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Distribuidoras de gás pedem apoio de R$ 3 bilhões ao governo após queda recorde na demanda

16 jun 2020, 16:20 - atualizado em 16 jun 2020, 16:20
Gás
Os financiamentos serão pagos em até cinco anos, com possibilidade de repasse dos custos de amortização às tarifas no futuro (Imagem: REUTERS/Pilar Olivares)

Expectativas de retração recorde na demanda por gás natural no Brasil em 2020 e de maior inadimplência dos consumidores do energético, em meio a impactos da pandemia de coronavírus, levaram representantes da indústria a pedirem ao governo um pacote de auxílio financeiro ao setor.

A operação de apoio pleiteada pelo segmento poderia envolver empréstimos, nos moldes de medidas aprovadas recentemente para apoiar o caixa de distribuidoras de energia, disseram à Reuters dirigentes da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).

A entidade registrou recuo de 25% no consumo total do insumo em abril, quando na comparação ano a ano, enquanto as projeções para o ano completo apontam para queda de 10% ante os níveis de 2019.

“Em abril, desconsiderando as termelétricas, a demanda foi de apenas 27,6 milhões de metros cúbicos/dia, menor volume não térmico registrado desde 2005, quando a associação começou a divulgação desse levantamento”, disse o presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon, em nota.

Ele destacou que o baixo consumo e atrasos dos clientes em pagamentos devido à crise financeira esperada como consequência da Covid-19 poderiam prejudicar outros elos da indústria de gás, uma vez que as distribuidoras recebem os recursos dos consumidores para repasse ao restante da cadeia.

A Abegás estima que em média 83 reais de cada 100 reais pagos em faturas de gás são repassados para pagar supridores, transporte e impostos.

“Nós temos conversado com o Ministério de Minas e Energia. Você tem uma queda de faturamento no setor industrial, comercial. E a gente tem o receio de que isso possa impactar na inadimplência dos consumidores”, explicou o diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, Marcelo Mendonça, em conversa por telefone nesta terça-feira.

“No setor elétrico o governo já observou isso e existe um socorro para o segmento de distribuição de energia. A gente observa que também vai ser necessário algum ajuste em relação ao mercado de gás. Seria algo semelhante, porque o problema é idêntico”, acrescentou.

Os Ministérios de Minas e Energia e da Economia têm costurado a realização de empréstimos de até cerca de 16 bilhões de reais para apoiar o caixa de elétricas devido às consequências da Covid-19 no setor, em operação que deve envolver um grupo de bancos liderado pelo BNDES.

Os financiamentos serão pagos em até cinco anos, com possibilidade de repasse dos custos de amortização às tarifas no futuro.

“Uma solução similar seria bem aceita. Mas no setor de gás natural a ordem de grandeza desse ´auxílio´ é bem inferior. Nossa estimativa é de que essa conta pode chegar a mais ou menos uns 3 bilhões de reais”, apontou Mendonça.

Segundo ele, o tema tem sido alvo de conversas entre representantes do setor e a pasta de Minas e Energia. Procurado, o ministério não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre o pleito da indústria de gás.

A Abegás não detalhou as expectativas quanto à inadimplência e nem quais empresas poderiam precisar mais de apoio de caixa.

A entidade do setor de gás tem como associadas diversas distribuidoras estaduais, incluindo algumas nas quais a Petrobras e a japonesa Mitsui possuem participação por meio da Gaspetro, além de empresas como Comgás (CGAS3), da Cosan (CSAN3), Gasmig, da Cemig (CMIG3), e a espanhola Naturgy, entre outras.

Números de abril

A demanda por gás no setor automotivo foi a com maior retração em abril, de 45% na comparação anual, seguida pela dos ramos de comércio e indústria, com retrações de 42% e 32%, afirmou a Abegás.

No segmento de termelétricas, o uso de gás caiu 10% em abril, enquanto o setor residencial teve avanço de 14%, com os consumidores ficando em casa devido a medidas de isolamento adotadas contra o vírus.

No total, o consumo de gás no Brasil somou 41 milhões de metros cúbicos/dia em abril, primeiro mês totalmente sob efeito de quarentenas, contra 49,5 milhões em março e 54,38 milhões no mesmo mês de 2019, de acordo com os dados da Abegás nesta terça-feira.

No acumulado dos primeiros quatro meses do ano, o consumo médio diário de gás acumula retração de 6%, mostrou a associação.

A Agência Internacional de Energia (IEA) projetou na semana passada que a demanda global por gás deve ter em 2020 a maior queda anual já registrada, de 4%, em meio a impactos do coronavírus e após um inverno não muito frio no Hemisfério Norte.

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