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‘Criptoativos musicais’: Royalties Tokens, NFTs e shows no metaverso

16 fev 2022, 20:08 - atualizado em 17 fev 2022, 16:41
Música DJ Freepik. Tokens musicais
O Crypto Times conversou melhor com Fernando Gabriel, CEO e co-fundador da empresa STRM, para entender mais sobre o mercado da música e a migração para a tecnologia de tokens (Imagem: Freepik/master1305)

A diversificação de investimentos no mercado da música, tanto em forma de tokens não fungíveis (NFTs) quanto em shows no metaverso ou royalities, é uma das diversas usabilidades que a tecnologia blockchain e a tokenização oferecem.

O Crypto Times conversou melhor com Fernando Gabriel, CEO e co-fundador da empresa STRM (Stream), para entender mais sobre o mercado da música e essa migração para a tecnologia de tokens. Confira:

1. Quais são as formas de rentabilizar um criptoativo musical?

O mundo inteiro vem explorando o melhor modelo. Aquele que é mais viável gera mais valor. A tokenização de um ativo musical possibilita diversas maneiras de fazer isso.

Existe o token utilitário, que pode permitir o investidor experienciar algo. Por exemplo: ir até o camarim ou ter acesso a uma área restrita e ter alguns benefícios. 

Também tem os tokens que geram recebíveis através dos royalties dos artistas. Nesse caso, a geração de valor pode vir por quatro tipos de linhas de receitas: os shows, o autoral, o fonograma – que são os recebíveis digitais – e a imagem do artista.

2. Quais são as vantagens e desvantagens entre um Token de Royalties e um NFT?

Seja o NFT ou Token fungível, cada um tem suas regras estabelecidas através de um Smart Contract. Essas regras sempre estarão definidas através de um contrato inteligente lastreado no blockchain para garantir transparência e confiança.

A diferença é, basicamente, na influência que o mercado exerce em cada um deles. Um token tradicional tem o mercado secundário que pode gerar especulações e variações no seu valor, e isso pode flutuar em massa.

Já o NFT é um token único. Ele já não segue esse padrão de massa, e tem um valor individual que é definido através das regras que foram estipuladas para ele.

Hoje, todos eles podem ser distribuídos em marketplace e são super acessíveis. Qualquer investidor ou usuário pode comprar e vender através do seu cartão de crédito ou via pix.

As plataformas vêm facilitando muito o acesso a esses tokens porque é sabido que ter uma carteira digital, hoje, ainda é uma prática pouco utilizada. Ainda não é tão prático a ponto de poder utilizar, por exemplo, no supermercado.

Nós entendemos que isso [popularização do uso de carteiras digitais] é uma tendência, e, no momento que isso acontecer, a utilização e a usabilidade dos tokens vão se tornar muito práticas e reais para o dia a dia de qualquer investidor.

3. Acredita que, futuramente, a tokenização vai predominar como forma de investimento nesse setor?

Nós acreditamos que os modelos devem coexistir.

Acho que eles não são excludentes, porque isso depende muito do momento de carreira de um artista e do tipo de negociação que existe, seja com uma gravadora ou com a negociação de um token.

Hoje, as principais diferenças entre um acordo com uma gravadora de financiamento para geração de receita de funding e uma venda de um NFT seriam basicamente as regras.

Na gravadora, as regras são definidas por ela. Resulta em menos autonomia, o artista provavelmente vai ficar com os direitos do seu fonograma presos e é seguido um padrão definido pela gravadora.

Entretanto, nos serviços prestados pelas gravadoras existe a conexão de mercado, o “networking”, o relacionamento e a experiência que isso tudo gera dependendo do seu momento de carreira. Isso pode ser extremamente importante.

Por outro lado, com os NFTs, é o artista quem cria as regras para gerar funding. Existe mais liberdade para definir o modelo de negócio em cima daquela geração de financiamento ou de adiantamentos.

E você faz isso de uma forma descentralizada sem um intermediário [gravadora], é possível negociar esses NFTs direto com pessoas físicas, inclusive com pessoas jurídicas, de uma forma descentralizada e distribuída.

Porém, diferente da gravadora, o artista não teria a estruturação de uma equipe, o relacionamento com network de mercado, abertura de conexões e nem visibilidade de marketing. 

Nesse ponto, vai depender muito do momento de carreira de cada artista e o que ele espera ter como resultado.

4. Fazer shows no Metaverso trazem visibilidade aos novos artistas?

Fazer shows no metaverso com certeza é uma forma de receita e disposição, visibilidade e promoção. Entretanto, a gente acredita que existe ainda um processo de maturidade e evolução. Não funciona para todos os artistas.

Já aconteceram alguns testes de shows dentro do metaverso que não foram tão bem-sucedidos como o show do David Guetta (também no metaverso).

Todavia, o show do David Guetta, por exemplo, também foi compartilhado nas suas redes sociais. Então, não se sabe exatamente se todo o fluxo de visualização veio do metaverso.

