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Circle e Unstoppable Domains apresentam endereços “legíveis” para pagamentos com stablecoins

08 ago 2021, 12:56 - atualizado em 08 ago 2021, 12:56
Para usuários, a capacidade de transferência para um nome de usuário, em vez de um endereço intimidador em blockchain, deve reduzir parte do receio em realizar pagamentos com stablecoins (Imagem: Unstoppable Domains)

Na última semana, a fornecedora blockchain de nomes de domínio em Unstoppable Domains e a fornecedora global de tecnologia financeira em blockchain Circle apresentaram um sistema simples e legível de nomes de usuário para pagamentos com stablecoins.

Essa decisão pode melhorar o problema da experiência de usuário (UX)?

Nomes de usuário para stablecoins

Circle é responsável pela operação da popular stablecoin U.S. Dollar Coin (USDC) — criptomoeda de valor estável e lastreada ao dólar americano.

Por meio de uma integração com a Unstoppable Domains, endereços alfanuméricos de carteira de USDC agora terão a opção de serem substituídos com endereços mais fáceis de ler com o final .coin (“dextrading.coin”).

Isso permitirá transferências simples de USDC entre carteiras, aplicações de finanças descentralizadas (DeFi) e corretoras.

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USDC é a stablecoin que mais cresce no setor (Imagem: The Block)

Assim como populares aplicações de pagamentos nas finanças tradicionais — Paypal (PYPL34), Venmo e CashApp — usam nomes de usuário para simplificar o processo de envio de pagamentos em dólares pela rede, os novos endereços .coin vão facilitar o envio de dólares digitais pelas redes blockchain.

Para usuários, a capacidade de transferência para um nome de usuário, em vez de um endereço intimidador em blockchain, deve reduzir parte do receio em realizar pagamentos com stablecoins.

Endereços blockchain consistem de uma série única de números e letras, e não de um username. Isso pode ser uma barreira de entrada para possíveis usuários cripto (Imagem: Blockchain.com)

Geralmente, pagamentos com stablecoins são um melhor meio de câmbio do que a Ethereum ou o Bitcoin para grande parte dos usuários cripto por conta da inerente estabilidade de preço de stablecoins, como USDC.

Essa nova atualização na experiência de usuários pode ajudar a USDC a preencher a lacuna dos mercados de varejo e das finanças tradicionais.

O custo de um endereço .coin custa a partir de US$ 40 no site do Unstoppable Domains. Não existem taxas de renovação; se você assinar um endereço .coin, será seu para sempre.

Esses endereços podem ser usados para pagamentos em USDC entre qualquer uma das 50+ carteiras e corretoras compatíveis com o Unstoppable Domains, contanto que o serviço forneça suporte à USDC.

O setor cripto possui um problema de experiência de usuário

Experiências de usuário (ou UX) ruins são um grande obstáculo que atrapalham a adesão do setor cripto.

Aos iniciantes, que passam horas fuçando a seção de recursos do Bitcoin.org e testando aplicativos falhos e de código aberto, a tarefa de lidar com a ampla variedade de operações e aplicações é uma inconveniência necessária.

Porém, para a grande maioria, a complicada configuração de segurança envolvida na gestão de cripto é, por si só, um caminho que as pessoas não querem cruzar.

Quando um usuário pesquisa por “como manter minhas criptomoedas seguras”, o conselho mais comum é armazenar ativos em uma carteira off-line e de hardware.

Uma carteira de hardware é um dispositivo físico que armazena (off-line) as chaves blockchain de um usuário. Isso significa que não estão “no ar” e não podem ser invadidas por hackers.

Isso pode parecer simples, mas as coisas ficam complicadas quando um usuário quer acessar as criptomoedas e movimentá-las por aí.

Trezor é uma dentre as duas principais fabricantes de carteiras cripto de hardware, junto com a Ledger. Infelizmente, a Ledger sofreu uma violação de dados que expôs informações privadas de milhares de clientes.

As orientações de configuração para usuários das duas carteiras de hardware da Trezor — Trezor One e Trezor Model T — mostram que existem muitos passos para completar o uso de uma dessas carteiras.

Nada vem pré-instalado em uma carteira da Trezor — todos os softwares relacionados precisam ser baixados manualmente entre diversos passos.

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(Imagem: Trezor)

Uma carteira de hardware da Trezor precisa ser configurada para se conectar com a Trezor Wallet, uma interface on-line que gerencia ativos e inicia transferências.

O artigo de configuração afirma que existem quatro formas de seu dispositivo se conectar com uma aplicação chamada Trezor Wallet.

Alguns usuários podem se confundir, já que o próprio dispositivo chamado de carteira (“wallet”) precisa ser conectado com uma Trezor Wallet, que é uma interface, e não outra carteira.

Trezor Bridge, a opção mais fácil, exige o download de outro software chamado Trezor Bridge, a “solução mais otimizada” no site da Trezor.

Após conectar com a Trezor Wallet, existem mais passos que precisam ser completados antes de a carteira ser usada.

O usuário precisa entrar no site da Trezor, fazer o download da versão mais recente do software, criar uma nova carteira ao interagir com a interface do dispositivo em hardware, criar um back-up para as palavras-chave de acesso (ou “seed phrase”), nomear o dispositivo e configurar outras palavras-chave.

