0,5 ponto percentual. 

  • Federalização da Copasa e Cemig: Qual o impacto da mudança para as empresas? Saiba o que fazer com as ações no Giro do Mercado desta quinta-feira (23), é só clicar aqui

O calcanhar de Aquiles do Brasil

Se as condições externas devem se apresentar mais favoráveis para o investimento estrangeiro no Brasil, o local continua sendo uma pedra no sapato.

“Não tem como dourar a pílula. Temos um dos piores fiscais do mundo e uma das piores dívidas públicas do mundo”, diz a estrategista, ao elencar os motivos pelos quais o cenário doméstico pode afastar o aporte de mais capital estrangeiro.

A estrategista do JPMorgan atenta que, diferentemente da primeira década de 2000, a falta de crescimento econômico robusto aumenta o peso da elevação de despesas na avaliação dos investidores estrangeiros. “A Índia também possui uma dívida péssima, mas ninguém liga. Por quê? Porque a Índia cresce muito.”

Por fim, a especialista do JPMorgan acredita que falta ao Brasil  apostar em um “tema” de investimento, como o caso do nearshoring no México (posição de vantagem da economia do México devido à proximidade econômica e geográfica com o mercado consumidor norte-americano), que, embora insipiente, já está “fazendo o investidor sonhar”.

“O Brasil tem muitas potencialidades, posições de liderança no agronegócio e muito potencial na transição energética, mas a gente não está sabendo empacotar isso de maneira eficiente. Ao contrário do início desse século, quando o boom das commodities se transformou em uma melhora da classe média, que foi vendida ao mundo como uma tese atraente de investimento”, completa.

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.