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Henrique Florentino: um turnaround para 2021 – o sexy não me atrai

22 dez 2020, 12:50 - atualizado em 22 dez 2020, 12:50
“A narrativa bem contada, sexy, vale um múltiplo muito superior quando comparada a uma narrativa bonitinha, mas sem sensualidade” diz o colunista.

Nos últimos dez anos, o mercado financeiro mudou bastante. Atualmente, os preços das ações se movem com velocidade e amplitude muito maiores que no passado não tão distante.

O conceito de exponencialidade também está presente nas mudanças. Primeiro, devagar; depois, rápido.

Com o advento das redes sociais, do YouTube, etc., a informação se dissemina de maneira avassaladora (se a qualidade dessa informação é boa ou não, isso é assunto para outra conversa).

Dessa forma, tenho observado que hoje, quase tão importante quanto ter um negócio sólido e de altos retornos sobre o capital investido, é contar bem essa história. O mercado é amplo e, no fim do dia, o dinheiro endereçado para a Bolsa vai ser alocado em alguma ação, então, por que não na sua empresa?

A narrativa bem contada, sexy, vale um múltiplo muito superior quando comparada a uma narrativa bonitinha, mas sem sensualidade. Essa última não está caindo no gosto do investidor nos últimos tempos.

As diretorias de algumas companhias têm se especializado em shows pirotécnicos matemáticos, mostrando diversos números grandiosos, atraentes, mas o bom e velho caixa continua sendo queimado a torto e a direito.

Mas, contando a história direitinho, a empresa emplaca mais um aumento de capital no ano que vem. O investidor vai junto. Colocam lá que os investimentos são para digitalização, “super app”, marketplace e ESG. Falando as palavrinhas mágicas, o preço sobe. E vai que vai. Citando Cazuza, “mentiras sinceras me interessam”.

Os investor’s days de algumas se tornaram uma grande farra do “overpromise”, ou “prometer demais”. É triplicar a geração de caixa para cá, dobrar de tamanho para lá…

Pode até dar certo, mas, geralmente, o overpromise é seguido de “underdelivery” (promete-se de mais, entrega-se de menos).

Esse tipo de pirotecnia não cabe nos casos sem sensualidade, muito menos em turnarounds. Se uma empresa está passando por dificuldades operacionais ou financeiras, ou as duas coisas ao mesmo tempo, não dá para ser sexy, tem que fazer o simples. A narrativa bem contada fica para depois, o importante é estancar a sangria e sobreviver.

Eu sei, empresas com narrativas sexy encantam mais o investidor. Mas e sexy e barato, tem? Olha, é difícil.

Mas tem coisa simples e barata? Sim. Mas não é sexy. Se isso for bom para você, continue comigo.

Ações com preços convidativos geralmente carregam algum (ou alguns) “se” que justifique seu preço atrativo.

Se não houvesse um “se”, o mercado ajustaria isso rapidamente e o preço deixaria de ser sedutor. Nesse “se” residem grandes oportunidades de lucro. A empresa não é sexy, mas você paga barato e “ganha” a possibilidade de o case ficar sexy “de graça”.

Esses são os melhores casos de companhias em turnaround. Paga-se barato pelo que ela é, e leva-se “de graça” o que ela pode vir a ser. Assim, se der tudo certo e a empresa ficar popular, você já ganhou um bom dinheiro com isso.

É assim que vejo o case de Cambuci (CAMB3). Pelo nome, você provavelmente não conhece, mas a companhia é detentora da marca Penalty, famosa por suas bolas, calçados e itens de vestuário. Quem é “boleiro” sabe do que eu estou falando.

Uma empresa pequena (cerca de R$ 250 milhões de valor de mercado), com a maior margem bruta do segmento (44% contra 37,6% na média do setor), sendo negociada a 1,2 vez sua receita (contra 1,9 vez da média de seus pares) e modestas 5 vezes seu Ebitda para 2021, (contra 8,5 vezes da média do segmento).

Como mencionei, não é sexy (ao menos por enquanto), mas é barato e tem possibilidades de crescimento muito interessantes, que levaremos “de graça” comprando aos níveis de preço atuais.

A companhia vislumbra entrada em segmentos como “running”, buscando parceiros para isso. Além disso, ela adentrou recentemente no e-commerce, com a plataforma B2C, e iniciará a venda direta (B2B) digital nos próximos meses.

Hoje, a Cambuci ainda se utiliza de representantes comerciais para efetuar a venda para escolas de futebol e quadras de futebol society, por exemplo. Com a digitalização, os clientes poderão fazer a compra diretamente, agilizando o processo da empresa e melhorando as margens.

Com um turnaround operacional e financeiro em curso desde 2017, a companhia já apresenta bons níveis de rentabilidade operacional e uma estrutura financeira balanceada.

A pandemia atrasou a recuperação, já que causou uma perda relevante de receitas no 2T20, porém já com forte recuperação no 3T20, e temos uma expectativa de um 4T20 já nos níveis de 2019.

Além disso, enxergo a companhia como um potencial alvo de aquisição de empresas maiores em algum momento. Embora não seja esse o cenário-base, afinal o trabalho interno da Cambuci tem sido bem realizado, o setor teve diversas movimentações, como a Centauro adquirindo os direitos da Nike no Brasil, Grendene e Vulcabras negociando as marcas Azaleia e Mizuno entre si, e o grupo Sforza, de Carlos Wizard, adquirindo as marcas Topper e Rainha da Alpargatas.

Dessa forma, enxergo o caso da Cambuci como interessante por possuir uma marca forte, estrutura de capital balanceada, margens robustas para o setor e, por último, mas não menos importante, preço atrativo. A possibilidade de “virar sexy” você leva de graça.

Quer conhecer outros casos nada sexy (tá bom, alguns até têm se tornado), mas com altos potenciais de retorno? Quer fugir do óbvio? Tem uma ótima oportunidade para você assinar minha série aqui na Empiricus: Ações Exponenciais. Nela exploramos exatamente isso: casos não óbvios, em alguma situação especial, que possuem Gatilhos de Exponencialidade, que podem gerar valorizações expressivas.

Se você busca adicionar um pouco mais de pimenta ao seu portfólio para potencializar seus retornos de maneira relevante, essa oportunidade é excelente.

Desejo a todos boas festas e um ótimo 2021.

Abraços,
Henrique

Analista na Empiricus Research
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e possui MBA em Finanças Corporativas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi analista sênior de investimento em duas instituições financeiras de médio porte.
Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e possui MBA em Finanças Corporativas pela Fundação Getúlio Vargas. Foi analista sênior de investimento em duas instituições financeiras de médio porte.
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