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Henrique Florentino: A demanda por IPOs está quente?

04 set 2020, 11:16 - atualizado em 28 jun 2021, 12:53
“Duas empresas tiveram suas ofertas canceladas pela falta de interesse dos investidores”, relembra o colunista

Estive me fazendo essa pergunta recentemente… e tive que pensar para obter uma resposta.

No momento em que escrevo esta coluna, há 42 empresas na fila para abrir capital na B3.

Em 2020 já tivemos 12 IPOs: Mitre (MTRE3), Moura Dubeux (MDNE3), Lavvi (LAVV3), Lojas Quero-Quero (LJQQ3), Grupo Soma (SOMA3), Ambipar (AMBP3), Priner (PRNR3), d1000 (DMVF3), Pague Menos (PGMN3), Locaweb (LWSA3), Allpark e Aura Minerals (que embora ainda esteja disponível apenas para investidores qualificados, também captou recursos dentro de nossas fronteiras).

A próxima da fila é a badalada Petz (PETZ3), que explora um segmento de grandes expectativas para os próximos anos, o mercado pet.

Depois tentam a sorte na B3 (B3SA3) as empresas Plano & Plano (PLPL3) e Cury (CURY3), também incorporadoras, com DNA da gigante Cyrela (CYRE3) em sua participação societária.

Caso essas três empresas tenham sucesso na abertura de capital, atingiremos 15 IPOs no ano. Sobrando 39 empresas na fila, podemos concluir que esse mercado está quente? Vamos com calma.

A verdade é que recentemente o mercado deu sinalizações duras para algumas empresas que tentam abrir seu capital.

Duas empresas tiveram suas ofertas canceladas pela falta de interesse dos investidores. A Riva 9, uma subsidiária da Direcional (DIRR3), e a You Inc., ambas incorporadoras, não obtiveram demanda relevante e decidiram cancelar seus IPOs.

A Lavvi (incorporadora) e a Pague Menos (rede de farmácias) tiveram que oferecer descontos de última hora para emplacar suas ofertas.

Ambas precificaram suas ações abaixo do preço mínimo sugerido no prospecto de emissão, com descontos de 13,6% e 16,8%, respectivamente.

Já no caso da Petz as recentes sinalizações apontam que a demanda está muito alta, mostrando a atratividade do negócio e até mesmo a vontade dos investidores de ter uma exposição nesse mercado, que está em franca ascensão.

Petz
No caso da Petz, as recentes sinalizações apontam que a demanda está muito alta (Imagem: Money Times/Gustavo Kahil)

Os IPOs da Ambipar, empresa de serviços ambientais, e da Locaweb, empresa de serviços de internet, também foram quentes, sendo precificados no topo da faixa indicativa dos prospectos.

O que podemos observar é que, sim, o mercado de IPOs está quente, mas principalmente para novos negócios, que exploram mercados diferentes dos que já temos em Bolsa.

Essas empresas atraem maior atenção dos investidores, que buscam diversificar seu portfólio em segmentos diferentes, com baixa correlação com sua carteira de ações atual.

Já para as empresas que são “mais do mesmo”, a coisa tem ficado mais complicada.

Claro que podem ser ótimas empresas, mas o mercado está mais seletivo nesses casos. Por exemplo, no segmento de incorporação, a B3 já conta com 15 empresas com capital aberto, e mais duas tentando a sorte agora no mês de setembro.

Das 42 na fila, 18 são incorporadoras ou ligadas ao setor, com as empresas tentando aproveitar o ciclo de juros baixos para captar recursos.

Das 42 empresas na fila para o IPO, 18 são incorporadoras ou ligadas ao setor (Imagem: REUTERS/Rahel Patrasso)

Podemos chegar a 35 empresas no setor neste ciclo. Como a lei da oferta e da demanda impera, a oferta é gritante. Dessa forma, a tendência é que o preço caia. Por esse motivo, podemos esperar vida dura para as empresas do setor nos próximos IPOs.

O setor de redes de farmácias, que já contava com a Raia Drogasil (RADL3) e a Panvel (PNVL3;PNVL4) na Bolsa, ganhou a companhia da d1000 e da Pague Menos recentemente. O IPO da d1000 saiu no piso da faixa indicativa, e o da Pague Menos, 16,8% abaixo do piso.

Isso reforça que o mercado está pedindo desconto para “figurinha repetida”. Claro que cada empresa tem suas particularidades, mas dentro de um portfólio completo, terminam representando a exposição a um setor, o que reduz a demanda dos investidores, que pedem mais desconto para “sair do sofá”.

Respondendo à pergunta do título de forma definitiva: Sim, o mercado está quente, mas focado nas novidades, negócios diferentes.

O arroz com feijão, mesmo que bem temperado, está sendo preterido no momento. E, por isso mesmo, pode ser que surjam boas oportunidades no “mais do mesmo”.

Analista na Empiricus Research
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e possui MBA em Finanças Corporativas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi analista sênior de investimento em duas instituições financeiras de médio porte.
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e possui MBA em Finanças Corporativas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi analista sênior de investimento em duas instituições financeiras de médio porte.
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