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É dado como certo que muitas usinas precisarão moer já em março em cenário incerto quanto ao mix

17 jan 2023, 14:12 - atualizado em 17 jan 2023, 14:12
Cana-de-açúcar Commodities Agricultura
Cana sobrando em ponto de corte para safra 23/24 mais adiantada (Imagem: Agência Brasil/Elsa Fiuza)

A abertura da safra 23/24 da bioenergia do Centro-Sul está com dias contados para ser em março e, mais que planejamento, é quase necessidade mesmo. O problema que envolve as usinas não é esse, pelo excesso de cana. O que fazer com o mix – e qual mix – com as dúvidas sobre o etanol e, por tabela, sobre o açúcar.

Começa a processar antes boa parte dos maiores grupos, conforme o mercado projeta, tendo que aguardar para acionamento da ‘chave’ industrial na virada de fevereiro para março, quando deverá se saber oficialmente se o PIS/Cofins e Cide sobre os combustíveis voltam a ser cobrados ou seguem desonerados.

“Vamos ver as condições de mercado em março em relação aos preços do etanol, que também é um motivador importante [de safra]”, diz Alexandre Figliolino, consultor da MB Agro.

A gasolina tem maior competitividade que o etanol hidratado sem impostos. E mais migração das indústrias para o açúcar não motiva preços em Nova York, pela oferta maior.

Desconsidera-se versões da Índia de que poderá produzir 4% menos adoçante na safra que caminha para o fim, em comunicado do governo publicado nesta terça, atribuindo às falhas nas chuvas entre outubro e novembro, informação que Maurício Muruci, da Safras & Mercado, contesta.

Para o lado que forem, fato é que Figliolino, mais análise da Datagro feita ao Money Times, além de expectativa demonstrada em nota pela Unica, apontam para muitas operações marcando o ritmo já a partir da primeira semana de março.

Ricardo Pinto, da RPA Consultoria, é o que está mais reticente quanto a uma antecipação mais generalizada da safra. “Isso [moagem antes de abril] acontece de forma generalizada somente quando as usinas percebem que terão mais cana do que sua capacidade de moagem no período normal”. Não será o caso, complementa ele.

Cana ‘velha’ e ‘nova’

Em linhas gerais, para as demais fontes, se dá como definitiva a sobra da cana em 2022, com as chuvas atrapalhando a moagem em vários momentos até final de novembro. A própria Unica registrou várias usinas ainda trabalhando na segunda quinzena de dezembro, o que só raramente acontece nessas mesmas ocasiões.

A Datagro, por exemplo, informa que, “vale recordar, que a região Centro-Sul passou a receber volumes normais de chuva desde outubro de 2021, favorecendo, sobretudo, os canaviais a ser colhidos a partir da segunda metade da safra 22/23”.

Janeiro e fevereiro tendem a permanecer chuvosos, a cana de início de safra está em bom desenvolvimento, e já há muitas reclamações de produtores que estão vendo os custos aumentarem. Gastam mais com controle de fungos e manejo contra o mato competição.

Se essas plantas – a cana ‘velha’ (chamada de bisada) e a ‘nova’ – passarem do tempo, também tem potencial produtivo ameaçado.

Com alguma normalização da precipitação esperada para março, Alexandre Figliolino, ex-diretor do Itaú BBA e frequentador de conselhos de vários grupos, vê boas condições para as indústrias rodarem as esteiras e as moendas.

Março mata o 1º trimestre

A consultoria Datagro vai mais longe na análise, embora não tenha um número claro do total de usinas que anteciparão abril: “Caso as condições climáticas permitam, as usinas ainda poderão moer um pouco mais de 10 milhões de toneladas durante o primeiro trimestre de 2023, das quais 9 a 9,5 milhões de toneladas apenas em março”.

Caso o cenário se concretize, vale lembrar que o que será moído em março acabará entrando nas estatísticas oficiais da safra 22/23, pois a partir do conceito estabelecido no Centro-Sul o ano-safra vai de abril a abril.

O Pecege, centro de estudos setoriais de Piracicaba, acredita em ciclo de 576,7 milhões de toneladas, alta que seria de mais de 5% sobre a temporada oficial, portanto, ainda vigente. Para a Unica, no acumulado de janeiro a dezembro, o processamento somou 541,5 milhões/t, mais 3,63% que nos 12 meses de 2021.

Na prática, não quer dizer nada para qual estatística irá a parte da cana-de-açúcar de março.

Será mais etanol e mais açúcar saindo, grosso modo, faltando menos de 1,5 mês e meio, e com a régua ainda na mão do presidente Lula, como afirmou um inseguro Fernando Haddad, ministro da Fazenda, quanto ao fim da isenção dos impostos em 28 de fevereiro.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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