Moedas

Dias turbulentos do real sugerem trajetória difícil após perdas

11 jan 2021, 13:18 - atualizado em 11 jan 2021, 13:18
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Os otimistas em Brasil estão alimentando a volatilidade no real (Imagem: Diana Cheng/Money Times)

Operadores de câmbio estão enfrentando um início de ano difícil.

A moeda brasileira cumpre com sua reputação como a mais volátil do mundo, mudando o curso no meio do caminho em todas as sessões em 2021 até agora.

As guinadas abruptas podem dar uma dica do que os investidores podem esperar no futuro. Enquanto analistas preveem que o real vai se valorizar cerca de 4% a 5% contra o dólar em 2021, quebrando uma sequência de quatro anos de perdas, eles dizem que a jornada será acidentada à medida que as incertezas fiscais e políticas deixam a moeda mais sensível aos fatores globais do que seus pares.

Os otimistas em Brasil estão alimentando a volatilidade no real

“Não esperamos que essa tendência seja um movimento constante”, disse Luis Hurtado, estrategista de câmbio para América Latina no Canadian Imperial Bank of Commerce em Toronto, que tem uma das previsões mais otimistas para o real neste ano, segundo uma pesquisa da Bloomberg.

Hurtado vê o dólar cedendo a R$ 5 no primeiro trimestre e R$ 4,5 no final do ano, dependendo da velocidade das reformas e do desenvolvimento do vírus.

No curto prazo, porém, dólar pode subir a R$ 5,6, disse o estrategista, se o governo estender os pagamentos de ajuda emergencial aos trabalhadores informais, o que prejudicaria os esforços de consolidação fiscal do país.

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Hurtado vê o dólar cedendo a R$ 5 no primeiro trimestre e R$ 4,5 no final do ano, dependendo da velocidade das reformas e do desenvolvimento do vírus (Imagem: Reuters)

O dólar subiu cerca de 40% em termos nominais nos últimos quatro anos, quando o banco central reduziu as taxas de juros de 14,25% no fim de 2016 para 2%, eliminando o que era um dos carry trades mais atraentes do mundo. No ano passado, o dólar se apreciou 22% com o governo distribuindo cerca de US$ 57 bilhões em dinheiro para combater a crise provocada pela pandemia.

A moeda norte-americana tem se valorizado versus o real em todos os anos desde 2011, com uma exceção, passando de cerca de R$ 1,66 no final de 2010 para R$ 5,19 no final de 2020.

O início de 2021 não foi muito diferente. O real tem mostrado desempenho inferior a todas as moedas de mercados emergentes, exceto o rand sul-africano, devido à preocupação com um aumento de casos de vírus em todo o mundo e medo de que o governo brasileiro poderia adotar uma postura fiscal menos austera. Neste ano, o dólar já sobe 5,2%, sendo negociado a cerca de R$ 5,48.

Correndo atrás de pares

Embora o cenário fiscal e político seja complicado, analistas dizem o real tem espaço para alcançar e até superar seus pares em um rally de risco global.

É uma “espécie de argumento da ‘maré alta levanta todos os barcos’”, disse Sacha Tihany, vice-chefe de estratégia para mercados emergentes da TD Securities em Toronto. “Como sabemos, o Brasil tem problemas fiscais muito sérios para enfrentar.”

Tihany foi o analista que mais acertou as projeções para real no segundo trimestre do ano passado, de acordo com um ranking da Bloomberg e vê dólar em R$ 4,75 no final de 2021, supondo que o governo respeite a regra do teto que limita o aumento dos gastos públicos à taxa de inflação.

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Embora o cenário fiscal e político seja complicado, analistas dizem o real tem espaço para alcançar e até superar seus pares em um rally de risco global (Imagem: Agência Brasil/Marcello Casal Jr)

Juan Prada, estrategista de câmbio do Barclays com escritório em Nova York, disse que múltiplos baratos e o posicionamento leve criam as bases para a moeda se fortalecer no início do ano.

Analistas do banco estavam entre os mais precisos para o real em novembro, de acordo com o ranking do Banco Central e projeta o dólar a R$ 5,05 em meados do ano e R$ 5,25 no final do ano, à medida que a preocupação fiscal passa a ocupar o primeiro plano no segundo semestre.

“As métricas de avaliação de longo prazo sugerem que o real está barato”, disse Prada. “Mas há razões para isso.”

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