Existem riscos reais relacionados ao uso de sites cripto. O site da Trezor pede que usuários salvem a página de configuração como favorita por conta de possíveis ataques de phishing.

“Ao adicionar a página aos favoritos, será possível evitar pesquisas desnecessárias e distrações que visam te atrair a um site fraudulento”, afirma a Trezor. Alertas como esse são preocupantes para usuários iniciantes, acostumados a experiências mais simples de pagamentos no setor financeiro tradicional.

Por que o setor cripto ainda não é seguro?

“Se bitcoins e criptomoedas são o futuro, por que não são seguros? Como um usuário, não estou apenas perdido, e sim assustado”, questiona designer de UX (Imagem: Pixabay/Art_To_Art_97)

Para grande parte das pessoas, lidar com dinheiro é algo relativamente fácil. Uma pessoa trabalha, ganha um salário, esse salário é depositado diretamente em sua conta bancária.

Para acessar esse dinheiro, podem usar um cartão de plástico que é aceito em todos os lugares por ser fácil de usar e configurar. Por outro lado, podem sacar dinheiro físico na forma de cédulas de papel e moedas que são físicas, tocáveis e também aceitas em todo lugar.

Àqueles que preferem lidar com números em uma tela, bancos possuem aplicações bancárias que são fáceis de usar, simplificadas e têm sistemas para a recuperação de senha e contas para evitar o erro de usuários.

Flavio Lameza, designer de UX na rede europeia de entretenimento Sky, possui um blog popular sobre esse assunto.

Em 2018, ele escreveu um artigo, falando sobre a experiência de usuários de corretoras e carteiras cripto. Lamenza foi bem crítico às UXs em cripto: “se bitcoins e criptomoedas são o futuro, por que não são seguros? Como um usuário, não estou apenas perdido, e sim assustado”.

A UX em cripto está melhorando

Uma iniciativa, como a parceria da Circle com a Unstoppable Domains, é importante, pois acrescenta um nível de familiaridade e intuição à experiência do usuário de varejo com cripto.

Há tempos, isso tem sido um dilema para desenvolvedores de produtos cripto: criamos produtos que usuários já sabem como usar ou nos recusamos a fazer concessões e esperamos que usuários aprendam as habilidades necessárias para navegar pelo ecossistema cripto?

Em junho de 2020, os especialistas americanos em segurança cripto da Casa anunciaram uma nova carteira para celular que removia o complicado sistema de gestão de palavras-chave. O produto tinha “bitcoins de primeira viagem” como alvo.

A Casa Wallet é uma tentativa da empresa em oferecer o sistema de segurança pessoal perfeito para cada nível de bitcoiner (Imagem: Casa Wallet)

A carteira Casa fornece uma configuração completamente sem palavras-chave. Os únicos requisitos são um endereço de e-mail e um nome (que pode ser um nome alternativo).

Casa afirma que a carteira é perfeita para garantir a segurança de quantidades menores de bitcoin e é uma apresentação efetiva à ideia do protocolo Bitcoin: “seja seu próprio banco”.

O  protocolo DeFi Compound também lançou um produto para simplificar a interação com cripto para clientes institucionais chamado Compound Treasury.

Em cooperação com a Fireblocks e Circle, Compound Treasury permitirá que neobancos e fintechs enviem dólares físicos que serão convertidos em USDC e, em seguida, implementados no Compound em troca de uma taxa de juros de 4%.

Essa é uma taxa bem maior do que a taxa de rendimento que as finanças tradicionais oferecem.

Em julho, a Coinbase lançou um produto de taxa de juros baseado em USDC, que parece ser uma alternativa às contas-poupança tradicionais, com foco no varejo.

Coinbase saiu na frente ao apresentar uma conta-poupança cripto que rende oito vezes mais que contas-poupança tradicional de bancos tradicionais (Imagem: Coinbase)

A publicação de anúncio afirma que a média americana para contas-poupança tradicionais é de cerca de 0,07% e que até as contas-poupança de maior rendimento estão bem abaixo de 1%.

A Coinbase nota que USDCs pode ser convertidas por sua paridade ao dólar digital e vice-versa nas plataformas da Coinbase e que donos de contas podem “obter 8x da média nacional de contas-poupança de alto rendimento”.

É importante mencionar que os USDC emprestados não são protegidos pela Corporação Federal de Seguros de Depósito (FDIC) ou pela Corporação de Proteção a Investidores de Valores Mobiliários (SIPC), diferente de contas-poupança comuns nos EUA.

A Coinbase apresenta sua nova taxa em USDC como uma oferta passiva e intermediária. Afirma ser diferente de “contas de juros cripto que oferecem taxas atrativas para ativos dos clientes.

Embora as altas taxas de juros sejam atraentes, apresentam níveis variados de risco”. A Coinbase afirma que tais contas envolvem muitos intermediários e risco de crédito.

Sem dúvidas, Coinbase, Circle, Compound, Casa e Unstoppable Domains estão tomando uma abordagem simples para seus produtos com foco em UX. Não estão fazendo isso da mesma forma que as finanças tradicionais nem da forma do mundo cripto — estão no meio-termo.

Para criar um produto desse tipo, concessões têm de ser feitas sobre a descentralização e a independência de reguladores. Porém, é improvável que o resultado será um fluxo contínuo de novatos à ampla comunidade cripto.

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