Ibovespa: O que explica ‘cavalo de pau’ e marca negativa nunca vista nesse século

O Ibovespa parecia que iria deixar a maré de baixa para trás. O índice iniciou o dia em alta, chegando a subir 0,59%.

Porém, a tarde sucumbiu a pressão vendedora, encerrando em queda de 0,24%, a 118.005 pontos. Neste agosto, o Ibovespa não fechou nenhum dia no positivo e encaminhou seu nono pregão seguido de perdas.

Segundo a plataforma TradeMap, a última vez que o Ibovespa teve nove pregões consecutivos de queda foi no dia 12 de agosto de 1998, pouco antes da crise das LTCMs e da Crise da Rússia.

Dessa forma, o índice acumula queda de 3,29% no mês. Na semana, caiu 1,32%.

De acordo com Victor Martins Penna, analista sênior da Planner, os investidores, principalmente os gringos, estão fazendo uma realocação de portfólio, com a venda de papéis que subiram para compra de ações que possuem maior potencial de alta.

Já Lucas de Caumont, estrategista de investimentos da Matriz Capital, diz que as bolsas internacionais iniciaram um período de correção, aliado ao fraco desempenho do minério de ferro para o setor de siderurgia e mineração.

Empolgação com IPCA durou pouco

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, subiu 0,12% em julho, acelerando-se em relação à baixa de 0,08% apurada em junho. O resultado veio acima da mediana projetada pelo mercado, que aguardava 0,07%.

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Mesmo assim, destaca Penna, a inflação do núcleo composto por serviços mostrou desaceleração. “Em um primeiro momento tivemos um IPCA favorável, com analistas alimentando a esperança de uma queda de 0,75 pontos percentuais da taxa básica de juros (Selic)”, discorre.

Porém, dados de preços ao produtor dos Estados Unidos vieram mais fortes do que o esperado e espantaram parte de investidores.

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Gringos estão indo embora? China pesa

Eduardo Firmo, assessor na iHUB Investimentos, diz que a saída de gringos também tem pesado para o Ibovespa.

“Tivemos uma saída de quase R$ 6 bi até o atual momento, após o início do mês. No próprio dia do Copom, tivemos uma saída de 1.017 bi de reais da bolsa”, destaca.

Enquanto isso, os dados da China pressionam ações como o da Vale (VALE3), que fechou em queda.

“China vem vindo numa grande desaceleração econômica, com dados do PIB, do IPCA deles vindo muito abaixo da média”, explica Firmo. Mesmo com a alta do minério de ferro, os indicadores chineses pesaram mais.

Leonardo Santana, analista da Top Gain, lembra ainda que a taxa de juros curta caiu, mas a longa teve um pequeno estresse, “uma vez que o PAC pode gerar um pequeno estresse no arcabouço fiscal”.

O presidente Luis Inácio Lula da Silva anunciou mais cedo o Novo Plano de Aceleração do Crescimento, batizado de Novo PAC. Segundo o governo, o programa receberá R$ 1,7 trilhão em investimentos em quatro anos, sendo que nesse valor são considerados recursos da União, de estatais e do setor privado.

Resultados

Junto com esses fatores, a safra de resultados segue gerando impactos para os papéis, coloca Caumont, da Matriz Capital.

“Entre os destaques positivos, temos Sabesp (SBSP3), que sobe hoje após apresentar balanço que agradou mercado. A empresa registrou alta de mais de R$ 1,8 bi em mercado e lucro anual saltou mais de 76,1% no segundo trimestre”, diz.

Outro destaque é Via (VIIA3), que subiu bem hoje após a queda do papel frente ao resultado negativo que foi apresentado. “Enxergo o dia de hoje os investidores apresentando um grande apetite pela companhia após a diretoria mostrar a possibilidade de uma reestruturação na empresa”, completa.

“Entre os destaques negativos, temos Rumo (RAIL3), que apresentou um resultado neutro que não surpreendeu os investidores e está relativamente cara. Após anunciar a redução de metas, os investidores apresentaram um descontentamento com a companhia. Locaweb (LWSA3) também ficou no negativo após apresentar balanço ruim e prejuízo líquido de R$ 38,8 milhões”, pontua.