Mas é possível comparar essa tendência com, por exemplo, o show do “Marshmallow”, que foi realizado no jogo Fortnite. Foram mais de 10 milhões de visualizações.

Comparando uma plataforma de games com o metaverso, acredito que ambas têm um potencial enorme. Entretanto, o metaverso ainda está em um momento mais embrionário, e ainda não tem a mesma repercussão ou impacto.

5. Quanto custa fazer um show no metaverso? É viável para artistas independentes?

Hoje, a maioria dos shows é gravada. Existem algumas modalidades de apresentações, desde o artista fazer uma gravação em chroma key até utilizar a gravação original, simplesmente colocando algumas interações de voz, simulando um show ao vivo e construindo digitalmente alguns avatares.

Os custos hoje dependem muito do tipo de ação que você vai fazer, mas ainda não é tão viável que um artista independente, em estágio inicial de carreira, tenha uma estrutura individual para realizar isso.

Acredito que esse tipo de visibilidade também vem com estágios de carreira mais avançados, que têm mais repercussão. Até pelo momento da plataforma que precisa que os artistas tragam novos usuários, e exponham mais a marca.

6. Como investir em criptoativos relacionados ao mercado da música?

Hoje em dia, um investidor pode acessar as plataformas que já existem no mercado, e que já fazem esse tipo de comercialização, como Open Sea, Phonogram.me e, agora, Artify, DIVI Hub, entre outras.

Algumas fazem uso de tokens e de NFTs e outras funcionam como crowdfunding: “envelopados” em tokens, mas usando uma regulamentação da CVM permitida para tal.

7. Qual a rentabilidade desse tipo de investimento?

Vai variar muito de token para token. A música possui um fator intangível. A partir do momento que você adquire um token que te permite usufruir do investimento ao longo do caminho – por exemplo, ter acesso a uma área exclusiva – traz um fator inteligível de remuneração ou de recompensa que não dá para estimar.

Mas, se a gente for trazer ao pé da letra em relação a investimentos… A gente vive em um país que tem uma instabilidade política e econômica muito grande, que trouxe nossa taxa de juros, a Selic, para os dois dígitos, próximo de 11% ao ano.

Qualquer tipo de investimento hoje que pode ser considerado um bom tem que bater qualquer tipo de rentabilidade fixa do Tesouro, de CDI e Selic.

Pensando nisso, nós da STRM trabalhamos com ativos musicais com projeções de rentabilidade de 2 a 2,2% ao mês.

É o que pode ser levado como uma referência quando a gente avalia um ativo musical – e esse ativo que eu estou falando é o ativo digital.

Toda vez que uma pessoa clica no Spotify, Deezer, YouTube ou na sua plataforma de áudio favorita, ele gera uma remuneração para o artista, o dono daquele fonograma.

Em volume, essa remuneração é bem representativa, e o mercado adianta esses recebíveis ao momento presente.

8. Como analisar o potencial de valorização de um ativo digital?

Nós criamos um algoritmo sobre a ótica de investimento, que é o potencial ponderado pelo risco. Qual é o risco que eu corro e qual é o potencial que eu posso aferir?

O potencial de um artista nada mais é do que a aderência dos produtos que ele lança em plataformas de música de storytelling, que são as redes sociais onde ele constrói a imagem dele e o comportamento geral da audiência.

Expansão, retração e retenção.

Eu não falei talento, qualidade e nem experiência porque, pelo lado de potencial, o que a gente avalia é qual o tamanho da base de fãs deste artista.

Então qual é a aderência que ele tem para o mercado, porque a qualidade é muito particular. O que pode ter boa qualidade para mim, pode não ter para você.

Para nós, música é representatividade e conexão. Quanto maior a base de fãs, maior é o consumo, a demanda, o cachê, o alcance, o estágio de carreira – e maior é o potencial de retorno.

Talento importa, mas isso está atrelado ao risco. Então, a gente tem na nossa equação o risco representado por c², que é o nível de colaboração ao quadrado interna e externa.

O risco interno é o nível de desenvolvimento do próprio artista e da equipe que está ao redor dele, e o externo é o momento em que o mercado em que ele está inserido está de oportunidade e de comportamento, assim como o investimento que tem por trás da carreira dele. Essa é a matriz de risco que a gente avalia.

9. Como a STREAM vem olhando para o mercado de criptoativos e a tecnologia blockchain?

Nós estamos olhando com bastante carinho e atenção, mas, para todos esses movimentos, a gente entende que existe um processo de maturidade no comportamento e de usabilidade do mercado como um todo.

É preciso vencer algumas barreiras de entrada para que o setor de ativos musicais ganhe mais força e atinja o seu máximo potencial dentro do mercado de criptoativos.

É por essa razão que estamos estudando modelos para viabilizar investimentos de forma descentralizada através de NFTs na indústria da música de forma que seja compatível, benéfico e, de fato, mais viável do que o formato tradicional que já existe hoje no mercado.

Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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