Eleições 2020

Eleitores vão às urnas após campanha atípica ofuscada pela pandemia

14 nov 2020, 18:00 - atualizado em 13 nov 2020, 13:03
Urnas Eleições
A eleição de 2020 é uma votação sem precedentes, com a adoção de uma série de medidas por parte da Justiça Eleitoral (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Eleitores nas 5.568 cidades do Brasil vão às urnas no domingo para escolher prefeitos e vereadores em uma disputa eleitoral atípica, ofuscada pela pandemia de Covid-19, com uma campanha mais curta para um pleito adiado em mais de um mês.

Além das propostas dos mais de 19 mil candidatos a prefeito e dos mais de 518 mil a vereador em todo o país, as quase 148 milhões de pessoas aptas a votar terão de levar em conta ao sair de casa no domingo os protocolos sanitários para prevenir a disseminação da Covid-19, doença que já matou mais de 164 mil pessoas no Brasil, como distanciamento, uso de máscara e álcool em gel.

Todo este cenário faz da eleição de 2020 uma votação sem precedentes, com a adoção de uma série de medidas por parte da Justiça Eleitoral, como a ampliação do horário de votação em uma hora e um horário preferencial –das 7h às 10h– para eleitores com mais de 60 anos, que são parte do grupo de risco da Covid-19.

As consequências da peculiaridade envolvendo o pleito também se fazem presentes no jogo político.

“É uma eleição que não pode ser comparada com a de 2018 e provavelmente não poderá ser comparada com a de 2022”, disse à Reuters o cientista político e professor do Insper Carlos Melo.

Como exemplo, ao contrário do pleito que elegeu há dois anos o presidente Jair Bolsonaro e nomes até então desconhecidos para comandar Estados importantes, nesta eleição as pesquisas nas principais cidades do país apontam, até este momento, que o eleitorado não tem buscado um nome de fora da política, preferindo figuras carimbadas e candidatos à reeleição.

“Não é uma eleição para outsiders”, resumiu Melo.

Em São Paulo, o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) lidera as pesquisas, enquanto no Rio de Janeiro, o líder é Eduardo Paes (DEM), que já comandou a cidade. Em Belo Horizonte as pesquisas apontam para uma reeleição já no domingo de Alexandre Kalil (PSD), em Porto Alegre quem está na frente é Manuela D’Ávila (PCdoB), que já disputou a prefeitura e foi candidata a vice-presidente em 2018, e no Recife é o deputado federal João Campos (PSB), filho do falecido ex-governador Eduardo Campos.

Outra característica apontada por Melo, com base nas pesquisas nas maiores cidades, é a ineficiência de padrinhos políticos para impulsionarem candidaturas.

Bolsonaro, cuja rejeição em São Paulo aumentou e aprovação no Rio de Janeiro caiu, de acordo com o Datafolha, declarou apoio ao deputado federal Celso Russomanno (Republicanos), na capital paulista, e à reeleição de Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio. Ambos, a considerar o que apontam as pesquisas, correm sério risco de sequer chegarem ao segundo turno, depois de perderem intenção de voto ao longo da campanha.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no passado foi decisivo nas eleições de Dilma Rousseff à Presidência em 2010 e de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo em 2012, também não tem sido um cabo eleitoral efetivo em 2020.

Jilmar Tatto, candidato petista em São Paulo, tem intenção de voto na casa de um dígito e está longe da disputa pelo segundo turno. No Rio, a deputada Benedita da Silva corre por fora por uma vaga no segundo turno, se houver, mas ocupa a quarta posição, também sem alcançar os dois dígitos.

Na capital pernambucana, Marília Arraes está em segundo e disputa vaga com Mendonça Filho (DEM) e Delegada Patrícia (Podemos). Em Fortaleza. Luizianne Lins está em terceiro e caminha para ficar fora de um segundo turno entre José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (PROS).

“O eleitor não está carregando ninguém por causa do padrinho”, disse Melo.

Menos corpo a corpo

A campanha mais curta beneficia nomes mas conhecidos (Imagem: Divulgação)

A campanha mais curta e as regras de distanciamento social para frear a disseminação do coronavírus, que inibiram parte do tradicional corpo a corpo entre candidatos e eleitores, estão entre as possíveis explicações para a falta de adesão do eleitorado a nomes pouco conhecidos.

O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) aposta em mais uma possível peculiaridade desta eleição: “Acho que terá uma alta abstenção”, disse o deputado à Reuters, apontando que muitos eleitores podem optar por evitar uma eventual exposição ao vírus.

Para ele, a campanha mais curta, além de beneficiar nomes mas conhecidos, também aumenta a influência do poder econômico na eleição, o que avalia como um “desserviço”.

Na campanha de rua, na avaliação do deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), vice-líder de bloco que reúne partidos do centro na Câmara, a preocupação com a Covid-19 parece ser maior nas capitais do que no interior.

“O que vejo como expectador é que a pandemia restringiu bastante a campanha nas capitais, mas nos interiores, as campanhas estão ocorrendo como se não existisse pandemia”, relatou.

O segundo turno, nas cidades com mais de 200 mil eleitores nas quais o mais votado no domingo não conseguir mais que 50% dos votos válidos, será realizado duas semanas após o pleito de domingo, no dia 29 de novembro.

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