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“Estamos sentados em vários foguetes”, diz diretor da Infracommerce (IFCM3)

06 jun 2022, 13:12 - atualizado em 07 jun 2022, 11:28
Infracommerce
Empresa reconhece as dívidas que preocupam alguns investidores, mas ressalta que são fruto do processo de expansão (Imagem: Divulgação)

A Infracommerce (IFCM3), assim como outras techs , vive o seu pesadelo na Bolsa. A escalada dos juros fez o valor de mercado da empresa derreter. Desde o seu IPO (Oferta Pública de Ações), a ação já despencou 65%.

Como não bastasse isso, alguns ruídos no mercado também penalizaram o papel. Os investidores têm mostrado preocupações com a alta alavancagem da Infracommerce, que elevou as dívidas para dar sequência ao seu plano de fusões e aquisições – foram quatro desde o seu IPO

Com os juros nas alturas, a situação piorou. Segundo o Itaú BBA, o índice de alavancagem da companhia ficou 3,5 vezes acima do covenant (compromisso) de 2,5 vezes, provocando o pagamento antecipado de cerca de R$ 250 milhões em debêntures

“O que tem são as dívidas para pagar o M&A (fusões e aquisições) porque, de fato, fizemos um movimento grande em 2021 para consolidar o mercado. É uma dívida fácil de encaixar e os bancos entendem isso. Estamos conseguindo taxas muito boas”, justifica Fábio Bortolotti, VP de relações com investidores da Infracommerce, em entrevista ao Money Times.

Além disso, a notícia veiculada pelo Valor Econômico de que a companhia demitiu 100 funcionários também preocupou. No entanto, o executivo reafirma que as operações seguem saudáveis e a empresa contratando.

1º trimestre da Infracommerce

No primeiro trimestre, a companhia registrou prejuízo de R$ 60 milhões, mas segundo Bortoloti isso ainda é fruto “da sujeiras” dos M&A. Ele destaca que o Ebitda, que mede o resultado operacional, continua positivo, em R$ 16,6 milhões.

No período, a Infracommerce ganhou 55 novos clientes (sem contar aqueles que vieram com a aquisição da Tevec), com um crescimento de 40% na receita da base orgânica. 

Veja a seguir os principais trechos da entrevista

Money Times: As dívidas da companhia são apontadas por analistas como um ponto de atenção. Os investidores têm motivo para se preocupar?

Fábio Bortoloti: A nossa operação é saudável. Não temos capital de giro. A gente só paga quando recebe. Temos um Ebitda positivo e forte. A operação vai muito bem e está crescendo agora com as fusões e aquisições. Antes de juntar as empresas, já era positivo.

A companhia não precisa de dívida para crescer ou sustentar a operação. Antes do IPO, faturávamos R$ 226 milhões e agora a gente fatura R$ 1 bilhão. A Infracommerce está rentável. O que tem são as dívidas para pagar o M&A porque de fato fizemos um movimento grande em 2021 para consolidar o mercado.

É uma dívida fácil de encaixar e os bancos entendem isso. Estamos conseguindo taxas muito boas. O investidor entende isto: você alavancou a sua empresa para fazer um M&A, eu não posso olhar esse seu Ebitda agora porque não carrega as sinergias. Eu estou entendendo que o seu Ebitda está indo e comporta essa dívida.

Nós seguramos os investimentos para pagar os M&A e uma vez que limpamos isso com o crescimento do negócio a Infracommerce segue tranquilamente.

Óbvio que com a alta dos juros, fica uma despesa financeira cara, mas se olhar a projeção financeira da companhia, eu não vou precisar tomar dívidas para a operação, a não ser para fazer outros M&A. E isso não está no radar.

MT: A notícia de que a empresa teria demitido 100 funcionários tem a ver com controle de gastos?

Fábio Bortolotti: Essa notícia nem estava no nosso radar. Primeiro, pensávamos que as demissões tinham ocorrido em duas semanas. Quando nós fomos ver, tinha sido em um ano. É uma empresa que tem 4 mil funcionários.

