Coluna Robert Lawrence Kuhn

China quer salvar o setor imobiliário com uma caixa de ferramentas; entenda

30 out 2023, 13:38 - atualizado em 30 out 2023, 13:38
China imobiliário
Setor imobiliário: Desde a crise da Evergrande, em 2021, as incorporadoras chinesas têm sofrido com dívidas enormes, baixa demanda e queda nos preços dos imóveis. (Imagem: REUTERS/Aly Song)

Depois de falar de modo geral sobre como a China pode enfrentar os desafios econômicos e tratar especificamente da demanda doméstica, desta vez, o foco desta coluna concentra-se em um dos setores chineses que é destaque no noticiário do mercado financeiro há algum tempo: o setor imobiliário.

Desde a crise da Evergrande, em 2021, as incorporadoras chinesas têm sofrido com dívidas enormes, baixa demanda e queda nos preços dos imóveis.

A própria Evergrande, que junto com a Country Gardens responde por cerca de 40% das vendas de casas no país, vive uma situação problemática: a primeira declarou falência e a segunda está à beira da inadimplência.

É difícil não exagerar ao tratar da importância do setor imobiliário na economia da China. Atualmente, a construção civil representa cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da China, ante cerca de 10% em 2000. As construtoras e incorporadoras são uma importante fonte de receitas para os governos locais, através da concessão de empréstimos e vendas de terrenos.

Além disso, os imóveis agora representam quase dois terços da riqueza das famílias na China. Não é nenhum segredo de Estado que o crescimento da China tem dependido excessivamente de investimentos em infraestrutura, que são cada vez menos produtivos, e do setor imobiliário, que está muito endividado e vulnerável.

De acordo com cálculos do The Wall Street Journal, na década de 1990, foram necessários cerca de US$ 3 de investimento para a China produzir US$ 1 de crescimento do PIB; agora custa cerca de US$ 9. Portanto, houve uma forte redução da produtividade, que não pode ser sustentada.

Mãos à obra pelo setor imobiliário

O governo chinês certamente reconhece a necessidade crítica de estabilizar o setor imobiliário, porém sem fornecer garantias que possam distorcer os mercados.

As lideranças chinesas defendem o bom uso da “caixa de ferramentas políticas” para melhor atender às necessidades de moradia e promover o “desenvolvimento saudável” do setor imobiliário.

As medidas incluem:

  • aumentar a habitação a preços acessíveis;
  • transformar vilas em aldeias urbanas;
  • construir comunidades com infraestrutura pública de lazer e de emergência;
  • revitalizar diversos tipos de imóveis ociosos.

Diminuir o risco ao setor financeiro, reduzir a dívida do governo local e proteger as instituições financeiras, pequenas e grandes, também fazem parte do plano.

Nessa nova ferramenta política, os mutuários com empréstimos pessoais para a primeira habitação podem solicitar à instituição financeira a substituição do financiamento existente a juros menores. Além disso, em 2024 e 2025, os contribuintes que venderem as casas que possuem e voltarem a adquirir um imóvel dentro do prazo de um ano após a venda receberá uma restituição do imposto sobre a renda pessoal pago na operação.

Nas cidades, Shenzhen procurou reforçar o mercado imobiliário, revertendo limites rígidos para a compra de casas que haviam sido adotadas para conter a especulação. A megacidade do sul também flexibilizou os critérios de elegibilidade para a compra de casa, afetando alguns divorciados.

Outras cidades grandes, como Pequim, Xangai e Guangzhou, além de capitais de províncias, como Wuhan e Xi’an, agora concedem aos compradores de primeira viagem a opção de hipoteca da primeira casa, independentemente de terem casa própria anteriormente. A província de Jilin também tem novos incentivos para encorajar os agricultores a comprar casas em vilas e cidades.

A caixa de ferramentas chinesa

Serão todas essas medidas capazes de aumentar a compra de imóveis de forma sustentada ou terão vida curta?
Meu palpite é de que o governo continuará, como é seu método, a monitorizar e avaliar, corrigindo o curso com novas políticas, conforme necessário.

Embora a “caixa de ferramentas” se concentre em melhorar a vida das pessoas, incluindo a construção de habitação a preços acessíveis e serviços públicos, a grande visão da China é estabelecer um novo modelo de desenvolvimento para o setor imobiliário a longo prazo.

Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
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