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Dominância global do Brasil em café é admirável, mas traz riscos, dizem tradings

12 maio 2022, 8:49 - atualizado em 12 maio 2022, 8:49
Teddy Esteve disse ainda que a qualidade do café brasileiro tem melhorado, assim como os volumes de grãos premium estão crescentes (Imagem: Pixabay/pixel2013)

Com ganhos de produtividade, a dominância do Brasil no mercado de café deve se ampliar na próxima década, à medida que o país fortalece sua eficiência produtiva, enquanto outras nações enfrentam dificuldades para crescer de forma sustentável até por problemas de mão de obra.

Mas esse domínio brasileiro resulta numa dependência global do produto do país sul-americano que traz riscos, sejam eles climáticos, políticos e econômicos, enquanto uma maior diversificação da oferta mundial de café também fica ameaçada, uma vez que nações produtoras na África ou América Central menos tecnificadas e com produção em menor escala perdem espaço.

Esses foram alguns dos apontamentos feitos pelos principais executivos de três das maiores tradings globais de café, a Volcafe, ECOM Agroindustrial e Neumann Kaffee Gruppe, em seminário internacional de café no Guarujá (SP), no início da noite de quarta-feira.

“A eficiência do Brasil precisa ser celebrada, o país mostrou ao mundo como produzir café de forma eficiente, mas precisamos refletir: há algum risco nisso?”, questionou Trishul Mandana, diretor executivo da Volcafe, para uma plateia formada em boa parte por brasileiros.

Segundo ele, o mundo precisa do Brasil como fornecedor confiável de café. “Não há dúvida sobre isso, é claro que o consumo vai continuar a crescer… Agora, isso é incrível ou assustador?”

Ele lembrou do impacto nos preços globais das duas geadas que atingiram importantes áreas produtoras brasileiras em 2021, e afirmou que eventualmente se fiar muito em apenas uma nação produtora pode trazer riscos políticos e econômicos, como eventuais taxas de exportação ou embargos, citando o caso recente do óleo de palma da Indonésia.

Essa dominância global do Brasil se deve a menores custos de produção, maior escala nas fazendas e investimentos, que permitiram ao país liderar no aumento de produtividade no mundo nos últimos 20 anos, com lavouras de canéforas (conilon/robusta) ganhando em média 1,2% ao ano, enquanto as de arábica registraram alta de 0,5% por ano, destacou o executivo da Volcafe, divisão de café da ED&F Man.

“Em geral, o tamanho das fazendas brasileiras é quatro vezes maior que a média global das propriedades de arábica… e os produtores brasileiros aplicam duas vezes a média do volume de fertilizantes aplicado por produtores das dez maiores nações produtoras de arábica”, disse Mandana.

Nessa situação, o Brasil será fornecedor-chave para atender o crescimento da demanda global na próxima década, ressaltou o executivo. O país deverá responder por 69% do crescimento da produção mundial de arábica e 79% do aumento da safra de robusta, podendo superar o Vietnã como maior produtor desta variedade também, disse Mandana.

O crescimento da produção global de arábica –variedade que responde pela maior parte da safra do Brasil– deverá atingir 17 milhões de sacas nos próximos dez anos, enquanto o de robusta, 12 milhões de sacas, segundo perspectiva da Volcafe.

Nesse ponto, destacou o executivo, o mundo que tem buscado diversidade no café –com torrefadoras “vendendo” também histórias relacionadas às lavouras em várias partes do planeta– também precisa se preocupar, embora a produção brasileira, em um país continental, também tenha elementos diversos.

Vantagem tremenda

Para o chefe da divisão de café da ECOM Agroindustrial, Teddy Esteve, a vantagem do Brasil é “tremenda” em relação a países como México e da América Central, especialmente pelos custos trabalhistas –no Brasil, uma parte importante da colheita é feita de forma mecanizada ou semi-mecanizada, enquanto trabalhadores hondurenhos, por exemplo, são atraídos por melhores salários nos Estados Unidos, na comparação com o que ganhariam em lavouras de café.

Ele disse ainda que a qualidade do café brasileiro tem melhorado, assim como os volumes de grãos premium estão crescentes.

“Mas nunca esqueço que produzir café é como ter uma fábrica sem teto, quanto mais o Brasil fica grande, mais volatilidade haverá no mercado, porque mais e mais o mundo vai confiar no Brasil”, disse ele, lembrando dos riscos.

Para o CEO da Neumann Kaffee Gruppe, David Neumann, as perspectiva futuras no café brasileiro são positivas, mas algumas preocupações de sustentabilidade e diversidade de origem precisam ser atendidas.

Ele chamou a atenção para a necessidade de ações contra mudanças climáticas, que também impactam a produção, assim como medidas para mitigar emissões de carbono da atividade, e destacou que o Brasil também deveria liderar uma mudança global relacionada a tais temas.

Ele afirmou estar preocupado com a oferta e diversidade da produção cafeeira global, se tais preocupações não forem atendidas, e ressaltou que é preciso compartilhar mais valor na cadeia produtiva.

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