Na área de TI, foram zero. No TI, nós internalizamos terceiros e desligamos alguns que estavam contratados para começar novos projetos, naquela ideia de postergar os investimentos. Então, nem foi demissão. Esse termo está errado.

E, por fim, nós contratamos mais de 200 funcionários no período, que também não foi citado, e temos mais de 150 vagas em aberto que estão ativamente em recrutamento. 

As demissões farão parte, estamos fazendo mudanças, como automatização e ganhos de produtividade. Mas estamos contratando do outro lado. Estamos ganhando uma Infracommerce por trimestre em novos clientes.

Precisamos contratar gente para tocar essas contas. Eu não posso sair demitindo.

Infracommerce
“Estamos vendo muitas marcas priorizando esse canal porque vai conseguir segurar o aumento de custos ou não vai precisa repassar a inflação” (Imagem: Reprodução/ Youtube da Infracommerce)

MT: O que estão fazendo para passar por esse momento difícil do mercado de techs?

Fábio Bortolotti: Nós separamos sempre em dois efeitos: um é a parte de inflação e consumo, que para nós é uma oportunidade de crescimento porque atuamos trazendo a marca (os clientes) direto para as pessoas ou para o pequeno varejista lá na ponta.

E esse canal é sempre mais rentável porque tem menos intermediários. Estamos vendo muitas marcas priorizando esse canal porque vai conseguir segurar o aumento de custos ou não vai precisa repassar a inflação.

Clientes estão sofrendo no macroeconômico, mas investindo no canal de consumo, jogando os recursos de marketing.

Para o nosso negócio, é uma oportunidade. E nós seguramos a inflação nos custos, através das grandes sinergias que estamos fazendo. Nossas primeiras rodadas de sinergia foi exatamente renegociação com fornecedores porque triplicamos o volume desde o IPO.

Já a taxa de juros impacta na dívida. Temos títulos atrelados ao CDI, então você tem um aumento da despesa financeira que também é uma coisa que está preocupando as pessoas porque o CDI estava em 2%.

O que impacta muito é o valuation. As empresas de alto crescimento tem valor no futuro. Qualquer mudança na taxa de desconto, cai o valuation

MT: Por que investir na Infracommerce?

Fábio Bortolotti: Lembrando que não estamos abertos para pessoa física não qualificada. Isso só a partir de novembro.

Temos um modelo que está provado, que simplifica a vida do cliente. Antes, ter o site estava bom. Hoje precisa ter mobile, social commerce, app, venda em loja física integrada. É uma complexidade.

Nós sempre fomos uma solução muito boa para quem queria lidar com essa maior complexidade, que só aumenta. Com a consolidação que fizemos, chegamos no segundo valor da companhia que é a escala.

Hoje temos um serviço de mercadoria aqui no Brasil, com volume de R$ 13 bilhões que a gente vai fazer de GMV. As marcas estão cada vez mais percebendo isso.

São tendências que aqui no Brasil estão começando. Por isso, crescemos 40% no orgânico e 167% no total versus 13% da indústria no e-commerce. Nesse modelo no Brasil só tem a gente que faz. Temos o mercado impulsionando a nossa empresa.

Você tem empresas que fazem o pedaços, mas ninguém que faz o todo.

MT: Onde a empresa espera estar daqui 5 anos?

Fábio Bortolotti: Estamos sentados em vários foguetes. Temos o B2B (empresa para empresa), que é uma oportunidade gigante. Não sei quando o mercado vai digitalizar nos próximos cinco anos. Qualquer um desses cenários, temos uma oportunidade gigantesca para crescer.

Temos a América Latina, que está dois, três anos atrás do Brasil. Esperamos que esse mercado seja quase a metade da receita. E lá tem as mesmas dificuldades que o Brasil, como infraestrutura para o e-commerce.

E a dominância desse markeplaces é muito forte. E temos outras grandes áreas que estão começando, como a própria fintech, temos a infradata, que só é a parte de dados, porque todos os clientes precisam de inteligência artificial. A ideia é que sejamos o grande ecossistema da região.

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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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