Internacional

Covid-19: testes em massa começam a causar problemas na Europa

22 set 2020, 17:31 - atualizado em 22 set 2020, 18:24
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O maior número de testes tem ajudado autoridades a identificar milhares de indivíduos infectados, um passo fundamental para conter o patógeno sem recorrer a paralisações economicamente devastadoras (Imagem: Unsplash/@introspectivedsgn)

Quando o coronavírus se propagou pela Europa na primavera do hemisfério norte, sobrecarregando hospitais e matando milhares de pessoas todos os dias, apenas os pacientes com casos mais graves podiam ser testados. Com isso, autoridades de saúde não tinham como saber a extensão do contágio da Covid-19.

Seis meses depois, com o vírus avançando novamente, autoridades podem destacar que a capacidade de teste foi drasticamente expandida. Só o Reino Unido realizou cerca de 1,3 milhão de testes em uma semana recente – 20 vezes mais em relação ao início de abril. França e Espanha, epicentros da Covid, também aumentaram a capacidade.

O maior número de testes tem ajudado autoridades a identificar milhares de indivíduos infectados, um passo fundamental para conter o patógeno sem recorrer a paralisações economicamente devastadoras. Mas já começam a surgir problemas. Os testes em massa têm sobrecarregado laboratórios, o que atrasa resultados e complica o rastreamento de contatos, que é essencial para conter o coronavírus. E muitos com a doença ignoram as regras de isolamento.

“Isso distorce tudo”, disse James Naismith, professor de biologia estrutural da Universidade de Oxford. “O teste só é útil se for emparelhado com rastreamento e isolamento de contato rigorosos.”

Com o aumento das infecções e o inverno chegando no hemisfério norte, alguns defensores de saúde pública alertam que o foco nos testes tem desviado a atenção de outras medidas necessárias para combater a pandemia.

Sem os testes, autoridades de saúde não podem rastrear ou isolar doentes, nem compreender totalmente facetas importantes do vírus, como sua letalidade. Em março, governos despreparados para a pandemia foram incapazes de formular uma resposta ágil. A única maneira de controlar a epidemia era impor confinamentos nacionais – tratar todos como doentes -, o que reduziu as infecções, mas desencadearam a pior crise econômica de que se tem memória.

Esse é um resultado que líderes da região se comprometeram a evitar desta vez, embora suas opções estejam diminuindo.

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À medida que as infecções na Europa diminuíam durante o verão, a capacidade de testes continuou crescendo, permitindo às autoridades atingir grupos mais amplos (Imagem: Unsplash/@uncertainthink)

À medida que as infecções na Europa diminuíam durante o verão, a capacidade de testes continuou crescendo, permitindo às autoridades atingir grupos mais amplos – incluindo os que voltaram das férias ou retornaram às escolas ou escritórios. Embora a onda de testes tenha identificado muitos casos leves e até mesmo assintomáticos, também levou muitos laboratórios ao limite da capacidade.

Com os laboratórios incapazes de lidar com o volume, autoridades em alguns países estão novamente priorizando testes para os que apresentam sintomas ou podem ter sido expostos ao vírus. Embora essa abordagem esteja alinhada com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, volta a preocupação sobre a falta de testes.

Para melhorar o rastreamento, França, Reino Unido e outros países lançaram aplicativos para smartphones criados para notificar pessoas que possam ter sido expostas ao vírus – mas preocupações sobre privacidade levaram muitas a evitá-los. E, à medida que o número de focos de Covid aumenta, o trabalho dos que rastreiam contatos de indivíduos infectados fica mais assustador a cada dia.

Ainda assim, se os rastreadores conseguirem atingir cerca de 50% a 80% dos contatos – e se essas pessoas aderirem às regras de quarentena – esses esforços podem ser suficientes para evitar outro lockdown, estimou Annelies Wilder-Smith, professora de doenças infecciosas no Instituto de Saúde Global da Universidade de Heidelberg.

“Somos moral e economicamente obrigados a não desistir”, disse. “Devemos isso aos nossos cidadãos.”

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